sábado, 10 de novembro de 2012

A Árvore do Amor

Um filme surpreendente e emocionante com atuações comoventes.
Está disposto a se emocionar?
:-)

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Deixando para amanhã...

Quando eu era pequeno, minha mãe me contava uma história que tinha ouvido de minha avó, que por sua vez a ouvira de minha bisavó. Era sobre um jovem escravo chamado Pedro, molecote esperto mas analfabeto. Dia sim, outro também, ele aparecia na igreja pra pedir alguma coisa ao vigário que, preocupado com sua alma, sugeria que ele se confessasse e fizesse a primeira comunhão.
Mas havia um porém. Para receber o corpo e o sangue de Cristo, através da hóstia, na eucaristia, o guloso Pedro precisava jejuar. E aí a porca torcia o rabo. Sempre que o negrinho apontava na sacristia, a pergunta era a mesma:
— Está em jejum, Pedro? Pronto para se confessar e fazer a comunhão?
— Ih, seu padre, esqueci e tomei o café da manhã!
O número se repetia diuturnamente. Até que, já sem paciência, o vigário resolver escrever num papel a seguinte frase: "Amanhã jejua Pedro!". E, sabendo que ele era incapaz de ler e escrever, recomendou-lhe, em tom severo.
— Ao levantar, peça a alguém pra ler isso pra você. Assim que sair da cama!!!
E Pedro obedeceu. Todo santo dia, acordava com o papel na cabeceira, levava-o a alguém da casa grande que soubesse ler e ouvia:
— Amanhã jejua Pedro!
Todo feliz, o glutão retrucava:
— He, he, ainda bem que não é hoje...
 
Essa história é pouco nossa história, um pouco de cada um de nós.
 
Fonte: Coluna do Renato Mauricio Prado no dia 06/11/2011 - O Globo

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O Olhar.

É muito comum nos surpreendermos com as diferenças de olhares, enquanto capturamos imagens que pra nós são preciosas, muitos diante da mesma imagem não compartilham as mesmas descobertas, ficamos solitários em nossa contemplação.
Tem sentido real e figurado, não é a capacidade de enxergar, mas de se encantar, de ver além, descobrir nuances, aspectos quase ocultos. Quase...
Quando gostamos de uma pessoa, a profundidade deste gostar vai corresponder a profundidade do olhar, quanto mais vc for capaz de mergulhar no outro, enxergar além do que é permitido ver, mais vc vai se encantar.
A realidade é que todos nós usamos máscaras, é uma imposição do mundo moderno, precisamos nos adequar.
Tb sobram reações defensivas, tais quais as casas e moradias, erguemos muros, reforçamos a proteção, impedimos que está do lado de fora de "conhecer" o que é nosso, o que somos nós.
São inúmeras as atitudes pra se proteger e, para tornar tudo mais fácil, a grande maioria se contenta com o que vê.
Para amar, é preciso ir além, ver por trás das máscaras.
Não significa que tudo a ser descoberto vai te encantar, na realidade, vc corre mais risco de se decepcionar. A verdade é que a maioria é bem sem graça, pq muitas máscaras servem pra envernizar, criar a falsa ilusão, induzir, talvez a maior habilidade do ser humano seja a de se fazer parecer maior e mais bonitos, pavões com suas caudas abertas.
Claro que o conceito do que é bonito e o que é ralo é bem pessoal, a busca é individual, o encanto é particular, poucos compartilham do mesmo gosto, da mesma capacidade de se surpreender, se encantar.
Considerando estes dois aspectos, o de que na maioria das vezes as máscaras enganam e que tudo envolve sua individualidade, poucas coisas te tocarão de fato, algumas raras vezes vc vai descobrir a riqueza por trás das máscaras.
Sendo a máscara um resumo bem elaborado daquilo que queremos parecer, é de se supor que por trás da máscara se esconde tudo aquilo que de fato somos, virtudes, qualidades, medos, inseguranças, desejos, ansiedades, vontades, curiosidades, meninices, maturidades.
Então, é comum, vc descobrir fragilidades por trás da força.
Doçura por trás da agressividade.
Sexualidade por trás da timidez.
É esta beleza escondida que vai te tocar, te atrair, te envolver. É a combinação de virtudes e defeitos, é sua capacidade de lidar com isto, de se completar naquilo que descobre.
Mas ai encontramos um problema, se alguém usa uma máscara, tem um motivo, será que vai lidar bem com a "invasão"?
Voltemos ao texto anterior, onde escolhemos aquilo que podemos lidar, que damos conta, que não nos cause dor de cabeça, que nada exija. A máscara é dimensionada para atrair somente aquilo que aceitamos lidar.
Mas quando expostos, naturalmente um universo se abre, de coisas que optamos em manter quietas, será que seremos capazes de ceder? De permitir ao outro fazer parte?
Usamos de todos os subterfúgios para manter as coisas em ordem, habilmente definimos as regras, as condições e tudo funciona bem, funcionamos pela metade, dentro daquilo que estabelecemos como apropriado.
Lidar com alguém que nos conhece além da máscara, com alguém que mexe com as coisas guardadas, que remexe nos baús empoeirados e, pior, nos ama por isto, é das coisas mais doloridas de se vivenciar. Não?
Os papéis de fato se misturam, hora somos o olhar, hora somos o que está sendo visto, descoberto. Nos dois papéis, somos violentamente testados, que caminho escolhemos? Manter a comodidade do velho projeto que vem funcionando e que mal nos exige pela metade, ou sermos intensos e nos permitir?
Quem olha tb precisa se decidir, ter a coragem não só de apreciar, se encantar, mas de buscar.
É onde somos mais falhos, na ausência de coragem.
Pq é tão difícil ceder? Se permitir? Encontrar um caminho, uma convivência, uma aceitação, uma cumplicidade, um compartilhar?
Temos tanto medo assim de falhar? Afinal, medo de que? Do outro e de nós mesmos?
Na minha opinião, temos mais medo do que somos, de não dar conta, inseguros e desabituados com nossa real natureza. O que o olhar do outro alcança são coisas que aprendemos a reprimir, manter escondido, são coisas das quais fugimos, não é fácil permitir ao outro que compartilhe, afinal, se nem nós mesmos nos sentimos capazes...
Mas tem uma possibilidade... Uma velha arma. O diálogo. Não o diálogo de sentar e conversar, este tem seu tempo e momento, mas o diálogo de tb mergulhar, olhar por trás da máscara do outro, buscar ali coisas que te passem segurança, confiança. Que sejam capazes tb de te encantar.
Agora, se mesmo assim vc insistir em manter a casinha fechada, só vc poderá lidar com as consequências, conviver com suas escolhas... Normalmente dizemos que somos capazes, nos distraimos com trabalho, com engodos, com pequenas mentiras, mas e quando elas acabarem? Quando vc estiver sentado(a) em sua varanda, repensando a vida, onde encontrará proteção contra os velhos fantasmas?

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

As pequenas coisas...

