quarta-feira, 14 de novembro de 2007

O Amor e a Ira.

Sentimentos opostos e que se definem conforme as circunstâncias. A base de todos os sentimentos é o amor, tão amplo que é a base da pregação de Cristo que revolucionou os conceitos de sua época até hoje, passa pelos gestos de caridade, amizade e ganha sua forma extrema no Eu te Amo.
À ausência de amor chamamos de Ira, que ganha outros nomes como ódio, raiva, nasce na rivalidade, nos opostos, que pode estar presente de maneira contida em relações do dia a dia ou explodir em medidas extremas como assassinatos, guerra.
Mas são as circunstâncias que definem o surgimento de um ou outro. Amor ou Ira dependerão de algumas circunstâncias, tanto que muitas vezes no decorrer do tempo experimentamos os dois sentimentos pela mesma pessoa.
Amores que terminam em ódio, eleitores arrependidos, torcedores frustrados, amigos traídos, convicções perdidas sem mencionar as possibilidades do caminho oposto.
E quantos amores deixaram de acontecer de maneira mais ampla por que simplesmente não se cruzaram na vida? Ou quando se cruzaram as circunstâncias não favoreceram? Muitas vezes só por que não estávamos preparados para descobri-lo.
São tantas as circunstâncias onde nasce o sentimento, mas é tão difícil realmente defini-lo na intensidade.
Mocinhas do interior se apaixonam pelos mocinhos da cidade, se casam, se mudam encantadas com as oportunidades até que o tempo passa assim como a mágica do momento inicial e se descobrem infelizes longe de quem realmente amam.
Nos apaixonamos por nossos professores e professoras por que naquela altura da vida são a referência que queremos perseguir, tão inteligentes e seguros, tão belos diante da sala cheia que silenciosamente acompanha cada fala, cada gesto.
Nos apaixonamos pelo artista da moda por que ele parece tão brilhante, tão acima do bem e do mal, tão pouco humano, tão irreal na sua capacidade criativa.
Nos apaixonamos pelos poetas por que eles dizem tudo que sentimos e pensamos de maneira tão precisa e bonita.
Nos apaixonamos quando estamos carentes, quando estamos fragilizados, quando no meio da tempestade interna que vivemos alguém que nos parece tão sóbrio e seguro surge com as mãos estendidas para nos tirar dali, existe tentação maior do que segurar aquela mão só pra sair disto tudo?
Nos apaixonamos quando não acreditamos na gente, quando nossa auto estima está em baixa e surge alguém tão apaixonado por nós que nos choca, surpreende e ainda sob efeito da novidade, entregamos nosso frágil coração em retribuição, ou seria sacrifício?
Nos apaixonamos quando tomados pelo terror, entre explosões aterradoras surge o herói impávido entre as chamas e nos socorre resoluto.
Nos apaixonamos pela mão firme e/ou carinhosa que nos domina, quem se impõe de maneira tão contundente que nos percebemos entregues e felizes.
Nos apaixonamos pelo jogador por que quando tudo parecia perdido ele fez o gol, a cesta, o ponto salvador.
Tantas circunstâncias que poderia passar horas escrevendo, se isoladamente são muitas, imagina então combinadas.

Já a Ira, como oposta ao amor, surge nas situações contrárias ou quando o efeito entorpecente da paixão passa, desde que não tenhamos a sabedoria de reconhecer à tempo o erro cometido.
O problema é que nas mesmas circunstâncias pode nascer o amor verdadeiro ou garimparmos o ouro dos tolos.
Não é culpa do amor, talvez nem seja nossa culpa, mas a vida é assim, cheia de armadilhas, na realidade a felicidade só é alcançada por quem é capaz de resistir a tentação do fácil, quem a persegue com obstinação, quem consegue dar ouvidos à voz interna que nos alerta.
Sim, nosso maior conselheiro está dentro de nós, sempre existe uma voz interna que sussurra ou grita, conforme a situação, nos alertando, é a mesma voz que comemora eufórica quando acertamos.
Quando tudo parece perfeito e, no entanto, não estamos felizes é a tal voz interna falando. Ou quando estamos experimentando os venenos da Ira, é aquela voz interna que diz que estamos nutrindo o sentimento errado.
Na maioria das vezes a tal voz interna não está dizendo que o sentimento está errado, está mostrando somente que está mal dimensionado.
Este é um dos motivos mais comuns da Ira tomar o lugar do Amor, é a descoberta do engodo, de sermos traídos, de não ser nada daquilo que pensamos, mas se ouvíssemos a voz interna, provavelmente não chegaríamos a este extremo, poderíamos corrigir os rumos e finalmente sermos felizes vivenciando o sentimento na sua real dimensão.
O Amor e a Ira serão sempre conseqüências das circunstâncias que nos envolve, está em nossas mãos evitar ao menos que o Amor se converta em Ira.
Eu acho fantástico viver o amor, experimenta-lo sem medo de errar, por que é através destas experiências que amadurecemos e entendemos mais sobre ele, que somos felizes, mas como tudo na vida, se errarmos na dose passa a nos fazer mal, pode se tornar o oposto do que era.
Vamos errar muito e talvez nunca consigamos aprender, mas sempre valerá a pena se arriscar desde que tenhamos a sabedoria de ouvir nossa voz interna, de reconhecer modestamente que erramos, ter a humildade de, em benefício próprio e de quem amamos, corrigir nossos “pequenos” deslizes.
Ame e não deixe nada estragar este sentimento, por que a Ira sempre estará à espreita numa de suas diversas formas.
O Amor é para ser vivido, dizem que experimentar um minuto de grande amor vale uma vida, nada vale tão a pena quanto amar, amar com respeito e sabedoria, como dizia Vinicius:
"Que seja eterno enquanto dure..."

