quinta-feira, 18 de outubro de 2007

O que nos guia?

A gente sempre acha que sabe o que nos motiva, o que desejamos, acreditamos piamente em nossos objetivos, convicções.
Mas ainda assim nos flagramos infelizes, frustrados, talvez não de todo, mas sempre surge uma nódoa.
Conscientemente fazemos escolhas que acreditamos serem as corretas, mas silenciosamente outros processos se dão, nem sempre na mesma direção das escolhas feitas.
Racionalizamos a vida, as escolhas, mas dentro de nós outros processos, talvez mais lógicos e verdadeiros, se dão.
Olhe a sua volta, se quiser, tente viajar pra dentro de si, veja quantas contradições.
Você vê pessoas vendendo idéias, convicções, tentando passar uma imagem, mas vira e mexe uma atitude denúncia uma fissura na construção.
É fácil entender, afinal vivemos um mundo onde a imagem se tornou mais importante do que se é de fato.
Você precisa ter uma imagem que é aceita, compatível com as expectativas de um grupo, mas e por dentro, qual é a realidade?
Nós tentamos nos prender a algum projeto, ter algum objetivo, mas só estamos escondendo a realidade, camuflando o que de fato sentimos e queremos.
O mais engraçado é que nem sempre isso é consciente, quem nunca ouviu falar em subconsciente?
Tem várias definições possíveis e eu não quero oferecer uma nova, não tenho essa pretensão (talvez subconscientemente eu queira ter uma definição arrebatadora e definitiva).
Fazemos escolhas baseados num argumento, mas subconscientemente o argumento é outro.
Quando adolescentes, onde ainda não somos tão bons em disfarces, inventamos mil desculpas esfarrapadas pra estar com alguém, seja pra pegar um livro emprestado ou pra perguntar algo banal, mas no fundo queremos criar uma situação quem mal entendemos e sabemos lidar.
Amadurecemos, aperfeiçoamos os disfarces, mas continuamos tomando decisão acreditando conscientemente em algo, mas subconscientemente o que desejamos é outra coisa.
É nossa natureza nos impulsionando, por mais vestimentas sociais, ainda existe dentro de nós um ser que quer ser livre, sem imposições, que quer seguir um caminho próprio.
Por mais terno e gravata ou tailleur que usemos, existirá dentro de nós alguém que se sente escravo destas formalidades.
Não que tenhamos uma selvagem dentro de nós, mas muitas vezes a formalidade tira a doçura da vida, acinzenta as cores, ameniza os aromas.
Queremos abraçar sem olhares críticos, queremos dar opinião sem sermos julgados, queremos amar e sermos amados sem nos preocupar com máscaras, tendo a certeza de que pelo menos delas estamos despidos.
É tão óbvia a ação do subconsciente em nossas vidas que o resultado disso é a desconfiança, a frustração, a insegurança.
O que podemos assegurar como autêntico?
Vejo gente fazendo escolhas que me frustram, tentam em vão me convencer dos motivos, mas são tão óbvias as motivações secretas. Nem creio que tentam nos enganar, porque é evidente o quanto se enganam.
Claro que corremos o risco de nossas próprias convicções estarem erradas, e a outra pessoa sim estar com a razão.
Mas muitas vezes as coisas são tão evidentes, as máscaras são tão imperfeitas, que é até difícil crer que a própria pessoa não vê.
Você sabe que vão se machucar, algumas vezes você deixa, é preciso.
Usam um termo para o fracasso: “Quebrar a cara”.
Só que junto com a cara vai a máscara, e é bom deixar as pessoas quebrarem a cara, afinal, nada mais útil para acordar para a realidade e as armadilhas do subconsciente do que umas quedas, uns bons tombos.
Mas algumas vezes você quer tão bem a essa pessoa que você tenta de todos os modos segurar-lhe a mão.
Se para a maioria você acha conveniente deixar “quebrar” a cara, para alguns você quer estar do lado, você faz de tudo até mesmo “quebrar” a cara junto.
É bom lembrar que escolhas erradas podem nos distanciar muito da nossa felicidade, mas escolhas devem ser respeitadas, assim como raras exceções devem ser aceitas, afinal, amar está acima de qualquer coisa, e dificilmente se abandona quem se ama.