Um aprendizado que temos com a natureza é de como pequenas coisas podem causar grandes estragos, trabalhos de anos podem desaparecer como resultado de pequenos eventos.
Da mesma maneira, os produtos industrializados ou as coisas construídas, por pequenas falhas e/ou eventos se perdem.
Desde os seres vivos em geral até aquilo que produzimos, tudo está sob o constante risco do detalhe.
São áreas de sombra, pequenas máculas que vão minando o todo, causando desde pequenas perdas até a destruição total.
Tb somos assim, temos comportamentos, hábitos, atitudes, reflexos, vícios, manias, detalhes e uma série de coisas que não damos atenção, mas que vão corroendo o que somos, o que temos, nossos sonhos, nossos desejos, nossas vontades, o que representamos, nossos valores, nossos amores, etc...
Costumamos nos assombrar com a queda, com a derrota, com o fim de algo, distraídos com o grande evento, perdemos a grandeza do que de fato é responsável, o pequeno detalhe ou o somatório deles...
Pq permitimos que assim seja? Aceito que na maioria das vezes não sejamos capaz de perceber, de observar, de acompanhar a sequência dos eventos, dos pequenos eventos... Mas, na maioria das vezes, mesmo o pior dos sensos críticos, consegue reconhecer sua zona de sombra, perceber onde mora o perigo, o pequeno responsável pelo risco constante, pela perda que nos assombra, o pequeno detalhe que se infiltra, corrói, destrói.
Apesar de frequentemente poder passar despercebido, é fato que somos capazes de perceber com alguma dedicação e esforço que algo vai mal, que algo vai dar errado, que algo se espreita nas zonas de sombras.
Ainda assim permitimos, somos condescendentes, o que me leva a pensar que optamos pela perda pq sabemos lidar melhor, estamos tão habituados e treinados (calejados) que fazemos esta escolha, abdicando da felicidade, da conquista, do momento de alegria, de algo que é bom, positivo.
É inaceitável, visto de maneira crua, que tantas pessoas deixem as zonas de sombra causar tão grandes perdas, a tal ponto que duvidamos da capacidade das pessoas em se auto criticar, se auto definir, se interpretar, se dimensionar, mas e se não for este o problema? E se de fato for uma escolha?
PQP!!!
Será que tantas pancadas na vida podem servir de justificativa pra se negar a felicidade? Será que somos incapazes de nos querer o bem a não ser a nível de discurso? Será que algo obejtivamente justifica erguermos barreiras que impeçam as realizações, a felicidade, o amor e tudo que é bom de entrar, de acontecer? Barreiras que tem como matéria prima aquelas sombrinhas de nossa personalidade, do que somos...
Seria uma variante do pessimismo? De acreditarmos com tal intensidade que algo vai dar errado que já nos preparamos e condicionamos?
Seria como a história do cara que ao ver a casca de banana exclama: _Ih, lá vou eu escorregar de novo...
Como se vê, a sombra que se infiltra já causa dano, seja na auto estima, na noção de merecimento, no amor próprio.
De antemão desistir de ser feliz é muito cruel.
Aceitamos só a felicidade que conseguimos administrar? Só a que sabemos lidar?
Não sei, acho que tudo é questão de aprendizado, de se renovar, tentar o novo, se arriscar, não ter medo de ser feliz, de ser infinito enquanto dure...
Se existem as pequenas coisas que corrompem, existem as pequenas coisas que nos lembram como é bom ser feliz, como é bom ter, conquistar, manter, de vivenciar a exaustão um momento, fazer aquele mergulho que nos tira o ar, dividir, compartilhar, incorporar, ser parte...
É tão bom se flagrar rindo com uma lembrança, pequena que seja, mas que nos persegue o dia inteiro.
Talvez as zonas de sombras sejam fortes, e são, jamais podemos menosprezar, mas se existe um antídoto, está nas coisas boas, estas devemos cultivar, acreditar nelas, senão secamos, como a velha árvore que perde o combate.

Siga a voz da experiência...

Uma velha senhora foi para um safari na África e levou seu velho vira-lata com ela.
Um dia, caçando borboletas, o velho cão, de repente, deu-se conta de que estava perdido.
Vagando a esmo, procurando o caminho de volta, o velho cão percebe que um jovem leopardo o viu e caminha em sua direção, com intenção de conseguir um bom almoço...
O cachorro velho pensa:
-'Oh, oh! Estou mesmo enrascado ! Olhou à volta e viu ossos espalhados no chão por perto. Em vez de apavorar-se mais ainda, o velho cão ajeita-se junto ao osso mais próximo, e começa a roê-lo, dando as costas ao predador ...
Quando o leopardo estava a ponto de dar o bote, o velho cachorro exclama bem alto: -Cara, este leopardo estava delicioso ! Será que há outros por aí ?
Ouvindo isso, o jovem leopardo, com um arrepio de terror, suspende seu ataque, já quase começado, e se esgueirar na direção das árvores.
-Caramba! pensa o leopardo, essa foi por pouco ! O velho vira-lata quase me pega!
Um macaco, numa árvore ali perto, viu toda a cena e logo imaginou como fazer bom uso do que vira: em troca de proteção para si, informaria ao predador que o vira-lata não havia comido leopardo algum.. .
E assim foi, rápido, em direção ao leopardo. Mas o velho cachorro o vê correndo na direção do predador em grande velocidade, e pensa :
-Aí tem coisa!
O macaco logo alcança o felino, cochicha-lhe o que interessa e faz um acordo com o leopardo.O jovem leopardo fica furioso por ter sido feito de bobo, e diz: -'Aí, macaco! Suba nas minhas costas para você ver o que acontece com aquele cachorro abusado!'
Agora, o velho cachorro vê um leopardo furioso, vindo em sua direção, com um macaco nas costas, e pensa:
-E agora, o que é que eu posso fazer ?
Mas, em vez de correr (sabe que suas pernas doloridas não o levariam longe...) o cachorro senta, mais uma vez dando costas aos agressores, e fazendo de conta que ainda não os viu, e quando estavam perto o bastante para ouvi-lo, o velho cão diz :
-'Cadê o filho da puta daquele macaco? Tô morrendo de fome!
Ele disse que ia trazer outro leopardo para mim e não chega nunca! Imediatamente o leopardo se esquiva, sai para longe do cachorro e devora o macaco.
Moral da história: não mexa com cachorro velho... idade e habilidade se sobrepõem à juventude e intriga.
 
Sabedoria só vem com idade e experiência.

domingo, 7 de outubro de 2012

Ouvir Estrelas - Olavo Bilac


"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir o sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizes, quando não estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Namorinho medieval.

Observando a evolução dos relacionamentos temos um vasto cardápio: casamentos arranjados, moedas de troca, formais, informais, misturados, coletivos, distante, próximos, humildes, ostentados, reais, virtuais, românticos, selvagens, tímidos, platônicos, etc...
A tendência evolutiva dos relacionamentos sempre foi de conquistas, de liberdade, de direitos iguais, caminhamos nesta direção, ao menos por tendência, com alguns recuos aqui e ali.
Quando observamos os relacionamentos atuais, e é uma atração fazê-lo, observamos dois grupos se destacando, um com larga predominância e outro ganhando força: os liberais e os formais.
Os liberais, nem preciso explicar, tem até trilha sonora sobre conquistas de baladas, sexo coletivo, misturado e tudo junto, encontros casuais, curtidas em redes sociais, etc...
O segundo grupo poderia até ter surgido em oposição mas...
O formalismo... Este formalismo desconcertante que remete a idade média, de ficar cheio de dedos, de escolher gestos e palavras, de parecer ao invés de ser, de cuidar de cada detalhe até o ponto que fica tudo tão artificial. Não os culpo, acho um esforço válido, mas parece que estamos desaprendendo a nos relacionar, estamos com medo de errar, da franqueza, de falharmos, etc...
Estamos seguindo uma cartilha intuitiva que tira nossa naturalidade, rígidos e pragmáticos, com o intuito de sermos "românticos", apaixonados...
Nada de rompantes de paixão, gestos eloquentes, estamos contidos, no fim, preocupados demais com as aparências, com o discurso, com a expectativa alheia.
Não é um grupo que se opõe ao outro, mas exercita uma variante mais cuidadosa, preocupados demais com o que querem parecer.
Curtir virou sinônimo de facebook, compartilhar idem... Dividimos mp3 com músicas de sucesso, encontramos afinidades em "currículos" sociais... É tão estranho...
Custamos tanto a podermos relaxar um com o outro, conversar, errar, brincar, discutir, amadurecer junto, experimentar a dois, vivenciar, rir de besteiras, ver nossos filmes, pensar, elaborar, cair, levantar... Custamos tanto a sermos naturais, se apaixonar, enrubescer (não emburrecer).
É chato isto...
Como conta uma querida amiga: ..te curti mais no facebook...
Depois se assustam com o nº de casamentos que não duram...
Brindemos com um bom coquetel de viagra a era das aparências...
Afinal, é tão broxante que seja assim...

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Psiquê.

Psiquê, em grego, significa borboleta, e também alma, sopro de vida. A imortalidade da alma é assim ilustrada como a de uma borboleta, criando asas resplandecentes e libertando-se da prisão mortífera do casulo, depois de uma enfadonha e rastejante vida como lagarta, para voar no resplendor do dia e alimentar-se das mais perfumadas e delicadas produções da primavera.