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Amigos paisagem.

O que são? Como diriam os antigos, são do tipo pau pra toda obra, sempre compõe o ambiente, nos fazem companhia, estão dispostos a tudo, estão nas nossas listas de amigos do Orkut, MSN, do celular. Basta um contato e pronto, está montada a equipe da missão, seja ela simples companhia, passeio, balada, cinema, farra até mesmo atacar prostitutas na Barra ou arrumar briga com grupos “rivais”.
Temos e somos amigos paisagens. Sabendo usar e/ou ser, teremos ótimos momentos.
Precisamos deles, eles precisam de nós, com o tempo mudamos, as relações mudam, mas os amigos paisagem continuam nas suas mais diversas formas, desde o colega de colégio até o(a) companheiro(a) de dama ou crochê.
Como remédios eles também tem bula, não curam todos os males, tem uso limitado, em excesso fazem mal, não se aplicam a todos os casos e alguns são até perigosos.
Os amigos paisagem compõem um ambiente onde concorrem ou convivem com família e os amigos, definidos assim todos aqueles que são mais do que companhias, do que membros de “equipes”, que estão presentes em toda e qualquer ocasião, mesmo quando tudo parece querer afastá-los.
No Eco sistema perfeito estes três grupos se convivem, não concorrem entre si, se complementam e tem o espaço certo para ocupar.
Se estabelecermos círculos em torno de nós, os mais próximos serão os amigos e família, a vida da gente sempre coloca ou um ou outro bem perto de nós, quando as pernas bambeiam, é ali que encontramos apoio. Os amigos paisagem estão lá, alguns mais próximos, outros mais distantes, mas eles são nossos elos com o mundo, oxigenam nossas vidas, quanto melhores, mais vida nos traz.
Alguns devem estar incomodados com a expressão amigos paisagem, tentei encontrar um termo melhor, mas acho que coube bem, não creio que diminua sua importância além de servir pra distinguir dos amigos naturais.
O que é paisagem? Tudo aquilo que nos cerca, nos preenche, que define o que somos e como nos sentimos. Não está tão perto que podemos tocar, mas está ao alcance para podermos percorrer.
Portanto, o amigo paisagem é importante, fundamental no nosso Eco sistema, é um dos pilares de nossa existência.
Todos tem relevância em nossas vidas, mas forçar a troca de papéis sem que seja algo natural jamais dá certo, nem sempre um amigo paisagem tem estrutura para ser mais do que isso, ou um amigo tem condições de nos acompanhar nas nossas aventuras, nem sempre alguém da família conseguirá lidar bem com nossos segredos a serem divididos.
O importante é que cada um seja valorizado, querido, receba nossa dedicação, sem que isso signifique sacrifícios dos outros membros do nosso Eco sistema.
Está na harmonia dos três elementos a nossa felicidade: amigos paisagem, família e amigos.
A vida, todos nós sabemos, não é feita só de alegrias, sorrisos, de dias de sol. Não temos um guarda roupa só para dias de calor, precisamos de roupa para dias de chuva, de frio e até de tempestade. Se não soubermos cuidar bem de cada peça de roupa, sofreremos.
E se as peças que compõe nosso guarda roupa não cobrem todas as ocasiões, cabe cuidar melhor, é nossa responsabilidade manter da melhor maneira cada peça de roupa que poderá ser útil quando precisarmos.
Mas às vezes as coisas saem errado, não cuidamos direito do guarda roupa e tentamos em vão adaptar as peças que temos, mas de nada adianta.
Podemos colocar a culpa em São Pedro, em algo que não estava a nosso alcance, mas será? Quando é tarde demais é fácil se eximir de culpa, nem sempre somos justos por que fugimos de nossa responsabilidade, lidamos mal com a idéia que somos os responsáveis pelo que nos ocorre.
Ficamos dedicados demais a um dos elementos de nossa vida, nos descuidamos de outros, as coisas dão errado somos pegos desprevenidos e não somos os responsáveis?
A idéia de Eco sistema funciona com a simples lógica de que tudo precisa estar harmonioso, se algo prevalece em detrimento do outro, vem o desequilíbrio. Mas quem faz as escolhas, não somos nós? Quem decide onde agir e o que priorizar, não somos nós?
Para alcançar esse equilíbrio o caminho nem sempre se mostra suave, mas isso justifica abandona-lo? Será que o caminho abandonado não criará mais dificuldades da próxima vez estando coberto de mato e impedindo a passagem?
Quanto tentamos reconstruir ou reformar os nossos caminhos, pagamos o preço do abandono, é menos trabalhoso nos dedicarmos sempre do que um dia precisarmos abrir a duras penas o caminho já fechado pelo abandono.
Ai voltamos aos amigos paisagem. Podemos contar com eles nessa empreitada? Você dividiria com eles os atalhos de sua vida? Os segredos do caminho? Eles estariam dispostos a te ajudar a superar os obstáculos?
Provavelmente não, e não é culpa deles. Na dinâmica da vida alguns amigos paisagem se tornam amigos e até se tornam família, mas é um filtro bem fino, bem apurado, como as peças de nosso guarda roupa, nem sempre cobrem todas as ocasiões, não é de bom senso ir de biquíni para o trabalho.
Portanto, cuide bem de seu Eco sistema, dedique seu tempo a cada pilar que mantém sua vida de pé, mesmo que em algumas ocasiões tudo pareça tão chato e difícil, você precisará fazer escolhas que resultem em equilíbrio e, consequentemente, felicidade.