terça-feira, 31 de julho de 2007

Coerência

Coerência talvez seja o maior de nossos desafios, é interessante como nos flagramos constantemente desmentindo coisas que falamos, acreditamos e fazemos.
Bom, isso se realmente nos preocupamos em sermos coerentes, o que nos permite ver com um olhar todo próprio e sermos testemunha da incoerência alheia.
Se tem algo que me constrange é ser pego numa incoerência, daquelas que não dão nem chance de defesa, por conseqüência, ser vítima da incoerência dos outros é das situações mais terríveis.
Quantas vezes você acompanhou idéias, pensamentos, atitudes fluírem de um extremo a outro como se fosse algo natural? As pessoas agem assim como se fidelidade de idéias e conceitos fossem desnecessários.
No entanto, existe outra variável, a tal idéia que teimamos em defender, apesar de todos os elementos contrários, com a desculpa de sermos coerentes.
Pois é, como tudo na vida é uma faca de dois legumes.
Uns brincam com as idéias e atitudes conforme a conveniência de momento, outros se prendem a idéias teimosamente independe dos fatores externos que a modificam.
Dizem que se o mundo fosse perfeito seria muito sem graça, é verdade, mas precisamos exagerar nas loucuras?
Ser coerente, desde que flexível, é necessário, suponho, para a confiança, para firmar amizades e relacionamentos, para orientar, guiar, manter, seduzir, encantar, servir de apoio, etc...
Porto seguro não é algo que indica constância? Constância não se assemelha a coerência?
Você viajaria de carona com alguém sujeito a mudanças repentinas de humor ou de decisão?
Seria capaz de manter longas e prazerosas discussões com alguém que em quinze minutos te desnorteia com idéias contraditórias?
Amaria alguém que é capaz de gestos espetaculares de amor (marketing) mas que não te dá amor aos bocadinhos?
Estamos órfãos de coerência, alguém nos ajude a localizar a mina desse tesouro, precisamos recuperar nossa sanidade e com ela nossa coerência.
Eu já falei aqui sobre confiança, só se confia naquilo que se conhece, que é estável, que até se consegue prever, em resumo, naquilo que é coerente.
Não é a resposta a todos os problemas mas serve de guia, vamos agendar um dia na semana para sermos coerentes, vamos nos esforçar para não cair na tentação de agradar A ou B modificando, mesmo que levemente, alguma convicção.
Vamos falar o que pensamos, com elegância, sem medo das eventuais críticas ou análises.
Vamos ser autênticos, de fábrica, sem retoques ou photoshop, vamos valorizar o que sentimos e não o que os outros querem que sintamos.
Ta bom, estou pedindo demais, estou dificultando, então que tal só algumas horas?
É, talvez a coerência não seja esse tesouro todo, talvez não valha a pena ser coerentes, opsss, acho que estou sendo incoerente...

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Solidão e Diagnósticos...

Solidão: [Do lat. solitudine.] Substantivo feminino.. Estado do que se encontra ou vive só; isolamento; Situação ou sensação de quem vive isolado numa comunidade.

Transferência:.Psiq. Transferência (1) de um sentimento de um indivíduo para outro, como o que ocorre de um paciente para seu psicanalista, estribado numa identificação inconsciente.

Teimosia: Pertinácia exagerada. [Sin. ger.: teimosice.]

Diagnóstico: Conhecimento ou determinação duma doença pelo(s) sintoma(s), sinal ou sinais e/ou mediante exames diversos (radiológicos, laboratoriais, etc.). O conjunto dos dados em que se baseia essa determinação. [Cf. diagnostico, do v. diagnosticar.]

Sabemos que não existe verdade absoluta, existem verdades pessoais tal qual as roupas que vestimos, caem tão bem na gente mas não produzem o mesmo efeito nos outros.
Mas assim como as roupas, as circunstâncias exigem opções restritas, no inverno, roupa de frio, como você atenderá essa demanda é questão pessoal, se terá sucesso com suas escolhas também, o que é impossível é usar roupa de verão.
É nessa lógica que se esconde a verdade, ou como eu disse antes, os problemas são todos iguais, as diferenças se encontram nas diversas maneiras de se solucionar.
Abrindo o texto temos quatro definições que se cruzam diversas vezes em nossa vida.
Solidão, por exemplo, podemos sentir mesmo cercados de gente, podemos sentir solidão afetiva, de idéia, de ambições, etc...
Mas quero falar da solidão que nasce de uma circunstância especial, a que nasce de nossa teimosia, do diagnóstico errado que fazemos de determinada situação, é a solidão que ganha vida através de nossas idéias ou convicções.
Muitas vezes atravessamos uma fase difícil na vida, que diagnosticamos errado e acabamos transferindo (vide acima) a solução equivocadamente, e por mais que tudo indique o erro, nossa teimosia nos impede de corrigir, e acabamos envoltos nesse doloroso sentimento de solidão.
Quantas vezes você se sentiu sozinho com suas convicções? Você dirá que na maioria das vezes estava certo. É provável. Quanto mais observamos e pensamos, mais chance temos de acertar. Mas eu falo daqueles momentos que até mesmo você duvidou de suas convicções, mas escolheu “persistir”.
Só que persistir com diagnósticos equivocados só aumentam as chances de dar errado, olhando em volta é o que mais vemos.
O casal infeliz do 305 não resultou de diagnóstico errado de um ou dos dois? E aquele seu amigo que era tão leve e doce que se tornou amargurado depois de se envolver numa situação que todos viam ser a errada? E aquela sua prima que investiu tudo numa profissão inconcebível para o perfil dela que hoje anda rabugenta reclamando da vida?
Quantas e quantas pessoas a sua volta são infelizes porque persistiram no diagnóstico errado, transferindo todas as expectativas de felicidade para algo que não cabia a circunstância? Qual o resultado? Solidão.
Ou seja, buscamos a solução mas através de diagnósticos e escolhas erradas acabamos mergulhando mais fundo na causa de nossos problemas.
Por que com roupas nos preocupamos tanto com a opinião e experiência alheia mas quando se trata de nossas vidas nos fechamos dentro de nossas convicções?
Por que nos tornamos incapazes de dar ouvidos aos que nos amam? Por que nos tornamos tão refratários às pessoas quando vivemos as fases mais difíceis de nossas vidas?
Apesar da sensação, não somos ilhas cercadas por pessoas, somos pequenos arquipélagos, existem pessoas a nossa volta que naufragam com a gente, que experimentam os altos e baixos junto com a gente.
São poucos, é verdade, mas é melhor ter alguém que realmente nos queira bem, que nos ame de verdade do que querer abraçar a todos de uma vez. Quando a coisa aperta, quantos ficam? Será que vale a pena viver em função de muitos ou dar valor aos poucos e verdadeiros amigos em sua vida?
Por que somos capazes de agir querendo agradar a muitos, satisfazer a muitos ou sermos aceitos por muitos mesmo que com isso contrarie nossas convicções?
Por que quando mais precisamos ignoramos aqueles que realmente nos amam, as ilhas a nossa volta que formam nosso arquipélago?
Amigos de verdade não te vendem idéias prontas, combinações perfeitas de roupa, amigos de verdade te dirão com sinceridade se sua escolha é certa ou não.
Te apoiarão em toda e qualquer situação, e saberão te dar bronca se preciso for.
Então por que escolher a solidão do diagnóstico errado, da leitura errada dos fatos, da busca pela solução errada?
Afinal, a vida nunca foi uma caminhada solitária, sempre teremos a nosso lado quem amamos, mas a cada escolha, corremos o risco da solidão, de que adianta caminhar ao lado da pessoa errada ou atrás do objetivo errado?
Óbvio que isso não assegura o acerto, mas pelo menos sabemos que foi feito na melhor das intenções, que seja qual for a conseqüência, alguém estará do nosso lado pra ajudar.
É importante sabermos tomar decisão, mas é sábio ouvir, dividir a caminhada de nossas vidas com quem realmente nos ama e nos quer bem.

"A diferença entre o sábio e o esperto é que o esperto consegue sair de situações que o sábio jamais se meteria".

sábado, 28 de julho de 2007

Andrea Doria




Às vezes parecia que, de tanto acreditar


Em tudo que achávamos tão certo,


Teríamos o mundo inteiro e até um pouco mais:


Faríamos floresta do deserto


E diamantes de pedaços de vidro.


Mas percebo agora


Que o teu sorriso


Vem diferente,


Quase parecendo te ferir.


Não queria te ver assim


-Quero a tua força como era antes.


O que tens é só teu


E de nada vale fugir


E não sentir mais nada.


Às vezes parecia que era só improvisar


E o mundo então seria um livro aberto,


Até chegar o dia em que tentamos ter demais,


Vendendo fácil o que não tinha preço.


Eu sei - é tudo sem sentido.


Quero ter alguém com quem conversar,


Alguém que depois não use o que eu disse


Contra mim. Nada mais vai me ferir.


É que eu já me acostumei


Com a estrada errada que eu segui


E com a minha própria lei.


Tenho o que ficou


E tenho sorte até demais,como sei que tens também...

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Belo Sítio

O dono de um pequeno comércio, amigo do grande poeta Olavo Bilac, abordou-o na rua:

- Sr. Bilac, estou precisando vender o meu sítio, que o Senhor tão bem conhece. Poderá redigir o anúncio para o jornal?