Psiquê é, nessa visão, a alma humana, a qual é purificada pelos sofrimentos e desgraças, preparando-se, assim, para desfrutar de pura e verdadeira felicidade.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Divina Comédia Humana

Belchior

Isolamento social.

Sua cantora favorita é a Etta James e vc nunca ouviu falar de Lady Gaga? Vc ama de paixão "A viagem de Chihiro" e mal se lembra do primeiro Shrek? Vc conhece de cor e salteado as letras do Chico e tem convulsões quando ouve Restart? Vc vê NatGeo e imagina que Avenida Brasil seja só o nome de uma via importante? Vc acompanha a carreira acendente de um ator francês e não tem a menor noção de quem seja Hannah Montana? Vc comenta que está ouvindo Bethoveen e alguém pergunta se é aquele imenso São Bernardo? Bem vindo, vc faz parte dos isolados sociais.
Aqueles que ficam sem assunto em rodinhas, aqueles que não cotnribuem com as discussões acaloradas sobre o BBB, os que não ouvem proibidão ou sertanejo universitário no carro, os que se deprimem quando vão a festinhas regadas a Tche lê lê lês...
Mundinho difícil este... .
Claro que não precisamos de alguns extremos, não precisamos ir tão longe para nos sentirmos isolados. Os olhares andam muito curtos, o descartável predomina.
Eu coloquei algumas músicas aqui no blog, se vc reconheceu a maioria, a chance é imensa de vc ser mais um entre os isolados sociais.
Eis a questão, até o que já foi popular vai se tornando restrito.
Nossa composição cultural é ampla, é natural que veja um blockbuster, que conheça o ator do momento, que já tenha cantarolado um desses sucessos pegajosos, mas seu universo dá uma reviravolta quando vc sobe uma escala, quando vc entra no campo do "desconhecido" popular. Como diz a gíria, é tenso.
Vc é um guerreiro, o último dos moicanos, não que vc represente toda uma cultura, vc representa e luta por sua cultura, pelas coisas que gosta e acredita, pq o mundo conspira para te tirar a individualidade, o gosto pessoal, o prazer de ter opinião.
Dramático? Até pode ser, mas é como ver o mar subindo, vc naquela ilhota sem coqueiro para subir, vc sabe o final da história... Existem poucas bóias disponíveis... O mundo está acabando, culturalmente.
E com trilha sonora:
Tchê tcherere tchê tchê,
 Tcherere tchê tchê,
 Tcherere tchê tchê,
 Tchereretchê
 Tchê, tchê, tchê,
Decorou?
Mas, se quiser um hino para te inspirar a continuar lutando, que tal:
Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores
Geraldo Vandré
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição:
De morrer pela pátria
E viver sem razão
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Cantarolou enquanto lia?
Parabéns... Vc não cantarolou sozinho... Sempre haverá chance de vc encontrar outros como vc.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Se perder...

Vivemos sob conceitos, coisas que entendemos e aceitamos. Enquanto tudo está da maneira esperada, ótimo, mas quando algo novo surge, quando lidamos com uma situação desconhecida e não sabemos bem o que fazer, nós nos perdemos?
A idéia é de que sejamos capazes de lidar com tudo, ao menos com a maioria das coisas, e nos preparamos pra isto.
Mas quando as coisas ficam confusas, quando aparentemente não damos conta ou, como costumo dizer, não conseguimos lidar, estamos perdidos?
Bom, cada caso é um caso... Simples assim.
Primeiro, devemos partir do pressuposto que nosso "mundo" conhecido é limitado, ou seja, nos preparamos para aquilo que sabemos ou imaginamos saber. Em tese, dentro destas condições, estamos no controle.
O novo nos tira momentâneamente o controle, mas não chega a significar que estamos perdido, ao menos ainda não.
O novo precisa ser absorvido, compreendido para finalmente lidarmos.
De certa maneira, somos sugados para dentro do novo, uma força nos puxa. Quando intencional consultamos nossos "guias" de viagem para nos prepararmos.
Apreender o novo costuma ser assustador em suas várias formas, lembra dos tempos que começou a andar de bicicleta sem rodinha? Alguém ia segurando a bicicleta por trás até que sem vc perceber, soltava... Ao se dar conta que estava livre, vinha o medo, o susto... Mas, lidamos e saimos pedalando.
Quem segura a bicicleta nos conduzindo sabe o que vai acontecer, confia na sua capacidade de lidar e estará ali, ao seu lado, para as eventualidades.
Dificilmente vc estará sozinho(a), haverá sempre alguém para te dar a mão, alguém que já passou por isto, alguém que quer compartilhar, um companheiro de viagem, alguém que já é parte do novo... Vc pode optar por fazer isto sozinho, observando aqui e ali, ouvindo o que se tem a dizer, metendo a cara, etc...
Mas ainda assim, não estará perdido.
O novo amplia nossos horizontes, nos revela novas habilidades, novas emoções... O novo enriquece a vida, normalmente não só a sua. Pode ser muito intenso, assustador, mas vale a pena.
Mas estará perdido(a)?
Ainda não... Pode levar tempo, vai usar os recursos que tem, mas logo vc se encontrará, terá o controle de sua viagem, estabelecerá sua nova verdade.
O novo pode contradizer tudo que antes vc sabia, pode confrontar suas convicções, pode botar abaixo seu castelinho construído no decorrer de anos, mas isto não é uma desconstrução e sim uma ampliação do que vc é. Ganhar uma fazenda pode te fazer parecer um estranho ali, mas logo ela terá sua cara, seu jeito. Não estará perdido(a).
Então, o que é se perder?
Talvez o se perder nada mais seja do que o não lidar. Ficar amuadinho no seu canto vendo as paredes de seu pequeno espaço indo abaixo e nada fazer. Olhando o quanto se oferece para vc que nem sequer estende os braços pra sentir. No final das contas, o se perder é um ato indívidual, uma opção, uma anulação, uma ausência.
A outra maneira de se perder é esquecer de vc, de seus valores, do que vc é. Neste caso, se reencontrar, descobrir suas verdades, as esquecidas, é assustador, representa uma outra versão do novo. Levante-se e descubra-se ali.
Somos feitos de acertos e erros, se reerguer e seguir em frente, de ir aprendendo conforme caminhamos, de saber ouvir, de saber observar, de saber segurar a mão estendida... Somos mais bem sucedidos conforme nossa capacidade de compartilhar, das diversas maneiras possíveis, o simples compartilhar.
Não existe fuga quando simplesmente damos dois passos para trás para compreender a grandeza do novo, é como se afastar da montanha para ter sua real dimensão e buscar seus melhores caminhos, o se perder envolve simplesmente virar de costas...
Mas uma coisa é certa, o novo só vale a pena quando é feito para vc e por vc. O novo é a extensão de sua "propriedade", mesmo que compartilhada, sempre será seu ganho, te pertencerá, será sua recompensa.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

O Medo.

Eita coisinha assustadora. Estudar e observar o medo deveria virar ciência com curso e diploma de nível superior.
Somos assombrados por coisas que podem ser insignificantes, mínusculas até. Por coisas com alguma lógica ou totalmente inexplicáveis. Temos medo de ter medo. O tamanho do problema até muda, mas os resultados costumam ser os mesmos. Ou seja, podemos ficar congelados diante de uma barata ou por uma violenta turbulência de avião.
Claro que o medo tem sua utilidade, nos torna prudentes, seria perfeito se fosse assim, mas estamos nos tornando uma espécie que nem chega ao ponto da prudência, desiste bem antes de ter elaborado qualquer plano de como lidar.
Óbviamente o medo não costuma ser racional, mas é impressionante como tem formas e tamanhos diversos, como surge em situações onde menos esperamos, alguns tem nomes de fobias, mas outros...
Temos medo até do que é bom.
O medo é perfeito para criar bons filmes, livros... O medo prende o espectador no sofá (mesmo considerando os pulos de susto), o medo é engrenagem fundamental em novelas de sucesso, medo te prende em relacionamentos, em casa, na rotina, no trabalho, na aparência que tem, na roupa que veste, na vida que leva.
Mas será que se justifica?
Algumas postagens abaixo postei um vídeo do Beto Guedes cantando o medo de amar... Como assim? Pois é... Até isto acontece.
O que existe de tão assombroso no amar que possa despertar medo?
A pergunta é basicamente esta, adaptada as várias faces do medo: "O que existe de tão..."
Eu até compreendo boa parte das razões do medo, como eu disse acima, faz parte do processo do existir, de lidar com o mundo, de se precaver. Eu, por exemplo, tenho medo dos excessivamente corajosos...
Mas e quando vc tem tudo pra te sustentar, todo apoio necessário, condições estáveis, o compartilhar que sempre sonhou e ainda assim, se abandona?
Existe uma expressão que cabe: "larga de mão..."
A felicidade, todos sabem, é conquistada, costumeiramente à duras penas, o medo, consequentemente, te impedirá de ser feliz. Faz sentido?
Voltando à um velho texto que postei aqui no blog, de sermos compostos de blocos, alguns bem encaixados, outros nem tantos, uns bem resolvidos, outros nem tanto... O medo está ali, entre os blocos, por vezes o medo tem seus próprios blocos na composição final.
Vc pode ser corajoso, ousado na maior parte das vezes, mas é onde o medo aparece que torna tudo extraordinário.
Revivendo o textos do passado, tb já disse aqui que todos enfrentamos problemas iguais, o que nos torna diferente é como lidamos com eles. Hummm... Nas entrelinhas, o medo de novo.
O medo cria a cerca, ergue o muro, fecha as portas... Logo somos nós atrás das grades, reféns de nosso medo.
Não significa que não devemos ter medo, ao contrário, mas a graça está em saber lidar, saber encontrar saídas, saber driblar... Este é o real desafio da vida.
Muitos dirão que devemos viver com responsabilidade. Sim, eu assino embaixo. Mas quem disse que devemos usar esta capa para justificar nossa covardia?
O medo está em todo lugar, está nas entrelinhas de um texto, está nos recantos da alma, está contido no gesto (contido), na máscara que se usa, no sonho não sonhado, na acomodação da escolha, no pasto seguro...
O que assusta no medo é como ele toma as almas mais fortes, mais vigorosas, mais capazes, mais resolutas. Ou seja, como ele rouba a luz destas almas.
Confesso que muito de minha desesperança vem dai, de ver luzes se apagando, se perdendo.
A luz precisa ter nem que seja uma razão egoísta pra viver, precisa do sonho, do desejo, da coragem, precisa se fortalecer tb nas pequenas coisas, assim como faz o medo. Até o momento que serão tantas as razões pra luz brilhar mais forte, que não sobre sombra pro medo se esconder.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Para meus Amigos

Loucos e Santos

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim. Para isso, só sendo louco. Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
 
Oscar Wilde

Matrix

Os relacionamentos do passado se inspiravam nos romance. Os atuais se inspiram em redes sociais.
Antigamente vc se relacionava por afetividade, afinidade, sonhos em comum. Hoje vc estabelece contratos conforme convenções de sociais. O que define a relação é o grau de compatibilidade dos recursos e hábitos a serem exibidos.
Antes as lembranças, hoje o instagram. Antes a troca de olhar, hoje a troca de tuitada. Antes o abraço, hoje o bluetooth. Antes o amor, hoje o curtir.
Hoje vc leva aos encontros toda uma comunidade de contatos, partilha com eles cada momento, cada ganho, cada momento "glamuroso".
Estes contratos sociais, estas fachadas bem arrumadas não sei se se sustentam. É tudo tão tecnológico, uma mídia sem validade conhecida.
O que há de mais natural se perde, as sensações, as descobertas dão lugar aos atalhos.
Tanto se fala de BBB, mal se dando conta que estão lá dentro, gerenciando seus perfis, maquiando a realidade, passando photoshop nos detalhes.
Tudo ao alcance de um toque, até pouco tempo atrás era um clique, logo teremos comando de voz, "realidade" aumentada, etc...
Enxergaremos o mundo como uma tela de retina, selecionaremos os aplicativos e excluiremos outros com apenas um toque. Seremos descartáveis...
Será que sou antiquado? Ou devo me modernizar (ceder)?
:-)

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Homenagem...


A quem luta pelo que acredita.

Liberdade.

Ângulo... by Eros - O Dom
Ângulo..., a photo by Eros - O Dom on Flickr.
Desde criança sonhamos com liberdade, muito mais do que ser livre, queremos ter decisão em nossas vidas, ter as rédeas.
Com o tempo descobrimos que não é tão fácil assim, que ter vida nas próprias mãos desafia, cansa, nos leva, muitas vezes, ao limite.
A reviravolta é quando começamos a desejar abdicar desta liberdade, esquecer os problemas, as responsabilidades, viver sem o fardo de ter que pensar em tudo.
Viramos reféns de nós mesmos, pq a escolha é nossa.
Concedemos o direito a outro(s) e não podemos reclamar das consequências, das perdas.
Mas nada substitui a liberdade, o direito de criar suas coisas, de conduzir de seu jeito, de colher os frutos.
A vida é seu canteiro, nela vc planta e colhe aquilo que deseja, só suas mãos habilidosas (ou não) serão capazes de cuidar bem, de zelar, de manter o viço.
Erras faz parte do processo, é assim que aprendemos, ganhamos o jeito certo.
Não, ninguém prende vc, vc sim que abdica do direito de ser livre, que abandona seu canteiro.
Para sermos bons cuidadores, precisamos começar por nós mesmos, como diz o ditado: casa de ferreiro, espeto de pau?
O tempo te ensina a cuidar de seu canteiro, te dará a habilidade necessária e, orgulhos(a), poderá compartilhar isto com as pessoas que vc gosta.
Isto é liberdade, vale a pena lutar por ela, vale a pena lutar por vc.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Momento Chico Buarque.




Para inspirar os de bom gosto.

Vc está no controle?

Vc acredita ter o controle, imagina que tudo está em suas mãos até que escorregam por entre os dedos.
Vc leva sua vida sob a ótica de que tem total controle, que pode mudar os rumos quando quiser, que pode fazer escolhas por sua livre e espontânea vontade, mas...
Quando vai testar, se dá conta que não, que quem tem o controle não é vc, mas outra pessoa.
A grande arte do ser humano é fazer o outro acreditar que está no controle, simular aceitação, parceria, companheirismo, no entanto, olhando de perto, só está se beneficiando, te deixando confiante no papel que vc supõe ter para, no momento que for preciso, revelar sua verdade.
Observe que nem sempre é preciso, tudo pode funcionar bem, sem que haja necessidade de se revelar.
Outras vezes a brincadeira de parecer ao invés de ser é de ambos os lados, é conveniente aceitar e fingir seus papéis para que tudo fique bem.
Outras vezes é um jogo arriscado onde vc coloca o outro sob pressão de agir e/ou reagir, sabe-se lá quais serão as consequências, o tesão está justamente no jogo, no não saber o resultado.
Tb é comum se enganar, mesmo sabendo que não está no controle, se insiste em imaginar que está, ameniza algumas sensações difíceis de lidar.
O excesso de confiança tb é um inimigo, impede de perceber o cenário a sua volta, os movimentos do tabuleiro e quando se dá conta, caiu na armadilha.
Em alguns momentos é só preguiça, basta acreditar que estamos no controle, algumas vezes até estivemos, mas por preguiça deixamos o jogo virar.
O que importa é que, na maioria das vezes, a situação ilusória de estar no controle é ruim, tem efeitos ruins em nossas vidas. Ao menos quando nos damos conta de que não temos ou quando perdemos, de repente os papéis se invertem e pronto, como lidar?
Talvez devamos pensar se temos condições efetivas de ter o controle, nem todo mundo está habilitado pra estar no comando da própria vida e atos.
Algumas vezes é até vantajoso ceder o controle, se bem que relações de parceria são bem mais ricas, onde existe o compartilhar ao invés do se submeter.
Mas para ceder, transferir o controle, existe o mérito, quem tem o controle deve merecer, ter condições de estar ali, senão...
A troca de posições deve ser respeitosa, elegante até, a força pode até ser aceitável por algum tempo, mas não perdura sem conteúdo, sem o mérito.
Não dá pra se conquistar o controle dando rasteira, jogando sujo, apelando pra força, etc... Muito menos aceitar esta troca quando se dá sob essas condições.
Consciente de seu papel, de suas expectativas, faça prevalecer, jamais ceda, não se deixe enganar, não acredite em contos da carochinha...
Nem o passado nem a expectativa do futuro são bons argumentos. O que passou, passou, talvez nunca volte. O que virá é só uma visão embaçada, uma torcida para que aconteça. Contra fatos, não há argumentos.
Não tem como ser feliz vivendo num papel que não é seu, sem ter o mínimo controle sobre sua vida e decisões. Não tem como conceder espaço, em alguns casos isto tem outro nome: invasão.
Se teu papel é ter o controle, se teu papel é pleno quando se compartilha, lute, faça prevalecer quem vc é, não ceda, não se entregue, nãos e submeta, não se negue a ser quem vc de fato é.
Acima de tudo, acredite em vc, a realidade depõe a seu favor.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Homenagens e lembranças...