Olavo Bilac apanhou o papel e escreveu:


"Vende-se encantadora propriedade, onde cantam os pássaros ao amanhecer no extenso arvoredo, cortada por cristalinas e marejantes águas de um ribeiro. A casa banhada pelo sol nascente oferece a sombra tranqüila das tardes, na varanda".


Meses depois, topa o poeta com o homem e pergunta-lhe se havia vendido o sítio.

- Nem pense mais nisso, disse o homem. Quando li o anúncio é que percebi a maravilha que tinha.


Moral da história: Às vezes não descobrimos as coisas boas que temos conosco e vamos longe atrás da miragem de falsos tesouros.
Valorize o que você tem, a pessoa que está ao seu lado, os amigos que estão perto de você, o emprego que Deus lhe deu, o conhecimento que você adquiriu, a sua saúde, o sorriso, enfim tudo aquilo que nosso Deus nos proporciona diariamente para o nosso crescimento espiritual.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Uniformes.



Eu ouço sempre os mesmos discos
Repenso as mesmas idéias
O mundo é muito simples
Bobagens não me afligem
Você se cansa do meu modelo
Mas juro, eu não tenho culpa
Eu sou mais um no bando
Repito o que eu escuto
E eu não te entendo bem

E quantos uniformes ainda vou usar
E quantas frases feitas vão me explicar
Será que um dia a gente vai se encontrar
Quando os soldados tiram a farda pra brincar

A minha dança, o meu estilo
E pouco mais me importa
Eu limpo as minhas botas
Não sou ninguém sem elas
Você se espanta com o meu cabelo
É que eu saí de outra história
Os heróis na minha blusa
Não são os que você usa
E eu não te entendo bem

Uniformes - Kid Abelha.
Década de 80 - Atual como nunca.

Moral da História.


SAPO N’ÁGUA QUENTE
Dizem que se colocar um sapo na água quente ele pula, mas se colocá-lo numa panela com água fria e ascender o fogo ele morre cozido porque não percebe a mudança de temperatura gradual.
(Para aqueles que não percebem o mundo mudando)

CINCO SAPOS NUM TRONCO
Num troco tinham cinco sapos, um decidiu pular. Quantos ficaram? Cinco. Porque aquele que decidiu, só decidiu, não agiu.
(Para aqueles que só tomam a decisão sem agir)

PASSARINHO COM FRIO
Um cavalo caga sobre um passarinho que estava morrendo de frio na neve.
Todo feliz com o calorzinho, o passarinho começa a cantar chamando atenção de um gato que acaba comendo-o.
Moral da história: Nem todo mundo que joga merda é seu inimigo assim como nem todo mundo que o tira da merda é amigo. Generalizar é pecado.

O PATO FAZ DE TUDO
O pato anda, canta, voa, nada, corre, mergulha, faz de tudo, mas faz tudo mal.
Até o produto, o ovo, dizem ser do pato, é um fracasso nas vendas.
(Para os faz tudo)

BRANCA DE NEVE
Todo mundo acha a Branca de Neve linda de morrer. Lógico, em sua volta só tinham anões e bruxa.
(Para aqueles que se cercam de “gente” pequena para se destacar)

PAPAGAIO PREVIDENTE
Papagaio quando levanta um pé apóia o bico, sempre está com dois apoios.
Pode andar, até voar, mas seja previdente.
(Para aqueles que se arriscam sem a devida precaução)

JACARÉ - DIA A DIA
Um engenheiro recém pós-graduado na Holanda foi contratado, por prazo determinado, para drenar as terras que um empresário comprara no pantanal. Depois de uma viagem cansativa, mas entusiasmadíssimo com seu primeiro trabalho entrou na beirada do pântano para instalar o tradicional teodolito. Quase foi comido por um jacaré.
Perdeu o segundo dia indo à cidade comprar uma arma.
Quanto mais matava mais apareciam jacarés. Desenhou, comprou material e instalou armadilhas e nada de acabar com os jacarés.
E assim por diante. Chegou a montar uma holding com diversas empresas especializadas em matar jacarés.
No prazo determinado o dono aparece e pergunta:
- "Como é que é, já drenou o pantanal?"
- "A drenagem ainda não começou, mas venha ver a “traquitana” que inventei para matar jacarés."
(Para aqueles que perdem tempo com o que é desnecessário)

GALO VELHO
O fazendeiro colocou um galinho novo numa granja onde um galo velho reinava harmoniosamente suas 100 galinhas.
O galinho já chegou gritando e expulsando o velho galo do galinheiro.
Por mais que o galo velho tentasse negociar a divisão das galinhas, até mesmo ficar com uma só num cantinho sem nem cantar pela manhã, o galinho, de peito muito estufado não cedia. O galo velho deveria abandonar o galinheiro virando comida de raposa.
O galinho só cedeu à proposta feita pelo galo velho em mantê-lo no galinheiro se este vencesse uma corrida, de ponta a ponta do galinheiro, podendo partir 10 metros na frente, corrida esta que deveria acontecer na manhã seguinte pontualmente às 10 horas.
No dia seguinte as galinhas, para assistirem, fizeram um corredor em toda extensão do imenso galinheiro. O galinho todo convencido gozava o galo velho que se colocou 10 metros à frente do ponto de partida do galinho.
Às 10 horas foi dada a largada, quando o galinho estava quase alcançando o velho galo ouviu-se um estampido, o galinho caiu baleado e o fazendeiro disse:
- "Já é o terceiro galo novo que compro que, em vez de ajudar o galo velho a cobrir as galinhas, sai correndo para comer o galo. Será que não tem mais galo macho?"
Mais uma vez as galinhas fizeram a maior festa para seu querido galo.
(Para aqueles que costumam esquecer o valor da experiência)

AVESTRUZ
O avestruz engole qualquer coisa sem se preocupar com o amanhã (como vai sair).
Acredita que tudo é verdade, age sem ponderar as conseqüências e se estas acontecerem basta esconder a cabeça.
(Para aqueles que são eternos inocentes)

O PORCO E A GALINHA
É muito fácil explicar o que é “comprometimento” basta contar que no projeto “bacon & eggs” o porco deu a vida enquanto a galinha somente o ovo.
(Para aqueles que acham que se comprometem ao máximo)

PAPAGAIO
O mineirinho esqueceu de comprar uma lembrançinha para dar para o compadre que o convidou para jantar. Agoniado com o costume da região acabou levando seu papagaio e dando de presente ao compadre. Algum tempo depois perguntou ao compadre:
- Então cumpadre, que tar o presentinho?
- Cumpadre, prá sê sincero aquel bichinho tinha muita cunversa, muita pena, mais carni qui é bom, nada.
(Para aqueles que acham que estão agradando)

O CORVO E O COELHO
Um corvo está sentado numa grande árvore o dia inteiro sem fazer nada.
Um pequeno coelho vê o corvo e pergunta:
- Eu posso sentar como você e não fazer nada o dia inteiro?
O corvo responde:
- Claro, porque não?
O coelho então, senta-se no chão embaixo da árvore e relaxa.
De repente uma raposa aparece e come o coelho.

MORAL DA HISTÓRIA
Para ficar sentado sem fazer nada, você deve estar sentado bem no alto.

A GAZELA E O LEÃO
Na África todas as manhãs, a mais lenta das gazelas acorda sabendo que deve conseguir correr mais depressa do que o mais rápido dos leões se quiser se manter viva.
E todas as manhãs o mais lento dos leões acorda sabendo que deve correr mais depressa do que a mais rápida das gazelas, se ele não quiser morrer de fome.

MORAL DA HISTÓRIA
Não faz diferença se você é a gazela ou o leão, quando o sol nascer "comece a correr".

FELPUDINHO RÁPIDO X FELPUDÃO SACANA
O coelhinho felpudo estava fazendo suas necessidades matinais e, quando olha para o lado, vê um enorme urso fazendo o mesmo. O urso se vira para ele e diz:
- Ei, coelhinho, você não se incomoda de ficar com seus pêlos sujos de cocô?
O coelhinho respondeu:
- Não, isso é normal.
Então o urso pegou o coelhinho e limpou o rabo com ele.

MORAL DA HISTÓRIA 1:
“Cuidado com as respostas precipitadas... Pense bem antes de responder”.

No outro dia, o leão, ao passar pelo urso diz:
- Aí, hein, seu urso! Com essa pinta de bravo, fortão, bombado, te vi dando o rabo pro coelhinho ontem!

MORAL DA HISTÓRIA 2:
“Você pode até sacanear alguém... mas lembre-se que sempre existe alguém mais filho da puta que você...”

Medo do EU original.






"Não sou o tipo que dou o braço a torcer ...rss

Mas sempre fui assim

E quanto me sentir a vontade, acho difícil...Sou do tipo calada, introspectiva, gosto de conhecer, mas não gosto que as pessoas me conheçam "de verdade"..É meu jeito..."