A Menina.

Lá vai a menina subindo e descendo a montanha em sua pequena carruagem de fruta. Desviando aqui e ali, corre para cuidar dos seus. A menina cuidadora, que zela pelo bem dos outros.
Menina cheia de sonhos, cheia de conquistas, que dribla os obstáculos, que chora, que ri, que pede colo, que se inspira no passado em busca de seu futuro.
Menina que se refugia na natureza, entre cachoeiras e sonhos. Menina grande, poderosa.
Menina, mulher, fêmea.
Mas sabe disto? Sabe quem é?
Esta menina não cabe presa na torre de um castelo, cabe liberta e cheia de vida. Esta menina cheia de luz precisa brilhar sem grilhões.
O servir, o fazer o bem não exige anulação.
Em sua grandeza a menina vai conquistando, abrindo portas, mas não se dá conta.
A vida pede um salto, exige, clama. Mas e a menina? Ouve?
Querem roubar a felicidade da menina, tirar seu sorriso do rosto.
Não deixe menina, pq a verdadeira força é sua, as escolhas são suas, os outros só roubam de vc sua luz.
Não se esconda, nada tema, acredite.
Não se deixe perseguir, não tenha mais medos dos cantos e recantos, de quem se esconde, de quem se tornou sua sombra, quem invade seu espaço, que te ameaça.
Não tenha medo do novo, do mundo que se revelará, ele é todo seu, sua vida te preparou pra isto.
Sim menina, foi vc que abriu a porta, mas não foi vc que fechou.
Em seus sonhos vc voa, está na hora de voar, ter novos sonhos e tornar real os antigos...
Está na hora de se libertar de sua própria armadilha.
Não faça isto por ninguém, faça por vc.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Nossa fazenda

Fazenda dos Coqueiros by S.Teylor
Fazenda dos Coqueiros, a photo by S.Teylor on Flickr.
Uma imagem sobre nossas vidas que cai bem é a de fazenda, nela cabem todos nossos sonhos, nossas realizações, nossos amigos, nossos amores.
Construímos e mantemos nela tudo que é parte importante do que somos.
Da mesma maneira, se descuidarmos, ela será invadida, o mato tomará conta, as construções vão se fragilizar até virar ruínas e saudade.
Poucos compartilham contigo essa fazenda, poucos vc permite entrar, conhecer os lagos e cachoeiras, conhecer seus recantos mais secretos...
Essas pessoas são as importantes em sua vida, é por elas que tudo vale a pena, mas sem elas...
Nem sempre elas podem ficar, muitas vezes elas tem as próprias fazendas pra cuidar, mas manter a sua sempre cuidadosa e a porteira aberta é sabedoria.
A felicidade está em colocar dentro de sua fazendo tudo aquilo que importa, cuidar pra jamais deixar que ocorra invasões ou abusos de qualquer espécie, zelar por cada canto e recanto, nada é menos importante, o todo que nos mantém.
Minha fazenda pode até ser restrita, mas continuarei cuidando dela, pq sei que pessoas que importam sempre poderão vir me visitar, e quero compartilhar com elas tudo aquilo que contruo, tudo aquilo que construímos.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Escolhas convenientes.

Sermos bem sucedidos, por vezes, camuflam uma realidade, a das escolhas convenientes, aquelas que servem para viabilizar a vida.
São escolhas, ou decisões, use conforme preferir, que determinam as oportunidades, as prioridades, as zonas de conforto. Em geral abdicamos de alguma(s) coisa(s) e aceitamos outra(s) para que tudo corra bem, dentro do plano estabelecido.
Sim, é um processo racional, pouco intuitivo e emocional.
Chega a tal ponto que podemos chamar de mentiras convenientes.
Mas isto é uma constante em nossas vidas, vez ou outra fazemos isto, não somos imunes, muito menos superiores.
Seja para nos darmos bem, seja por fuga de algo, medo ou insegurança, ambição, etc...
Normalmente fazemos isto com o foco fechado, pensando num objetivo mais imediato, outras tem um olhar mais amplo, mas muitas vezes confuso, distorcido da realidade.
Por exemplo, vc sofreu muito em uma relação, isto basta para concluir que todas serão iguais e com base nisto escolher uma vida de superficialidade? Vc sofreu com uma criação rígida, isto basta para que tenha uma relação totalmente liberal com os filhos? Vc sofria bulling na escola, isto basta para que sua ambição seja desmedida?
O problema das escolhas convenientes é que desaprendemos a tomar decisões sérias, maduras, com relevância. Como se diz, vamos empurrando com a barriga.
Este é o tipo de situação que não dá pra ver somente nos outros, afinal, todos fazemos isto, ao menos uma vez na vida. Até time de futebol pode ser escolhido por conveniência. E o que é a moda? E o linguajar? A aparência? As eleições?
O que sei é que devemos romper as correntes, assumirmos quem nós somos, nossas escolhas, nossos sentimentos.
Não adianta ter um aspecto de sua vida bombando, se desenvolvendo com sucesso, pq chegando ao fim, sobra a realidade.
Não adianta atalhos, distrações, nos envolvermos com algo que nos toma de todo, pq sempre haverá uma "área" precisando de cuidados, de atenção, de zelo, ou seja, de nossas decisões.
Isto cabe a nós, não tem como terceirizar, encarar os fatos, agir.
Tem um ditado simples e que fala muito sobre isto:
"Havia três sapos na beira da lagoa, um decidiu pular, quantos ficaram?"
Pular exige de nós, pede algo a mais, mas não será melhor do que não se sustentar com a realidade?
Muitas vezes tem coisas em nossas vidas funcionando, dando certo, são escolhas bem feitas, mas elas iludem, podem dar a impressão que está tudo certo, que somos exemplos de sucesso. Mas só nós sabemos o que sacrificamos pra isto.
Quando falo que todos nós fazemos isto, ao menos uma vez, significa que tivemos a chance de aprender algo ali, a maturidade significa olhar pra estes eventos de nossa vida e aprender com eles.
Do que vc tem medo? Pq tanta insegurança para pular? O que te fragiliza de tal modo que te faz fazer escolhas convenientes? O que te faz continuar mentindo pra si mesmo(a)?
A resposta sobre os sapos é que ficaram três, afinal, um só decidiu pular... Mas não pulou...
Uma curta história para complementar:
"Um Rei morava em um castelo se deteriorava por falta de cuidados, ele passava o dia ouvindo reclamações e delegando responsabilidades para que tudo se resolvesse, mas os problemas continuavam.
Um dia uma fada surgiu para ajudá-lo e seu único pedido foi para que ela resolvesse todos os problemas do castelo, ela então lhe deu uma varinha de condão e disse: essa varinha te ajudará, basta você ir até o local do problema e usa-la. Convicto do poder da varinha o Rei passou a percorrer o castelo e os problemas foram se resolvendo uma a um, mal sabia que a varinha não era mágica, a "mágica" era a simples presença dele"

segunda-feira, 16 de julho de 2012

A música e seus significados...


Eu desço dessa solidão, espalho coisas sobre um chão de giz
Há meros devaneios tolos a me torturar
Fotografias recortadas em jornais de folhas amiúde
Eu vou te jogar num pano de guardar confetes
Eu vou te jogar num pano de guardar confetes

Disparo balas de canhão, é inútil pois existe um grão vizir
Há tantas violetas velhas sem um colibri
Queria usar quem sabe uma camisa de força ou de vênus
Mas não vão gozar de nós apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar gastando assim o meu batom

Introdução

Agora pego um caminhão, na lona vou a nocaute outra vez
Pra sempre fui acorrentado no seu calcanhar
Meus vinte anos de "boy, that's over, baby" , Freud explica
Não vou me sujar fumando apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar gastando assim o meu batom
Quanto ao pano dos confetes já passou meu carnaval
E isso explica porque o sexo é assunto popular

no mais estou indo embora 3x

No mais…

Mensagens a Fernando Sabino - Hélio Pellegrino

Na juventude, já grande amigo do escritor Fernando Sabino, Hélio Pellegrino lhe escreveu a seguinte mensagem:

"O homem, quando jovem, é só, apesar de suas múltiplas experiências. Ele pretende, nessa época, conformar a realidade com suas mãos, servindo-se dela, pois acredita que, ganhando o mundo, conseguirá ganhar a si próprio. Acontece, entretanto, que nascemos para o encontro com o outro, e não o seu domínio. Encontrá-lo é perdê-lo, é contemplá-lo em sua liberrérima existência, é respeitá-lo e amá-lo na sua total e gratuita inutilidade. O começo da sabedoria consiste em perceber que temos e teremos as mãos vazias, na medida em que tenhamos ganho ou pretendamos ganhar o mundo. Neste momento, a solidão nos atravessa como um dardo. É meio-dia em nossa vida, e a face do outro nos contempla como um enigma. Feliz daquele que, ao meio-dia, se percebe em plena treva, pobre e nu. Este é o preço do encontro, do possível encontro com o outro. A construção de tal possibilidade passa a ser, desde então, o trabalho do homem que merece seu nome."

Muitos anos depois, quando completava 60 anos, Hélio reformulou o que havia escrito para Sabino, com muito humor:

"Quando você faz 20 anos está de manhã olhando o sol do meio dia. Aos 60 são seis e meia da tarde e você olha a boca da noite. Mas a noite também tem seus direitos. Esses 60 anos valeram a pena. Investi na amizade, no capital erótico, e não me arrependo. A salvação está em você se dar, se aplicar aos outros. A única coisa não perdoável é não fazer. É preciso vencer esse encaramujamento narcísico, essa tendência à uteração, ao suicídio. Ser curioso. Você só se conhece conhecendo o mundo. Somos um fio nesse imenso tapete cósmico. Mas haja saco!"

Os textos acima foram extraídos do livro "Hélio Pellegrino - A paixão indignada", da coleção "Perfis do Rio", Relume-Dumará / Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 1998, pág. 11 e seguintes.

sábado, 14 de julho de 2012

Parceiro ou refém?

Em nossos relacionamentos somos aquilo que aceitamos e estabelemos para nós. O que permitimos ao outro, o que nos mantém ligado ao outro determina nosso papel.
O relacionamento mais maduro, mais bem resolvido envolve parceria, claro que tem muito mais aqui, que faz com que esta parceria funcione, mas o que cabe é observar como deixamos isto escapar entre os dedos e nos tornarmos dependentes do outro, como abdicamos ou nos perdemos de tal maneira que nossa individualidade e felicidade se deteriora, como nos tornamos reféns do outro.
O papel do outro nem sempre é forçado, voluntário, ninguém se auto estabelece no controle de uma relação sem que haja um permissão, ou melhor, uma ausência que defina os contornos da relação.
O amor é um bom motivo pra que as coisas caminhem assim? Não se for compartilhado, maduro, o amor entre duas pessoas é base da parceria, da troca, não de uma relação onde um se submete, se resigna com seu papel.
É preciso estar confortável na relação, nada temer, não estar condicionado, não ter condições para que a relação se mantenha.
Mas pq tanta gente aceita isto?
Boa pergunta, mas de resposta nem tanto difícil. Se bem que são muitas alternativas: carência, insegurança, medo, aparências, dependência...
Mas, se olharmos bem de perto, a maioria das respostas não cabem, as pessoas enxergam o mundo de forma muito própria, e nele elas são peças frágeis da engrenagem quando, muitas vezes, elas são as engrenagens principais.
Nessas fantasias, muitas vezes pensamos que somos nós que estamos no controle, até que...
Quando intencional, o grande truque do "seqüestrador" é inverter os papéis, induzindo o outro a se perceber de outra maneira, mais fragilidade, em outra palavras, alguém que não terá chances melhores sem " ele".
Grande mentira.
Como sempre o tempo é protagonista, ou vc se dará conta ou deixará passar e nunca mais terá volta.
Claro que algumas vezes a pessoa dá sorte e encontra alguém muito acima da expectativa, ou seja, da qual vale a pena abdicar de algumas coisas pra ser feliz, mas até que ponto a balança é justa? Até que ponto vc faz as escolhas certas? E até que ponto vc é retribuído por seu "sacrifício"?
Mesmo na sorte e, convenhamos, a sorte é encontrar alguém que realmente nos complemente, é possível a infelicidade, a manipulação, o uso, o abuso.
E quando somos grandes pensando pequeno? É nossa falta de fé que nos leva à armadilha? A falta de fé na gente, na vida? Não acreditar no que somos, nos que podemos ser e ter?
Muitos dirão que é falta de fé no amor, na felicidade, na grandeza do ser humano. Muitos dirão que a vida não é um romance. Mas...
Olhe a sua volta. Temos sim exemplos de fracasso, de como as relações se esvaziaram, perderam o sentido. Mas veja, "perderam o sentido" aponta para o passado, onde as relações eram autênticas, de cumplicidade, eram de verdade. Não importava como começava, mesmo as arranjadas se estabeleciam com parceria.
O passado pode até ser nosso exemplo, mas se olharmos bem, o presente tb nos brinda com ótimas fotografias da vida a dois.
Se vc sonha com seu futuro numa bela casa no campo, recebendo visita de seus netos e contando histórias, muito mais do que um sobrenome em comum, é preciso duas figuras pra compor seus sonhos, dois personagens parceiros, que construíram juntos a realidade.
Se não for assim, será só alguém sentado na varanda lamentando suas escolhas.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

O Banquete - Platão (Discurso de Aristófanes)