Essa frase é de uma amiga, na realidade é uma resposta quando perguntei por que ela era tão defensiva a ponto de se contradizer.
Não vou revelar o nome, devo até um agradecimento por ela ter me permitido utilizar.
Mas a autoria não vem ao caso, por que essa resposta poderia ter sido dada por qualquer um de nós.
Não vou filosofar sobre a frase, é do tipo que a gente lê e relê buscando entender, buscando justificar, não a resposta em sim, mas o porquê de sermos assim, lembrando que a frase poderia ter sido dita por qualquer um de nós.
Que histórico de vida nos conduz até essa resposta? Que experiências, frustrações, alegrias, expectativas?
Nos camuflamos, dificultamos a observação ao mesmo tempo em que queremos ter a vantagem do lugar privilegiado pra observar.
Nos desconcertamos e ficamos inquietos quando sentimos os olhares dirigidos a nós, não olhares de cobiça, admiração mas olhares esquadrinhadores, olhares que podem revelar o que tentamos ocultar.
Mas ocultar o que? Temos mesmo o que ocultar? Falando assim parecemos criminosos com pensamentos perigosos que devemos esconder para evitar chocar a sociedade.
Não descrevo aqui uma sociedade civilizada, descrevo táticas de caça: camuflar, esconder, ludibriar, instigar, induzir ao erro, adotar posição privilegiada para observação, acompanhar sem ser visto, espreitar...
Mais um tempo e os relacionamentos estarão em documentários do National Geographic não mais na GNT.
Ninguém que se expor mais ao risco da reprovação, todos queremos aprovação com louvor, antigamente lidávamos tão bem com tudo isso, hoje, nos sentimos policiados.
Outro dia eu li uma matéria que falava do remake na música, que nos últimos anos o percentual de regravação já superava o de novas gravações.
Algum tempo atrás se discutia por que não existem mais intelectuais no Brasil. Resposta mais comum: por que todos querem aplausos, aprovação, ninguém quer mais correr o risco de polemizar, ninguém quer dar opiniões que sejam sujeitas a retaliação, desaprovação ou discussão.
Não se respeita mais a opinião alheia, se você pensa diferente e está em minoria, corre o risco de ser massacrado ou sacrificado num belo ritual das sociedades modernas: ridicularização, piadinhas, apelidos.
E o Orkut então, altar supremo da falta de elegância, da incapacidade que estamos desenvolvendo de lidar com o diferente, o oposto.
Até a imprensa anda chapa branca, se depender das notícias vivemos num paraíso. Alguns argumentarão que só se ouve falar em corrupção. Sim, é verdade, mas você já viu alguém se aprofundar? Quanta coisa já foi esquecida? Já viu alguma indignação a cada novo escândalo? Se fala do novo escândalo como se falassem do capítulo da novela. No Japão corrupto se mata, aqui ganha tapinha nas costas.
Nos esportes se tornou impossível confraternização de adversários, as velhas brincadeiras e provocações sem consequências. Hoje, não temos adversários, temos rivais.
Muitos matam alguém só por que usa a camisa do time adversário. Se você elogia um jogador do outro time, pronto, você é um traidor da pátria, um infiel.
Pensar é algo condenável hoje, é mais útil parecer algo do que ser.
Porque nos tornamos tão extremados assim? O que aconteceu que de repente a agradabilidade de uma conversa deu lugar a tensão de uma discussão? Onde ficou o EU original que deu lugar ao eu aceito socialmente? Onde foi que me distrai que de repente já tinham mudado as regras?
Nos tornamos intolerantes com as diferenças, agora é cota para isso, cota para aquilo, até por lei querem determinar as diferenças e os privilégios decorrentes delas.
Ao invés de estimular o convívio, se estimula o isolamento ou agrupamento por critérios específicos.
E cada vez mais a frase lá de cima começa a fazer sentido.
Me diz, qual foi a última música romântica lançada, aquela que a gente chamava de mela cueca nos anos 80? Aquela música que te impulsiona a dançar coladinho, de olho fechado, sentindo o coração do parceiro?
Pois é, até o romantismo se tornou brega.
Mãozinha dada, troca de olhares, flores, coração palpitante? Só em música do Roberto Carlos. Tudo por medo da condenação pública ou mesmo do outro.
Sexo então é corriqueiro, nudez perdeu o encanto. Nos tornamos máquinas regidas por um livreto de convivência, nada mais daquelas coisas complexas de antigamente.
Se tentar ser um pouco mais rigoroso, está fazendo charme...
Educar filhos? Para que se tem televisão, vídeo game e internet?
É inteligente demais, fala de maneira elaborada? Credo, que coisa complicada. Melhor falar gíria, internetês, se comunicar por ruídos e gestos estranhos.
Eita mundinho que vai se reduzindo, logo não teremos espaço nem para nossos pés.
Quem sabe eu ceda à tentação de parecer comum pra sobreviver, quem sabe eu deixe de me cobrar tanto, quem sabe eu me torne banal pra ser aceito, quem sabe eu não ceda à tentação de usar a última camuflagem da moda, quem sabe eu morra para poder viver.
Será mesmo que eu preciso ceder?

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Perguntas e Respostas.

"Quando pensamos saber todas as respostas, vem o mundo e muda todas as perguntas."

Fico me perguntando por que dificultamos tanto a vida. Por que precisamos de respostas grandiosas aos nossos problemas e dilemas. Por que em tudo não aceitamos o óbvio, precisamos de respostas maginificientes.
Muitas vezes vivemos atormentados por perguntas e a muito custo encontramos as respostas, é o primeiro passo da solução, mas ao invés de nos dedicarmos a solução, continuamos colocando em dúvida o que encontramos só por que não tinha a dimensão que esperávamos.
Encontrar respostas é a parte mais fácil do problema, lidar e resolver os problemas é a mais difícil. O simples fato de ter as respostas não quer dizer que já conseguimos dar solução.
Mas é a partir das respostas que empreendemos a busca de soluções, mas se ficarmos ainda tentando encontrar respostas mais “adequadas”, adiaremos as soluções.
Porque não aceitar que a resposta mais simples é a correta? Porque em nossa vaidade precisamos de algo mais elaborado? Será que assim justificamos nossa banalidade? Respostas simples mostra como somos banais e simples?
Mas somos simples, somos humanos, somos imperfeitos. É através dos erros que amadurecemos, alcançamos o sucesso.
Dê-me um único exemplo de alguém que atingiu o sucesso sem errar. Todos os casos de sucesso são de pessoas que erraram e tiveram a virtude de aprender a lidar com os erros. Sucesso se baseia na nossa capacidade de lidar com os erros não com os acertos. Enquanto uns dobram o joelho, outros encontram motivação pra melhorar.

Crise no diagrama chinês, significa perigo mas, também significa oportunidade.

É a tal arte de transformar, é se sentir pequeno com as respostas encontradas e buscar respostas que nos tornem maiores, como se nossos problemas só pudessem se justificar por uma combinação mirabolante de circunstâncias.
Não conseguimos lidar bem com nossa humanidade, nossa fragilidade, nossa imaturidade, sempre precisamos ter justificativas que nem Freud desvendaria.
Por que somos tão injustos conosco tentando nos comparar a exemplos distantes? Por vezes somos estagiários na vida e queremos nos comparar aos Seniores, nos esquecemos que os Seniores também um dia foram estagiários e, apesar do que já alcançaram, ainda são sujeitos à falhas, a frio na barriga, ao medo, ao fracasso.
A grande virtude da maturidade não é nos tornarmos uma máquina de sucesso, é aprendermos a lidar com o fracasso.
Outro dia eu ouvi uma história de uma adolescente que fazia teatro, um curso popular de teatro, pessoas de todos os tipos, estudantes, donas de casas, etc.
Naquele dia em especial, caberia a cada aluno uma demonstração individual, a menina mais nova se escondeu do grupo e chorava, quando foi amparada por uma das senhoras mais velhas.
A menina ainda soluçando explicou que tinha medo de errar, que sentia um frio na barriga e temia fazer tudo errado quando a mais velha lhe diz que ela também sentia a mesma coisa.
Diante do olhar estupefato da menina, ela explicou que na idade dela o medo ainda existia, os mesmos medos da menina, só que ela colocava um sorriso no rosto e não deixava ninguém perceber, aceitando o risco da falha fazia assim mesmo, afinal, errar é humano e ela estava ali para aprender.
Somos humanos, palavra que lembra nossa fragilidade, quantas vezes você usou essa palavra para se referir a alguém que chorava, que era incapaz de esconder seus sentimentos, de conter as lágrimas, que não tinha vergonha dos gestos de carinho?
Aceitar nossa humanidade é tão difícil e perdemos um tempo enorme tentando respostas só cabível aos deuses ao invés de dar solução.
Nessa equação, encontrar respostas é a parte mais fácil, solucionar o problema que é difícil, leva tempo.
Se você tem a resposta, por mais banal e humilhante que seja, aceite, siga em frente na busca de solução, não fique perdendo seu tempo tentando dar um verniz mais elegante a resposta por que não há.
Numa postagem eu disse que os problemas são sempre os mesmos, as diferenças estão nas soluções, pois é, procure sua solução, a que cabe a sua individualidade.
Não estou querendo dizer aqui que solucionar problemas é fácil, digo justamente o contrário, a parte mais difícil está em encontrar forças para resolver nossos problemas, por isso se você já tem a resposta, não perca seu tempo só por que ela parece simples.
Muitos jamais conseguem solução, uns por que vivem perdidos ainda nas respostas, outros por que não encontram força pra resolver.
A vida é nossa, tudo nela resulta de nossas ações e decisões, contamos com amigos, pessoas que nos amam, que estão ao nosso lado independe do que aconteça, mas a hora da decisão é um processo solitário, muitas vezes doloroso, e que define nosso futuro, nossa vida.
Se você já tem a resposta mas ainda está insatisfeito, cuidado, pode estar perdendo um tempo precioso para se livrar do problema.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

O Tolo que era Sábio

Todos os dias o Mullah Nasrudin ia esmolar na feira, e as pessoas adoravam vê-lo fazendo o papel de tolo, com o seguinte truque: mostravam duas moedas, uma valendo dez vezes mais que a outra. Nasrudin sempre escolhia a menor.