"Com efeito, parece-me os homens absolutamente não terem percebido o poder do amor, que se o percebessem, os maiores templos e altares lhe preparariam, e os maiores sacrifícios lhe fariam, não como agora que nada disso há em sua honra, quando mais que tudo deve haver. É ele com efeito o deus mais amigo do homem, protetor e médico desses males, de cuja cura dependeria sem dúvida a maior felicidade para o gênero humano. Tentarei eu portanto iniciar-vos em seu poder, e vós o ensinareis aos outros. Mas é preciso primeiro aprenderdes a natureza humana e as suas vicissitudes. Com efeito, nossa natureza outrora não era a mesma que a de agora, mas diferente. Em primeiro lugar, três eram os gêneros da humanidade, não dois como agora, o masculino e o feminino, mas também havia a mais um terceiro, comum a estes dois, do qual resta agora um nome, desaparecida a coisa; andrógino era então um gênero distinto, tanto na forma como no nome comum aos dois, ao masculino e ao feminino, enquanto agora nada mais é que um nome posto em desonra. Depois, inteiriça era a forma de cada homem, com o dorso redondo, os flancos em círculo; quatro mãos ele tinha, e as pernas o mesmo tanto das mãos, dois rostos sobre um pescoço torneado, semelhantes em tudo; mas a cabeça sobre os dois rostos opostos um ao outro era uma só, e quatro orelhas, dois sexos, e tudo o mais como desses exemplos se poderia supor. E quanto ao seu andar, era também ereto como agora, em qualquer das duas direções que quisesse; mas quando se lançavam a uma rápida corrida, como os que cambalhotando e virando as pernas para cima fazem uma roda, do mesmo modo, apoiando-se nos seus oito membros de então, rapidamente eles se locomoviam em círculo. Eis por que eram três os gêneros, e tal a sua constituição, porque o masculino de início era descendente do sol, o feminino da terra, e o que tinha de ambos era da lua, pois também a lua tem de ambos; e eram assim circulares, tanto eles próprios como a sua locomoção, por terem semelhantes genitores. Eram por conseguinte de uma força e de um vigor terríveis, e uma grande presunção eles tinham; mas voltaram-se contra os deuses, e o que diz Homero de Efialtes e de Otes é a eles que se refere, a tentativa de fazer uma escalada ao céu, para investir contra os deuses. Zeus então e os demais deuses puseram-se a deliberar sobre o que se devia fazer com eles, e embaraçavam-se; não podiam nem matá-los e, após fulminá-los como aos gigantes, fazer desaparecer-lhes a raça - pois as honras e os templos que lhes vinham dos homens desapareceriam — nem permitir-lhes que continuassem na impiedade. Depois de laboriosa reflexão, diz Zeus: "Acho que tenho um meio de fazer com que os homens possam existir, mas parem com a intemperança, tornados mais fracos. Agora com efeito, continuou, eu os cortarei a cada um em dois, e ao mesmo tempo eles serão mais fracos e também mais úteis para nós, pelo fato de se terem tomado mais numerosos; e andarão eretos, sobre duas pernas. Se ainda pensarem em arrogância e não quiserem acomodar-se, de novo, disse ele, eu os cortarei em dois, e assim sobre uma só perna eles andarão, saltitando." Logo que o disse pôs-se a contar os homens em dois, como os que cortam as sorvas para a conserva, ou como os que cortam ovos com cabelo; a cada um que cortava mandava Apolo voltar-lhe o rosto e a banda do pescoço para o lado do corte, a fim de que, contemplando a própria mutilação, fosse mais moderado o homem, e quanto ao mais ele também mandava curar. Apolo torcia-lhes o rosto, e repuxando a pele de todos os lados para o que agora se chama o ventre, como as bolsas que se entrouxam, ele fazia uma só abertura e ligava-a firmemente no meio do ventre, que é o que chamam umbigo. As outras pregas, numerosas, ele se pôs a polir, e a articular os peitos, com um instrumento semelhante ao dos sapateiros quando estão polindo na forma as pregas dos sapatos; umas poucas ele deixou, as que estão à volta do próprio ventre e do umbigo, para lembrança da antiga condição. Por conseguinte, desde que a nossa natureza se mutilou em duas, ansiava cada um por sua própria metade e a ela se unia, e envolvendo-se com as mãos e enlaçando-se um ao outro, no ardor de se confundirem, morriam de fome e de inércia em geral, por nada quererem fazer longe um do outro. E sempre que morria uma das metades e a outra ficava, a que ficava procurava outra e com ela se enlaçava, quer se encontrasse com a metade do todo que era mulher - o que agora chamamos mulher — quer com a de um homem; e assim iam-se destruindo. Tomado de compaixão, Zeus consegue outro expediente, e lhes muda o sexo para a frente - pois até então eles o tinham para fora, e geravam e reproduziam não um no outro, mas na terra, como as cigarras; pondo assim o sexo na frente deles fez com que através dele se processasse a geração um no outro, o macho na fêmea, pelo seguinte, para que no enlace, se fosse um homem a encontrar uma mulher, que ao mesmo tempo gerassem e se fosse constituindo a raça, mas se fosse um homem com um homem, que pelo menos houvesse saciedade em seu convívio e pudessem repousar, voltar ao trabalho e ocupar- se do resto da vida. E então de há tanto tempo que o amor de um pelo outro está implantado nos homens, restaurador da nossa antiga natureza, em sua tentativa de fazer um só de dois e de curar a natureza humana. Cada um de nós portanto é uma téssera complementar de um homem, porque cortado como os linguados, de um só em dois; e procura então cada um o seu próprio complemento. Por conseguinte, todos os homens que são um corte do tipo comum, o que então se chamava andrógino, gostam de mulheres, e a maioria dos adultérios provém deste tipo, assim como também todas as mulheres que gostam de homens e são adúlteras, é deste tipo que provêm. Todas as mulheres que são o corte de uma mulher não dirige muito sua atenção aos homens, mas antes estão voltadas para as mulheres e as amiguinhas provêm deste tipo. E todos os que são corte de um macho perseguem o macho, e enquanto são crianças, como cortículos do macho, gostam dos homens e se comprazem em deitar-se com os homens e a eles se enlaçar, e são estes os melhores meninos e adolescentes, os de natural mais corajoso. Dizem alguns, é verdade, que eles são despudorados, mas estão mentindo; pois não é por despudor que fazem isso, mas por audácia, coragem e masculinidade, porque acolhem o que lhes é semelhante. Uma prova disso é que, uma vez amadurecidos, são os únicos que chegam a ser homens para a política, os que são desse tipo. E quando se tornam homens, são os jovens que eles amam, e a casamentos e procriação naturalmente eles não lhes dão atenção, embora por lei a isso sejam forçados, mas se contentam em passar a vida um com o outro, solteiros. Assim é que, em geral, tal tipo torna-se amante e amigo do amante, porque está sempre acolhendo o que lhe é aparentado. Quando então se encontra com aquele mesmo que é a sua própria metade, tanto o amante do jovem como qualquer outro, então extraordinárias são as emoções que sentem, de amizade, intimidade e amor, a ponto de não quererem por assim dizer separar-se um do outro nem por um pequeno momento. E os que continuam um com o outro pela vida afora são estes, os quais nem saberiam dizer o que querem que lhes venha da parte de um ao outro. A ninguém com efeito pareceria que se trata de união sexual, e que é porventura em vista disso que um gosta da companhia do outro assim com tanto interesse; ao contrário, que uma coisa quer a alma de cada um, é evidente, a qual coisa ela não pode dizer, mas adivinha o que quer e o indica por enigmas. Se diante deles, deitados no mesmo leito, surgisse Hefesto e com seus instrumentos lhes perguntasse: Que é que quereis, ó homens, ter um do outro?, E se, diante do seu embaraço, de novo lhes perguntasse: Porventura é isso que desejais, ficardes no mesmo lugar o mais possível um para o outro, de modo que nem de noite nem de dia vos separeis um do outro? Pois se é isso que desejais, quero fundir-vos e forjar-vos numa mesma pessoa, de modo que de dois vos tomeis um só e, enquanto viverdes, como uma só pessoa, possais viver ambos em comum, e depois que morrerdes, lá no Hades, em vez de dois ser um só, mortos os dois numa morte comum; mas vede se é isso o vosso amor, e se vos contentais se conseguirdes isso. Depois de ouvir essas palavras, sabemos que nem um só diria que não, ou demonstraria querer outra coisa, mas simplesmente pensaria ter ouvido o que há muito estava desejando, sim, unir-se e confundir-se com o amado e de dois ficarem um só. O motivo disso é que nossa antiga natureza era assim e nós éramos um todo; é portanto ao desejo e procura do todo que se dá o nome de amor. Anteriormente, como estou dizendo, nós éramos um só, e agora é que, por causa da nossa injustiça, fomos separados pelo deus, e como o foram os árcades pelos lacedemônios; é de temer então, se não formos moderados para com os deuses, que de novo sejamos fendidos em dois, e perambulemos tais quais os que nas estelas estão talhados de perfil, serrados na linha do nariz, como os ossos que se fendem. Pois bem, em vista dessas eventualidades todo homem deve a todos exortar à piedade para com os deuses, a fim de que evitemos uma e alcancemos a outra, na medida em que o Amor nos dirige e comanda. Que ninguém em sua ação se lhe oponha - e se opõe todo aquele que aos deuses se torna odioso - pois amigos do deus e com ele reconciliados descobriremos e conseguiremos o nosso próprio amado, o que agora poucos fazem. E que não me suspeite Erixímaco, fazendo comédia de meu discurso, que é a Pausânias e Agatão que me estou referindo talvez também estes se encontrem no número desses e são ambos de natureza máscula mas eu no entanto estou dizendo a respeito de todos, homens e mulheres, que é assim que nossa raça se tornaria feliz, se plenamente realizássemos o amor, e o seu próprio amado cada um encontrasse, tornado à sua primitiva natureza. E se isso é o melhor, é forçoso que dos casos atuais o que mais se lhe avizinha é o melhor, e é este o conseguir um bem amado de natureza conforme ao seu gosto; e se disso fôssemos glorificar o deus responsável, merecidamente glorificaríamos o Amor, que agora nos é de máxima utilidade, levando-nos ao que nos é familiar, e que para o futuro nos dá as maiores esperanças, se formos piedosos para com os deuses, de restabelecer-nos em nossa primitiva natureza e, depois de nos curar, fazer-nos bem aventurados e felizes".