A história correu pelo condado. Dia após dia, grupos de homens e mulheres mostravam as duas moedas, e Nasrudin sempre ficava com a menor.

Até que apareceu um senhor generoso, cansado de ver Nasrudin sendo ridicularizado aquela maneira. Chamando-o a um canto da praça, disse:

Sempre que lhe oferecerem duas moedas, escolha a maior. Assim terá mais dinheiro e não será considerado idiota pelos outros.


Nasrudin lhe respondeu:
O senhor parece ter razão, mas se eu escolher a moeda maior, as pessoas vão deixar de me oferecer dinheiro, para provar que sou mais idiota que elas.

O senhor não sabe quanto dinheiro já ganhei, usando este truque.

E cheio de sabedoria acrescentou:
"Não há nada de errado em se passar por tolo, se na verdade o que você está fazendo é inteligente".

Às vezes é de muita sabedoria se passar por tolo e é muito melhor passar por tolo e ser inteligente do que ter inteligência e usa-la fazendo tolices.

"O maior prazer de um homem inteligente é bancar o idiota diante de um idiota que banca o inteligente".

terça-feira, 17 de julho de 2007

O Amor e Cobertores

Definir o amor é mesmo impossível, a humanidade vem tentando a séculos e nem somando tudo que já se disse e escreveu chegaríamos perto de ter sucesso. Tanto é assim que falar sobre o amor sempre provoca discussões, entendimentos diversos.
Talvez por que amor não deva ser discutido e sim sentido.

Eu fiz um comentário sobre a história de uma menina, aqui nesse blog, uma história que copiei, a partir desse comentário surgiram algumas reflexões, por exemplo: o que é o amor certo e o errado?
Primeira constatação, amor é amor, ele sempre é bom, positivo e nos faz bem. Então, porque diferenciar em amor certo e errado?
Eu encontrei em uma simples definição, o amor é como um cobertor, se a gente escolhe o cobertor errado, sempre ficará algo de fora ou coberto demais causando desconforto, insatisfação, amor também é assim, existem vários tipos de amor que cabem a cada relacionamento, pegar um amor e troca-lo de lugar assim como fazemos com um cobertor, pode dar errado.
Muitas vezes por carência, insegurança e até preguiça é o que fazemos, partindo do pressuposto que é amor e isso basta, investimos todas as nossas fichas ali, mas além de injusto conosco é ainda mais com o outro, por que ao conduzirmos assim nossa decisão, afetamos também a expectativa do outro.
Algumas vezes justificamos que o amor ainda vai crescer, ganhar a forma imaginada, que basta dar tempo ao tempo que o amor certo vai surgir, mas logo percebemos que não, que ele continua sendo o amor errado.
Não se força o amor a ser algo que ele não é, todo amor que sofreu transformação seguiu um processo natural, muitas vezes sem que percebêssemos, muitas vezes até contra nossa vontade, amor não cabe em linha de produção, em máquinas de manufatura, numa ponta colocamos o amor errado, na outra ele surge reluzente na forma de amor certo.
O amor é justamente difícil de definir por que segue rumos próprios, naturais, devemos sim respeita-lo, deixa-lo acontecer, aceitarmos e sermos felizes.
Outro modo de amar errado é quando acatamos o que o software cultural e social nos impõe, quando passamos a acreditar que o verdadeiro amor não existe, quando aceitamos como verdade que o amor que temos basta, que não conseguiremos amor maior.
Quando por carência, acomodação ou insegurança aceitamos o que vem ou o que nos induzem a acreditar, deixando de buscar o que realmente nos fará felizes.
Não é possível catalogar o amor, mas é possível vivê-lo de maneira intensa, busca-lo incansavelmente, jamais perdendo as esperanças de encontrá-lo, por mais que tentem nos prender em regras, devemos nos rebelar e aceitar que ele não se dimensiona, não cabe em embalagens.
Não é possível que continuemos escolhendo para nossas vidas cobertores que não nos servem, devemos acreditar que encontraremos o cobertor certo, devemos deixar as coisas acontecerem naturalmente, sem tentar adestrar o amor, acomodá-lo numa definição cabível em nossas vidas, devemos sempre ter a certeza de que cedo ou tarde encontraremos nosso cobertor, que nos protegerá do frio, que nos aquecerá, que nos envolverá e abrigará, com o qual vamos finalmente nos sentir amados(as) e completos(as).

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Acreditar e Agir

Um viajante caminhava pelas margens de um grande lago de águas cristalinas e imaginava uma forma de chegar até o outro lado, onde era seu destino. Suspirou profundamente enquanto tentava fixar o olhar no horizonte. A voz de um homem de cabelos brancos quebrou o silêncio momentâneo, oferecendo-se para transportá-lo. Era um barqueiro.

O pequeno barco envelhecido, no qual a travessia seria realizada, era provido de dois remos de madeira de carvalho. O viajante olhou detidamente e percebeu o que pareciam ser letras em cada remo. Ao colocar os pés empoeirados dentro do barco, observou que eram mesmo duas palavras. Num dos remos estava entalhada a palavra acreditar e no outro agir.

Não podendo conter a curiosidade, perguntou a razão daqueles nomes originais dados aos remos. O barqueiro pegou o remo, no qual estava escrito acreditar, e remou com toda força. O barco, então, começou a dar voltas sem sair do lugar em que estava. Em seguida, pegou o remo em que estava escrito agir e remou com todo vigor. Novamente o barco girou em sentido oposto, sem ir adiante.

Finalmente, o velho barqueiro, segurando os dois remos, movimentou-os ao mesmo tempo e o barco, impulsionado por ambos os lados, navegou através das águas do lago, chegando calmamente à outra margem.

Então o barqueiro disse ao viajante:
- Este barco pode ser chamado de autoconfiança. E a margem é a meta que desejamos atingir.

- Para que o barco da autoconfiança navegue seguro e alcance a meta pretendida, é preciso que utilizemos os dois remos ao mesmo tempo e com a mesma intensidade: agir e acreditar.

E você? Está remando com firmeza para atingir a meta a que se propôs?

E, antes de movimentar o barco, verifique se os remos não estão corroídos pelo ácido do egoísmo.

Depois de tomar todas essas precauções, siga em frente e boa viagem.

domingo, 15 de julho de 2007

O Cocheiro e as Abóboras

Era uma vez um cocheiro que dirigia uma carroça cheia de abóboras.


A cada solavanco da carroça, ele olhava para trás e via que as abóboras estavam todas desarrumadas. Então ele parava, descia e colocava-as novamente no lugar.


Mal reiniciava sua viagem, lá vinha outro solavanco e... tudo se desarrumava de novo.


Então ele começou a ficar desanimado e pensou:


"Jamais vou conseguir terminar minha viagem!


É impossível dirigir nesta estrada de terra, conservando as abóboras arrumadas!".


Quando estava assim pensando, passou à sua frente outra carroça cheia de abóboras, e ele observou que o cocheiro seguia em frente e nem olhava para trás: as abóboras que estavam desarrumadas organizavam-se sozinhas no próximo solavanco.


Foi quando ele compreendeu que, se colocasse a carroça em movimento na direção do local onde queria chegar, os próprios solavancos da carroça fariam com que as abóboras se acomodassem em seus devidos lugares.

Assim também é a nossa vida: quando paramos demais para olhar os problemas, perdemos tempo e nos distanciamos das nossas metas.

sábado, 14 de julho de 2007

Peças do Destino - Por uma Menina...

Estávamos no mês de Julho... minhas provas na faculdade haviam terminado, finalmente férias! Mas, o que vou fazer durante esse período todo? Sair com os amigos? pode ser... mas isso eu faço sempre... Visitar parentes que moram longe de mim? Passar um tempo com eles? pode ser também... mas depois de uns dias, ficará sem graça...


Um dia depois do término das provas, surge mais uma briga com meu namorado... damos um tempo... Penso: "Que droga, de novo... quer saber? Vou viajar, ficar um tempo longe de tudo e todos."Vou à uma agência de viagens e decido ir para o Canadá. Sempre tive vontade de ir para lá, conhecer lugares novos, pessoas, culturas diferentes... e o melhor, sozinha! Eu viajaria no final daquela semana mesmo então não poderia perder tempo, precisava comprar roupas e tudo que seria necessário para a viagem.


O grande dia chegou... que ansiedade! Meu irmão me levou ao aeroporto... fiz o check-in, peguei a minha passagem e um tempo depois, lá estava eu sentada na minha poltrona, dentro do avião...


Chegando ao meu destino, peguei as minhas malas e fui em direção ao grupo do qual eu pertenceria pelas próximas semanas. O grupo era formado de aproximadamente 40 pessoas, dentre elas, casais, tias e sobrinhas, irmãos, amigos e pessoas "largadas no mundo" como eu...


Logo de cara, fizemos um city tour pela cidade onde ficaríamos pelos próximos 3 dias. Mas devido ao cansaço da viagem, a maioria do grupo adormeceu ao som da voz calma de nosso guia local. Algumas horas depois, estávamos na recepção do hotel (onde fomos recebidos muito bem e com cestas de maçãs... as mais vermelhas e apetitosas que eu já vi. Depois viria a descobrir que as cestas eram supridas de maçãs todos os dias pela manhã). Após a distribuição dos quartos e a orientação do guia local com relação aos horários do dia seguinte, peguei a minha chave e fui até o meu quarto. Me acomodei e depois de um belo banho, senti minhas forças revigoradas. Agora, só precisava sair à procura de uma casa de câmbio e uma loja para comprar cartões telefônicos.


No dia seguinte, todos descansados, começamos nosso passeio.


Visitei lugares maravilhosos, conversei com pessoas alegres, divertidas, interessantes, vi paisagens inesquecíveis. No entanto, já havia se passado 5 dias desde a minha chegada e só naquele momento, comecei a reparar que era seguida, era observada por alguém. Só naquele momento percebi um homem com a aparência de ter seus 40 e poucos anos, acompanhado de sua esposa e um casal de filhos adolescentes, que pertencia ao mesmo grupo que eu. Percebi que esse homem estava sempre observando meus passos, meu deslocamento pelo local, as coisas que gostava, que comprava, as roupas que eu vestia, me olhando todas as vezes que eu passava pelo seu assento no ônibus. Mas apesar de tudo isso, não me senti incomodada, estava feliz pela viagem e por estar aproveitando as minhas férias de uma maneira antes não pensada.


Em uma das noites sem programação, estava em meu quarto assistindo aos programas de tv, tentando buscar um bom filme.


Sentada em minha cama, de camisola, me alimentando com uma maçã "roubada" da cesta na recepção. Sobre a cama, algumas frutas jogadas, uma saladinha e um sanduíche natural comprados no mercadinho perto do hotel. Naquela noite não teríamos saídas programadas e eu estava com preguiça de sair para jantar. Havia decidido passar no mercadinho, comprar algumas coisinhas e me trancar no quarto.


Me alimentei, me diverti assistindo a um programa de auditório, me arrumei para dormir. Naquela cama gostosa, me envolvi nas cobertas, abracei um dos travesseiros e me preparei para receber o sono.


De repente, ouço batidas na porta. Penso: "Quem será a essa hora? Será que o volume da TV estava muito alto, a ponto de incomodar o quarto ao lado?". Me levantei devagar e fui em direção a porta. Olhando através do olho mágico, a surpresa: aquele homem com a aparência de 40 e poucos anos, que pertencia ao meu grupo e me olhava tanto, diante da minha porta! Penso novamente: "Meu Deus, o que faz aqui? Será que aconteceu alguma coisa?". Retiro a trava da porta e a abro devagar.


"- Oi..


- Olá... aconteceu alguma coisa? Vc precisa de ajuda?


- Me desculpe por bater em sua porta a essa hora, mas preciso conversar com vc...(cabisbaixo, sem me olhar nos olhos..)


- Conversar comigo? Mas o que aconteceu?


- Preciso te contar algo sério.. será que podemos conversar ai dentro?


- Claro que sim, desculpe... vc quer entrar?


- Sim, por favor."


Aquele homem, viajando com sua família, o que poderia querer comigo?Pedi para que se sentasse sobre a cama... me sentei ao lado dele, olhando o seu rosto baixo... sua expressão preocupada...esperei que começasse a falar...


- Essa viagem não está como eu imaginava que fosse...


- Vc e sua família não estão gostando?


- Na verdade, essa viagem não passa de uma desculpa... meu casamento estava passando por momentos difíceis e pensei que uma viagem melhoraria tudo. Minha esposa e eu estávamos brigando muito e pensei que isso poderia apaziguar os ânimos. Mas não saiu como eu esperava, brigamos hoje novamente.


- Eu sinto muito. Mas não fique assim, todos os casais brigam.


- Desculpe por vir até aqui, mas vc me pareceu uma garota tão centrada, tão correta. Queria desabafar e não sabia o que fazer. A primeira pessoa que me veio à mente foi vc. Desculpe se lhe incomodo (nesse momento, seu rosto se levantou e seus olhos agora estavam direcionados aos meus)


- Eu não sei muito sobre casamentos e relacionamentos sérios, mas posso tentar te ajudar caso se sinta a vontade mesmo em desabafar comigo.


- Obrigada menina. E eu nem sei o seu nome...


- T....... e o seu?


- Roberto.


- Muito prazer, Roberto.


- O prazer é todo meu, T.....


Nessa noite, conversamos mais um pouco, antes dele voltar ao seu quarto.A partir daí, quase todas as noites, ele aparecia em meu quarto para conversarmos.


Em cada hotel que nos hospedávamos,ele arrumava uma maneira de conseguir o número do meu quarto.


Uma noite, estávamos sentados no chão do quarto, vendo televisão, rindo e comendo besteiras. De repente, um silêncio reinou entre nós dois e ouvíamos apenas o som vindo da televisão. Nossos olhos se encontraram, nossos corpos foram ficando mais próximos, nossos rostos já não podiam mais desviar. Nos beijamos... um beijo suave, tímido... olhamos um para o outro... sorrimos... nos beijamos novamente...


Aquele homem, mais velho do que eu, pai de família, estava indo todas as noites em meu quarto para conversarmos, ficarmos... não rolava sexo... apenas carinhos...


Na última noite antes da volta para casa, ele revelou que estava pensando em se separar e que queria muito que continuássemos o nosso relacionamento, que se tornasse algo mais sério, assumir perante todos um namoro ou algo mais. Na hora, fiquei assustada... como poderia concordar com aquilo? Eu não estava certa em me relacionar com um homem casado, ainda mais tão descarado assim (já que a esposa dele tbm estava na viagem) mas não poderia concordar com o fim do casamento. Não seria justo com seus filhos, sua esposa. O casamento poderia ser salvo com conversas, atitudes e eu senti que naquele momento, as minhas atitudes não deixavam que ele tomasse as dele da forma correta. E nesse dia, conversamos mais do que todas as outras noites.


Decidimos que cada um seguiria a sua vida e que guardaria aqueles momentos em um baú de boas lembranças. Concordamos que aprendemos muito um com o outro e que decidimos pelo certo.


No dia seguinte, no aeroporto, troquei endereços de e-mail com o restante do grupo, menos com Roberto. Não tinha o intuito de fornecer contato algum para ele, já que havíamos decidido nos tornar apenas lembranças.Nos despedimos e embarcamos de volta para casa.... cada um seguindo o seu caminho...


Apesar desta história ter finalizado desta forma, fui surpreendida semanas atrás com um e-mail que dizia.


" Querida T......,


Quanto tempo! Será que irá se lembrar de mim?


Desde o momento que nos despedimos, naquela viagem, fiz algo que não pude lhe contar naquele momento. No entanto, agora criei coragem e estou provando o que fiz. Sem o seu consentimento, anotei o seu endereço de e-mail do caderno de uma das pessoas do grupo. Infelizmente, só tive a coragem de enviar o e-mail hoje. Sei que já se passou 1 ano e que muitas coisas aconteceram em nossas vidas. Mas devo lhe dizer que nunca me esqueci de vc e dos momentos que passamos juntos.


Vc é uma pessoa encantadora, alguém que não devemos deixar escapar quando aparece em nossas vidas. E pensando dessa forma, criei coragem para te escrever, na esperança de se lembrar de mim e também querer o meu contato.


Hoje continuo casado, mas meu casamento não melhorou em nada com relação ao que te contei tempos atrás. Em muitos momentos, senti vontade de jogar tudo para o alto e me separar. Mas sempre que pensava assim, me lembrava de nossas conversas, de vc me dizendo para se acalmar e pensar melhor. Sempre pensava em suas palavras e isso me acalmava.


Espero que vc esteja muito bem e que Deus esteja te dando bastante saúde e felicidades.


Tenho a esperança de receber uma resposta sua, nem que seja para me dizer que prefere se manter longe.


Me arrependo de ter te deixado escapar enquanto a tinha em meus braços (rs)


Aguardo sua resposta.


Beijos,


Roberto"


Nesse momento, todos os pensamentos e momentos que antes estavam guardados no baú, agora vem à tona.


Pq será que nossa vida, nosso destino nos pregam tantas peças?



Por uma menina...