Esperando...


As coisas boas são eternas, a espera é só o reconhecimento...

quarta-feira, 4 de julho de 2012

As questões da paixão.

Dizem que o amor é cego, dizem que devemos mergulhar numa paixão, falam de amor sem limites, mas será mesmo que somos capazes de ir tão longe?
Uma amostra que as coisas podem ter limite é a paixão platônica, vc fica na sua só curtindo o outro e nada de ser arriscar a se machucar, sofrer.
Outros evitam a todo custo se meter com isto, nada de se apaixonar, amores eternos ou qualquer coisa que lembre histórias de romance.
O óbvio da história é que tudo depende do outro, seja o espaço concedido, seja a recíproca, a confiança, ou seja, mergulhar em algo intenso sempre dependerá do outro, do quanto vc pode confiar no outro no sentido de lidar com toda intensidade envolvida.
Vc pode ter muita energia, mas o quanto poderá explora-la dependerá do quanto o outro te deixar confiante pra isto.
A sabedoria diz que vc deve conhecer bem o terreno onde vai erguer suas construções, sem bases sólidas, nada se sustenta. Grandes construções exigem bases bem seguras, não?
Como se trata de algo feito a dois, o confiar vai além, vai na percepção do quanto o outro saberá lidar com o todo, no quanto vc pode compartilhar e na capacidade do outro de lidar com isto, ou seja, não só com a própria carga, mas com a que vc levará consigo.
Não é discutir que gavetas cada um vai usar, é ter a sensibilidade de, mesmo sem palavras, saber até onde podem ir, como chegar lá, sem perder os caminhos de volta.
Cumplicidade, que tanto se fala, é ter comprometimento com um "projeto", é pensar no par, é dançar, fluir como se fossem um. É segurar um a mão do outro e seguir, sabendo que pode contar, que se um tiver dificuldade, o outro se sustenta, lida, mantém.
Esta confiança no outro é o verdadeiro limite da paixão, ou vc se declara às cegas sem esperar recíproca? Mesmo apaixonado, sempre tem o medo de "forçar" demais, de ficar aquém, de não saber expressar o sentimento, de impor um peso que o outro não suporte, de ser leve demais, etc...
No fim, sempre haverá boas doses de razão agindo, em algum momento, mesmo para o mal, a razão age. Sim, pq a "razão" pode ser o motivo para sua covardia ou para seus excessos.
Mas como falar em pensar como se fosse um num mundo tão egoísta, possessivo? Num mundo onde a aparência conta mais do que o que de fato se é? De novo, um limite se impondo.
Temos a experiência deste amar ilimitado e sem medo com pais, avós, filhos... Aos menos deveríamos, mas se existe um ambiente propício para experimentar é justamente com eles.
Mas é tão difícil experimentar este mergulho no abismo com outro quando não se sabe se existe uma rede lá embaixo, ou quando não se sabe se o outro conseguirá manter o vôo contigo ou, pior, quando não sabemos se nós mesmos somos capazes...
Eu diria que tudo depende da leitura, da boa leitura, se vc faz a leitura certa, vc curte e aproveita bem o que sente, pq vc dimensiona bem e, de maneira madura, vc vivencia esta experiência única. Afinal, não é de todo ruim sentir, se apaixonar, mesmo que vc não consiga ter tudo que desperta dali. Com a leitura certa, vc pode sim se entregar e vivenciar em toda intensidade, de maneira real, sem fantasia ou ilusão, sem histórias de romance.
Só não faça por carência, modismo, necessidade. Não seja refém das expectativas, suas e alheias, viva o que for verdadeiro, se permita. Experimente dentro do tamanho certo, nem mais, nem menos, é um momento único quando é real.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Frase da Semana.

"Os fatos revelam tudo, as atitudes confirmam. O que você diz - com todo o respeito - é apenas o que você diz..."

quinta-feira, 17 de maio de 2012

A Era das redes sociais.


Criamos perfis, escolhemos aquilo que queremos transmitir, filtramos o que queremos que os outros saibam. Redes sociais são vitrines estimulantes pra curiosos e para seus autores/criadores.
Certamente existe muito mais sobre cada pessoa do que o que se revela nas redes sociais, e não nos esqueçamos dos blogs, onde se tenta, em tese, transmitir os pensamentos e um pouco do modo de ser da pessoa.
É óbvio que o mundo virtual está muito distante do mundo real, afinal, se filtramos e escolhemos a dedo o que publicar, pq supor que ali se revela toda a pessoa?
Vc pode sim acreditar, com razão, que uma boa leitura permite tirar algumas conclusões, juntando com o que vc sabe do mundo real, vc consegue ter novos elementos sobre a pessoa, mas se resumir ao mundo virtual é de uma simplicidade de quem acredita, também, que o mundo o julgará pelo que vc posta.
De repente um conjunto de fotos, textos tirados de publicações, um curtir daqui, um comentário dali, uma postagem acolá e pronto, sabemos tudo que precisamos.
Parecer hoje é mais importante que ser. Ainda assim, se acredita que toda verdade se revela ali, nos perfis.
O interessante é que os recursos virtuais são evoluções ou distorções, depende do ponto de vista, do que já existia no mundo real. Antes eram as cartas, depois o telefone, agora o MSN ou e-mail. Antes os diários, agora os blogs.
Existe o bom uso das ferramentas virtuais mas, em alguns casos, os,perfis merecem até mais cuidado do que a própria pessoa, vc leva a salões virtuais, se preocupa com a decoração, com a posição de cada coisa, com as cores, procura tornar o “ambiente” agradável, causar uma boa impressão.
Mas esta imagem criada corresponde ao que vc é? Revela-se ali tudo sobre a pessoa? Não, mesmo que vc se esforce tanto, não. Um perfil jamais será capaz de expor tudo sobre vc, a realidade ainda continuará largamente de fora.
Como saber que vc está sofrendo? Como saber que vc precisa de um abraço? Como saber se vc dormiu bem? Como saber se vc está se cuidando? Pelo que vc escreve ou posta? Jamais, nada se compara ao contato real.
Mas, se por um lado tem a crença equivocada de quem cria, tem o exagero ou a ingenuidade de quem lê. Pq tantas pessoas acreditam em tudo que leem? Em tudo que enxergam ali? Não que sejam mentiras, mas pq, é óbvio, é impossível publicar tudo que de fato acontece e, com jeitinho, só se publica o que quer.
Sim, somos leitores ruins, parece que existe uma necessidade de aceitar aquilo até pra nos permitir “mentir” também. É tanta distorção da realidade que começamos a acreditar mais nos personagens que criamos do que no que somos.
Nossos personagens costumam ser melhores que nós (ou piores), mas não podemos nos tornar reféns deles. Perfis acabam, nós continuamos. Perfis desconectam, nós não.
Pressupor que toda verdade cabe num perfil é de uma ingenuidade assustadora, supor que tudo se sabe a partir do que se lê é crítico, pq quando perdemos a capacidade de reconhecer a realidade, quando nos desconectamos dela, o que esperar de nossas decisões?
Parece que nos esquecemos de que por trás de cada perfil existe um ser humano que tem uma vida com sabores e dissabores. Parece que nos esquecemos de que somos serem humanos. Precisamos olhar um pouco mais pra nós mesmo, precisamos buscar um pouco mais de humanidade do outro lado da tela.
Não sei até que ponto esta mensagem é capaz de mudar alguma coisa, é muito conveniente e agradável se resumir a virtualidade. Mas se for possível, não deixe de viver.