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Jovens Flores

Talvez não haja nada mais desolador do que observar a juventude de hoje. Moro numa rua tranqüila e vejo pequenos filmes pornográficos rolando nos muros, com atores menores de idade.
Antes erámos cobrados a aprender seduzir, conquistar e, principalmente, manter.
Tínhamos que ser gentis, educados, cavalheiros, inteligentes, amorosos, apaixonados, amantes, compreensivos, verdadeiros, observadores... Ufa...
Tanta coisa para merecer um olhar ao menos. Hoje, você precisa somente ter marra, fala um linguajar ou dialeto incompreensível e pronto. Abordagens através de ruídos, gestos e quando você se dá conta, beijos de uma intimidade inimaginável, sem contar os locais explorados pelas mãos.
Isso sem contar os casos mais extraordinários que recentemente deram origem aos filhos do baile.
Pois é, encontrar alguém interessante com menos de 25 anda tão difícil. Maturidade não é coisa da idade, vejo gente de quarenta totalmente imatura e despreparada, já vi casos de homens dando em cima de meninas mal saídas da fralda, casados e se dizendo apaixonados com aquele velho papo de que “vivo um casamento infeliz que logo terminarei dedicando todo meu imenso amor a você, mas na minha situação preciso de sexo, você sabe, não consigo viver sem”.
E as idiotinhas caem com olhar embevecido para aquele homem encantador.
Se já é raro encontrar gente madura acima dos trinta, imagina abaixo dos vinte e cinco, num universo onde o conteúdo ficou em segundo plano.
Mas, felizmente, isso ainda ocorre. Conheço pessoas espetaculares, inteligentes, bom papo, agradáveis companhias, pessoas cujas companhias fazem a gente perder a noção de tempo.
Algumas, evidentemente, considerando o universo de onde vem, não tem noção do valor que tem, não tem a real dimensão do seu significado.
É complicado explicar a elas que são especiais, diferenciadas, que cabem sim num universo maior, onde serão reconhecidas, admiradas e felizes.
Tal qual flores que dependem de ambientes propícios para aflorar, essas pequenas criaturas sofrem no universo habitual, mas tem medo de mudarem por não se sentirem capazes, não percebem que muito mais do que capacidade, é a necessidade que comanda.
Temos uma responsabilidade, colher essas flores, trazê-las para onde possam aflorar e se encontrar, serem felizes.
Existem lindas flores prontas para trazer encantamento a nossas vidas, esperança de tempos melhores, renovação.
Quem nunca encontrou uma flor dessas? Será que deu o devido valor? Será que cuidou direito?
Eu faço a minha parte, tenho pessoas especiais em minha vida que acolho, procuro cuidar, proteger mas o que elas não sabem que quem ganha sou eu.
Ganho amizade verdadeira, carinho sincero, dou um upgrade na minha esperança, poder contemplar no jardim da amizade as lindas flores colhidas no decorrer da vida é sempre realizador.
Se você encontrou uma flor, seja responsável, ao invés de lamentar o mundo que vivemos, dê a oportunidade de uma flor encontrar abrigo, um jardim digno onde possa se descobrir valiosa.
Muitos de nossos amigos precisam bem mais do que amizade, precisam proteção, precisam se sentir acolhidos, precisam confiar que é possível encontrar esperança e vida fora do universo árido onde vivem.
Nossa juventude está solta no mundo, se roçando em muros de ruas tranqüilas, poucos conseguem escapar dessas armadilhas, são esses a quem devemos estender as mãos.
Não porque precisem, mas sim porque trazem consigo conteúdo, são bem mais que almas vazias, são jarros de esperança, são sementes que podem se espalhar repovoando o deserto árido dos jovens.
Como tudo na vida, é um caminho de duas mãos, você ganha amigos únicos, momentos de alegria, bem estar, conversas estimulantes, companhias fiéis, coisas que só os melhores amigos podem nos dar.
Quando olho em meu jardim da amizade, vejo lindas flores, de todas as idades, todas ainda tendo muito a oferecer, e é na convivência com essas flores que eu cresço a cada dia, e são nas jovens flores que minha esperança se renova.
Elas são mais que jovens flores, não devem ser encaradas assim, já são especiais, já são ricas por natureza, já oferecem mais do que muitas vezes temos a retribuir, só precisam se perceber assim, porque o mundo sempre faz questão de nos diminuir.
Espero que com meu jardim eu possa contribuir e retribuir de alguma maneira as alegrias que essas flores especiais me trazem.

Amigos Virtuais

A vida é tão imprevisível, você acorda naquela manhã maçante, sem saber o que fazer de seu dia, nem o sono colaborou te permitindo alongar as horas na cama. Você se levanta arrastado por uma força invisível buscando algo pra se distrair, uma ocupação para dar utilidade a sua existência.
Televisão? Você busca na memória a rica programação e faz cara feia ao constatar que não encontrará nela o lazer pretendido. Você toma seu café, olha a fumaça saindo da xícara, se alonga naquele processo esperando uma visão paranormal salvadora.
Você ainda com roupa de dormir cogita arrumar a cama mas o computador te convida, quem sabe aquele e-mail, quem sabe um papo interessante no msn, quem sabe um testemunho no Orkut, quem sabe...
O último recurso é tentar uma sala de bate papo, entre criar um personagem ou ser você mesmo, quem sabe um ser híbrido, você entra, fica mandando mensagens soltas tentando “fisgar” alguém, mas sempre surge aquele papo óbvio que já deu no saco, nicks sugestivos são logo destruídos por aquele erro crasso de português.
Você se pergunta por que está ali, já fez isso tantas vezes e conta nos dedos quantas deu certo. Para sua sorte hoje é o dia, e quando você se dá conta já está envolvido numa conversa interessante, surpreendente, renovadora.
Claro, para variar um pouquinho, surgem os velhos problemas de sala de bate papo: mensagens que não chegam, internet que trava e aqueles idiotas que adoram fazer de conta que conversam contigo em aberto coisas que deixaria corada até atriz pornô.
Tem hora que conquistar alguém na internet parece mais difícil do que na vida real.
Mas você, com algum esforço, consegue contornar os desencontros, trocam e-mail, msn e o básico do primeiro encontro virtual.
Finalmente aquela manhã ganhou um tempero estimulante, você passa o resto do dia fazendo altas conjecturas, desenhando os melhores cenários.
Mas não raro nas primeiras conversas pelo msn, nos primeiros e-mails trocados a ilusão vai dando lugar a frustração, quando o personagem se transmuta em ser real, quando a dureza da vida ocupa o lugar da fantasia, o encanto se perde.
Felizmente existem exceções, quantos de nós não tem belas histórias para contar, quantos de vocês conheci assim ou de maneira parecida? Quantos deliciosos encontros em manhãs sem graça se tornaram lindas amizades, lindos encontros de pessoas, desejos, afinidades?
Amizades de anos, amores de décadas, tesão que não couberam na internet, aventuras que se tornaram reais, quantos conselhos seguidos, quantas novidades aprendidas.
Às vezes olho para trás, vejo o quanto de mim se formou em conversas da net, pessoas que mudaram meus pontos de vista e nem sei quem são, uma frase lida, uma frase dita e as reflexões que mudam todo um modo de pensar, encarar a vida.
Devo tantos agradecimentos mas nem mesmo um e-mail posso enviar, a maioria dessas pessoas nem sabem da importância que têm ou tiveram e eu jamais terei chance de dizer isso a elas.
Quantas manhãs salvas, quantos sorrisos que descambaram para gargalhada, quanta excitação, quantas situação “constrangedoras”, quantas lembranças tão boas, quantas que dão nó no coração, quantas oportunidades perdidas, quantas brigas inúteis, quantos abraços apaziguadores, quantos sonhos acalentados.
Se eram personagens, quem se importa? Se eram mentiras, qual a diferença? O que importa é o que amadurecemos e crescemos aqui através dos ganhos, através das perdas que o mundo virtual nos trouxe.
A internet é um mundo a ser respeitado, o que se vive nela muitas vezes nem se compara ao que vivemos no mundo real, tanto que muitas vezes é traumático sair da net pro real. Não devemos ambicionar o real a não ser que tenhamos a certeza de que ele pode ser tão bom ou melhor do que a net, jamais devemos menosprezar o que os amigos virtuais tem a nos oferecer.
Aqui não importa rosto, que roupa veste, como anda, se tem hábitos estranhos, o que importa é a contribuição que esse amigo virtual tem a nos dar, assim como nossa capacidade de retribuir a altura.
Agradeço a todos os meus amigos virtuais, os que tem a chance de ler meu blog, os que passaram deixando apenas uma frase, os que nem ao menos tive a chance de conversar, mas através de um blog ou um texto de Orkut me permitiram alguma reflexão, aos que ainda estão comigo, aos que infelizmente deixaram de ser meus amigos, como ou sem razão, aos que me observam silenciosamente sem se manifestar, aos que ainda virão, aos que ainda se revelarão, aos que me excitam, aos que me desafiam, aos que acolho, protejo, ensino, aos que ouço e aos que me ouvem,



Obrigado por existirem..

quinta-feira, 12 de julho de 2007

A Jovem e o Abismo.

Gosto de ficar olhando o abismo e pensando em tudo. Pensando e criando problemas que eu tenho que resolver antes de morrer (se tudo der certo, eu ainda tenho no mínimo uns 50 anos...).
Coisas como aprender a mentir, entrar para o greenpace, saber nadar, mergulhar com golfinhos...
Mais o que mais me assombra é "ser importante". Talvez por que hoje em dia, ninguém mais se sente realmente importante pelo elevado número de pessoas que te falam "bom dia!" só por costume, ou que falam "te amo" com a mesma frequência que dizem "oi!". Pessoas que perguntam "tudo bem?" mas na verdade, elas não se importam se você está realmente bem.
E eu fico parada, olhando o abismo e pensando se eu sou como ele. Um buraco! Um grande buraco que surpreende por determinar seus limites, e ninguém chega perto o suficiente pra saber até onde ele vai, por medo de se machucar.
Todos o respeitam, mas à distância. E eu fico me perguntando se o número de pessoas que param para admirar o grande abismo, param pra ver o grande buraco que existe dentro de mim.
Talvez seja esse o meu problema... Não são as pessoas que não querem se aproximar. Sou eu que não deixo ninguém chegar perto pra não me machucar, e não machucar ninguém.
Sim! Realmente, eu sou como um abismo...
Antes de morrer eu ainda quero mergulhar numa piscina de chocolate; beber até cair; ir pra Disney, fazer e participar de um filme, fugir de casa, pintar meu quarto com tinta guache... Mas o mais importante, é deixar de ser um abismo, para ser realmente importante!
Amanda Kutah

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Uma história real.

Estou num momento de decisão na minha vida, demorei bastante até que eu resolvi abrir o jogo e questionar meu casamento. Minha família parece até de propaganda de margarina, linda pra quem vê. Porém, entre nós, mazelas de gente de verdade. E eu assumi o sintoma, estou sem tesão, entediada, infeliz. Casei muito cedo, tive filhos também cedo. Os filhos estão crescidos. Hoje, ainda jovem, necessito viver outras possibilidades. Olho para o futuro e definitivamente não quero fazer bodas, nem aposentar meus desejos.
Parafraseando Drummond, “E agora José?”. Agora, levantei uma questão que me causava incômodo há tempos, a falta de amor e desejo. Incômodo que muitas vezes tentei resolver com paliativos e que no final me fazia sentir usada e triste. Um vício que trouxe a minha vida só infelicidade e baixa auto-estima. Mas, confesso que de certa forma sustentou a relação. Já li em algum lugar sobre a função social do/a amante, que é “sustentar” as famílias. Nossa! Assunto pra intermináveis discussões.
O que importa hoje é o seguinte, mudei. Não quero mais esta opção de fingir que está tudo bem e resolver os problemas com “jeitinho”. Como meu Senhor diz, a pedra foi lançada no lago. Falei e disse da minha angústia, levando a instabilidade à relação e à vida de pessoas importantes demais pra mim, que são meus filhos. Abri um caminho, sigo em frente ou recuo. Seguindo ou recuando não seremos os mesmos. As ondas virão. Terei que fazer escolhas difíceis e dolorosas. Acredito nas escolhas, mas acredito também que a vida é surpreendente e existem tramas que não estão no nosso pretenso roteiro.
Eis o risco inevitável... viver!! E como somos frágeis diante da vida!!

http://eusubmissa.blogspot.com/

terça-feira, 10 de julho de 2007

Belo coração.

Um dia um jovem homem posicionou-se no centro duma aldeia e proclamou bem alto que possuía o coração mais belo de toda a região.
Aproximou-se uma grande multidão que o rodeou e todos viram e confirmaram que o seu coração era perfeito, pois não se viam nele quaisquer manchas ou riscos. Sim, todos foram unânimes em considerar
aquele coração como o mais belo coração jamais visto.
Ao ver-se admirado o jovem sentiu-se ainda mais orgulhoso, e ainda com mais convicção assegurou ter o mais belo coração daquela vasta região.
Foi então que se aproximou um ancião e lhe perguntou:
— Porque afirmas isso, se o teu coração nem se aproxima da beleza do meu?
Surpreendidos, a multidão e o jovem, olharam para o coração do velho e viram que batia fortemente, mas estava cheio de cicatrizes e nalguns
lugares faltavam pedaços que haviam sido substituídos por outros que não encaixavam bem.
Viam-se rebordos e arestas irregulares e isso era prova evidente de encaixes frustrados. E também se podiam ver algumas ausências onde falhavam pedaços consideráveis.
Os olhares das pessoas baixaram para o chão, enquanto iam perguntando-se:
— Como pode o velho afirmar que o seu coração é o mais belo?
Por sua vez, também o jovem analisou o coração do velho, mas ao vê-lo naquele estado mal-arremendado partiu-se a rir. Por fim disse:
— Deves estar a brincar conosco. Compara o teu coração com o meu... O meu é perfeito! E o teu é um conjunto de cicatrizes e de dor.
— É verdade, respondeu o velho, o teu coração tem um brilho perfeito; porém, eu jamais me relacionaria contigo.
Olha para o meu: cada cicatriz representa uma pessoa a quem ofereci o meu amor. Arranquei pedaços do meu coração para os oferecer a quem amei. Muitos outros, por sua vez, obsequiaram-me com um pedaço do seu e os coloquei no buraco que fora aberto. Como os pedaços não eram iguais ficaram uns restos e umas pontas que me dão muita alegria, pois me recordam o amor partilhado.
Nalgumas alturas ofereci pedaços do meu coração a algumas pessoas, que não me retribuíram o seu: foi por isso que ficaram algumas falhas. Oferecer amor é um risco, mas apesar da dor que essas feridas me provocam por terem ficado abertas, recordam-me que os continuo a amar e assim alimento a esperança de um dia conseguir preencher o vazio que deixaram no meu coração.
Compreendes agora o que é verdadeiramente belo?
O jovem continuava em silêncio enquanto as lágrimas escorria pela face. Depois aproximou-se do ancião, arrancou um pedaço do seu belo coração e ofereceu-lho. O ancião aceitou-o e colocou-o no seu coração, depois, por sua vez, arrancou um pedaço do seu velho e maltratado coração e com ele tapou a ferida aberta do jovem.
O pedaço colou-se ao novo coração, mas não na perfeição. Ficaram a ver-se uns rebordos nada estéticos. O jovem olhou o seu coração que já não era perfeito. Porém, era mais bonito que antes pois nele fluia agora sangue daquele velho.

Personagens e roteiros.

Quando eu era criança via a minha mãe fascinada por atores, cantores e qualquer personalidade de momento.
Via ela grudada na tv vendo as novelas, naqueles tempos bem melhores do que as de hoje, e angustiada pelo capítulo seguinte.
Minha mãe tão jovem transportava pro seu dia a dia as expectativas grandiosas dos personagens de novela.
Assim como um adolescente se vê como o último grande herói (na minha geração a gente queria ser o último grande gênio das palavras), minha mãe queria ter a vida das mocinhas de novela.
Grandes amores, superação, demonstrações enlouquecidas de paixão, beijos intermináveis, sofrimento, lágrimas até o capítulo final onde todas as nuvens sumiam, onde todos os problemas se resolviam, os vilões perdiam e as mocinhas eram felizes para sempre.
Fui crescendo e percebendo que todos nós precisamos um pouco disso, queremos algo de grandioso pra nossas vidas, queremos um roteiro perfeito.
Como nem sempre é possível, tornamos possível, só que nem sempre da maneira certa.
Logo estamos escolhendo a dedo os personagens, aqueles que se permitirão manipular, escolhendo os cenários, os mais seguros possíveis, e criando os roteiros, os mais emocionantes possíveis.
Muitas vezes fazemos isso sem perceber, eis a grande maravilha da engenharia mental.
De repente estamos vivendo a vida que "sonhamos", fazendo coisas que acreditamos perfeitas e que dão sentido a vida. Pelo menos é no que acreditamos.
Só que de repente os personagens que pensamos poder manipular ganham vida própria, percebemos que se deixaram manipular para eles sim alcançarem seus objetivos.
Os cenários antes tão seguros estão cheios de aberturas nos expondo a riscos impensáveis.
E os roteiros não previam o desastre.
Nem sempre estamos no comando como pensamos e, surpreendentemente, nem sempre estamos ao sabor da maré como acreditamos.
Nos roteiros da vida, todos somos roteiristas, ninguém se presta a nenhum papel se não acreditar que pode mudar o roteiro ou se não acreditar que o roteiro é dele.
Ontem, conversando com uma amiga, isso ficou tão claro, tão assustadoramente claro.
Havia um roteiro, nele havia uma entrega, um personagem forte, heróico, uma mocinha romântica, frágil, precisando ser conduzida, um dia alguns fatores conspiram pra tornar real o roteiro e a autora se entrega, para funcionar bem era preciso se acreditar no papel da conduzida, ela sabia de antemão cada passo do heróico personagem, afinal, ao ator escolhido cabia como uma luva.
A história se desenrola perfeita, linda, cada ação vai dando a nossa mocinha a percepção de que a vida vale a pena, finalmente faz sentido viver.
A entrega é tanta que já não existem mais riscos, perigos, os passos são dados sem medo, é tanta excitação que não se percebe que o roteiro lhe foge as mãos, que o heróico personagem ganha vida própria.
Até que um dia a mocinha conclui que o roteiro dela não era compatível com o roteiro dele.
Tudo no roteiro se deu por obra e graça da mocinha, essa sim conduziu, insinuou, induziu. Mas não sabia que era interessante para o heróico personagem os caminhos que o roteiro seguia, que ele deu vida convincente ao personagem a ele destinado, e percebendo que podia mais, vou tomando para si o roteiro, se aproveitando do êxtase da mocinha.
E agora mocinha, o que fazer? Não sei o que é pior, errar ou tentar consertar.
Por que é sempre assim? Erramos de maneira devastadora, ao invés de aceitar o erro e aprender com ele, vamos em busca de tentar conserta-lo, e ai o que já era ruim piora.
De todos os erros que você cometeu, já pensou que os piores estavam na tentativa de consertá-los?
É assustador a espiral do erro. Um caminho que entramos, uma escolha que fazemos, e logo estamos descendo sem controle por uma sequência infindável de erros.
Como eu já disse aqui:
A felicidade está na realidade.

Decidir...

Ler esse blog pode parecer que aqui se propõe receitas infalíveis de felicidade, basta seguir o receituário e pronto, seus problemas se acabaram.
Todos sabemos que não é assim, em uma de minhas postagens eu falava que todos os problemas são parecidos, as soluções é que mudam, justamente porque é nas decisões que tomamos que tudo se define.
Devemos sim estar prontos para tomar decisão, mas cabe a cada um de nós, dentro de sua individualidade, de sua natureza, de suas perspectivas de vida e objetivos decidir.
Não se ensina ninguém o caminho das pedras, porque esse caminho é diferente para cada um, mas podemos falar do que se enfrentará, das tentações, medos e de como tantas vidas servem de exemplo para orientar nossa conduta.
Esse blog, como está em sua apresentação, é o blog de um observador, mas que também sente na pele a dureza do caminho escolhido, que já se arrependeu de escolhas feitas, que já sentiu o peso de cair na tentação do caminho fácil. Não sou imune, talvez nunca me torne, mas sempre carrego comigo as lembranças de como escolhas erradas afetam nosso presente e futuro.
Para piorar a situação, os efeitos de nossas decisões se estendem como as ondas provocadas por uma pedra jogada num lago, e vão atingindo uma a uma das pessoas ligadas a nós.
Pais, amigos, namorados, amantes, esposos(as), filhos, colegas...
Somos uma coluna que dá firmeza a estrutura de alguém, se estamos abalados, alguém, sem dúvida, sofrerá também os efeitos, dependendo da posição que ocupamos na estrutura desse alguém, o abalo pode ser bem mais significativo do que pensamos.
Pois é, não é fácil tomar decisões, mas quem disse que o melhor caminho é não toma-las?

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Realidade e a arte de Transformar.

Viver é sem dúvida nossa maior aventura. Cada manhã é uma conquista, é olhar para trás e nem se reconhecer nas lembranças. Desde as lembranças doces da infância, as "crises" da adolescência, as confusões e dúvidas do início da vida adulta, as inseguranças, os medos, as sensações "estranhas" que sempre fizeram parte de nossa jornada.
Mas amanhecer também é olhar pra frente, pensar no que virá, usar o que já sabemos para construir o amanhã. Muitas vezes dá medo, pensamos em não levantar e, como crianças de colégio, inventar uma doença para não sair da cama. Pior é quando surgem aquelas tentações de fazermos diferente apesar da certeza de termos um único caminho.
Eu já disse aqui antes, somos hábeis construtores de mentiras, se de fato existem obstáculos em nossas vidas, também existem os que criamos, inventamos, colocamos lá só para justificar nossas "decisões".
De vez em quando somos iguais aquele jogador de futebol que vive simulando falta, ao sentir a aproximação do zagueiro dá um salto espetacular pra induzir o juiz a marcar falta. Muitas vezes nem há zagueiro, muitas vezes nem estamos com a bola, mas precisamos justificar nossa inoperância.
Outra coisa que fazemos muito para desviar o foco do que realmente é necessário é criar grandes e ambiciosos objetivos, é usar algo maravilhoso com um único intuito, justificar decisões do presente. Quando alguém te pergunta por que disso você logo usa o tal objetivo ambicioso como justificativa.
É como querer um carro de cem mil, investimos tudo nele, mas para nossa real necessidade um de vinte e cinco mil cobriria bem e com sobras. Então porque um de cem mil? Vaidade? Necessidade de pensar grande? Talvez. Quem sabe realmente faça sentido ter um carro de cem mil, o que não se explica é porque não investir num de vinte e cinco mil até chegar o momento de possuir o de cem.
Cada momento de nossa vida exige realismo, precisamos ter os pés na realidade, pensar seriamente no que precisamos, mesmo que desagradáveis, certas coisas são necessárias.
Não devemos criar obstáculos artificiais para justificar desvios, não devemos criar objetivos ambiciosos para justificar escolhas.
A vida já é cheia de obstáculos para ficarmos criando novos, vamos encarar de frente nossos problemas, implodir o que se tem a frente, prosseguir em nossa jornada, ficar "inventando" obstáculos é de uma auto covardia sem tamanho, já não bastam os existentes ainda somos capazes de criar novos?
Também devemos ser ambiciosos, desde que éticos, mas pegar algo tão bonito e usar como desculpa é injusto, faz parecer que o certo é errado. Se a vida é a grande aventura, devemos sim fazer dela a melhor aventura, termos objetivos grandiosos, mas também não devemos resumir nossas vidas somente a uma busca.
Somos filhos, namorados, casais, torcedores, eleitores, amigos, amantes e tantos outros num só que resumir nossa existência a um único objetivo é anular todo o resto.
Uma coisa de cada vez, degrau por degrau, quantas vezes ouvimos isso? Devemos sim acordar a cada manhã sonhando com o carro de cem mil, mas devemos levantar da cama decidindo o presente, em fazer escolhas hoje que nos permitam no futuro ter o tão sonhado carro. Afinal, hoje, um carro de vinte e cinco te leva aos mesmos lugares que um de cem mil, mas sem dúvida te oferece bem mais do que andar a pé ou ônibus (alguns com mais sorte tem caronas).
Talvez falar em criar mentiras não seja tão preciso para explicar, talvez o correto seja falar na arte da transformação, quando transformamos algo dando um formato adequado para as decisões que desejamos tomar, fugindo das que devemos tomar.
O lixo vira luxo, o luxo vira lixo.
Não há nada melhor para a vida do que realidade, aceitar a vida como ela é, enfrenta-la sem artifícios, tomar as decisões certas, não se acomodar, não aceitar a imobilidade, acreditar que podemos sim mudar, que podemos vencer.
A cada manhã olhamos para trás e não nos reconhecemos justamente por durante toda nossa história tivemos vitórias, derrotas, erros, acertos, fizemos coisas que hoje nos parecem impossíveis quando olhamos para frente.
Tem horas que dá um cansaço, já fizemos tanto e tem tanto por fazer. Então é hora de descansar, sentar num lugar protegido, talvez deitar e apreciar a paisagem, sentir as forças voltando, mas jamais, em hipótese alguma, desistir do que precisa ser feito, jamais tentar transformar a realidade.
Sonhe, sonhe alto, mas seja paciente em sua busca, construa no dia a dia seu futuro, saiba o que deve sacrificar para não sacrificar o que é necessário, identifique cada obstáculo e se planeje para superá-lo, se inspire no passado para construir o futuro.
Parece simples, e é.
:)



quarta-feira, 4 de julho de 2007

Breve observação sobre entrega.

Partindo do pressuposto básico do BDSM, não é o pulso firme de um Dom que faz a pessoa mudar, nunca um Dom foi capaz de mudar alguém que não quisesse mudar.
Por que existe a entrega? Porque existe a força interior pra mudar. Servir é apenas a desculpa, o recurso utilizado.
Só descobrimos o que de fato gostamos através da pratica, sem dúvida, até então tudo é teoria, expectativa, mas você acha que vai fazer porque um Dom é forte ou sabe-se lá o que?
Não, você vai levar tapa na cara e amar porque é sua natureza, não porque ele é excepcionalmente hábil na condução, a habilidade que se exige Dele é saber a intensidade, perceber que você gosta.
Um Dom é o cara que penetra sua alma e descobre tudo aquilo que você pode, ele não cria nada, ele só remove as barreiras.
Você acha que vai servi-lo e fazer tudo ou parte contra sua vontade? Não. Tudo que você fizer já faz parte de você, já está dentro de você. Algumas vezes escondido, outras bem protegidas, muitas vezes você nem desconfiava que fazia parte de você.
O Dom não te faz gostar de algo, ele descobre que o você gosta, mesmo que você nunca tenha suspeitado, ou seja, na relação BDSM, o segredo está todo guardado na sub, cabe ao Dom vasculhar, descobrir e expor.
Infeliz daqueles que para se realizarem como pessoa depende da vontade alheia, precisa se anular e se tornar outro para se sentirem vivos.
Consequentemente, seja no BDSM, seja na vida, toda nossa felicidade está dentro de nós, cabe a nós, guiados ou não por alguém, libertar-nos do medo, das amarras, retirar os obstáculos, as barreiras, mas do que aceitarmos a necessidade de mudar, empregarmos nossa energia nessa mudança.
Na realidade, sempre nos entregamos a nós mesmos.
Se entregar, portanto, é um ato de vontade própria, onde você finalmente aceita o fato que precisa e pode mudar, diferindo no modo podendo variar desde a busca solitária até a aceitação que outro te guie pelo doloroso caminho da mudança e crescimento pessoal.
Entrega deve ser um movimento pessoal, que parte de dentro de nós, que visa única e exclusivamente nosso bem estar e auto satisfação. Se fazemos sozinho, se fazemos apoiados em amigos, num guia, num orientador, num Mestre, num Dom, pouco importa, o que importa é que façamos o que deve ser feito sem receios.
Nos acovardar diante da vida é assinar um documento onde abdicamos da felicidade, fazer escolhas que não condizem conosco é fazer meia entrega, fingir que nos entregamos quando na realidade deixamos os outros decidirem é de um vazio atormentante.
Não existe felicidade possível quando deixamos de assumir o leme de nossas vidas, a entrega perfeita é aquela na qual buscamos nossa superação, crescimento, amadurecimento e felicidade.