segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Antes um pássaro na mão do que dois voando...

Adoro frases, ditados, mais do que adorar, aprendi a respeitar, afinal, buscamos tanto ter referências em nossas vidas e elas muitas vezes estão diante de nossos olhos, num pára-choque de caminhão, pintadas num viaduto, pronunciadas por tios ou avôs, até ouvimos de nossa vizinha fofoqueira.
Tem uma que é mais antiga do que andar para frente: Antes um pássaro na mão do que dois voando.
Todo mundo já ouviu, provavelmente já usou em algum momento da vida, mas quantos realmente pararam para pensar em seu significado?
Bom, cada um vai fazer uma leitura pessoal, eu farei a minha.
Muitas vezes a gente conquista algo com solidez, e fica tão convicto de ter a “propriedade” que se esquece de manter.
Na faculdade era comum ouvirmos casos para exemplificar posturas, decisões, um desses casos era de um Rei cujo castelo se deteriorava por falta de cuidados, um dia uma fada surgiu para ajudá-lo e seu único pedido foi para que ela ajeitasse o castelo, ela então lhe deu uma varinha de condão e disse: essa varinha te ajudará nos problemas do castelo, basta você ir até o local do problema e usa-la. Convicto do poder da varinha o Rei passou a percorrer o castelo e solucionar todos os problemas, mal sabia que a varinha não era mágica, os problemas eram resolvidos a partir da simples presença dele.
Algumas vezes a certeza de ter conquistado algo nos faz relaxar, diminuir os cuidados, começamos a buscar novas conquistas esquecendo as anteriores. Outra frase boa sobre isso é a que diz que chegar no topo é fácil, se manter nele que é difícil.
Evidentemente não devemos nos estagnar, mas também não devemos usar as conquistas anteriores como meros degraus para as que se seguem.
Cada coisa tem um valor único em nossas vidas, uma história de conquistas, de beleza, uma história que não pode ser esquecida.
Mesmo quando você dirigir uma Ferrari você ainda vai se lembrar com ternura da primeira bicicleta de rodinhas, mesmo quando viajar o mundo se lembrará do encanto da primeira vez que viu o mar, mesmo quando se tornar o presidente da empresa se lembrará da alegria do primeiro salário.
Somos e devemos ser ambiciosos, isso é uma virtude, o defeito está em como agimos, que atitude temos diante da vida e das pessoas.
Quantas frases e textos dizem da carga que carregamos de cada contato que fizemos na vida, de cada colega, amigo? Você sabe quem te contou aquela piada que você adora repetir sempre que surge uma oportunidade? Você sabe quem te contou aquela história que você acha super interessante? Você se lembra quando foi que ouviu a primeira vez a frase base desse texto?
Inevitavelmente somos o somatório de nossas experiências e vivências, então por que insistimos em não olhar para trás?
Ah, sim, foi uma experiência ruim. Mas não te ajudou a jamais repeti-la? Pouco importa se foi bom ou ruim, faz parte de nós e não devemos negar. É natural olhar para trás e ainda se envergonhar com o que fizemos, mas também devemos pensar em como evoluímos a partir desta experiência. Eu me orgulho do que sou a partir do que vejo no passado, as perspectivas que tinha, os sonhos e até os projetos não realizados me motivam ainda mais, por que me sinto mais capaz ainda de realizá-los.
Fazemos tanta questão de olhar para frente que esquecemos do presente e do passado, esquecemos de viver, de fazer parte daquilo que nos faz bem.
Ficamos buscando a felicidade e às vezes ela está ao nosso lado, mas olhamos tão obsessivamente para frente que esquecemos de olhar para o lado ou mesmo para trás.
Olhar demais para frente nos trás a sensação de envelhecimento, é como dirigir do Rio à Brasília e na altura de Juiz de Fora ficar pensando o quanto falta, vamos achar que apesar de estar acima de cem ainda estamos lentos, mesmo com toda distância percorrida.
Vamos chegar a Brasília, pegamos a estrada certa, cuidamos bem dos meios para chegar lá, criamos condições, basta deixar acontecer, vamos contemplar a paisagem, bater papo com que viaja conosco, parar de vez em quando, descansar, ou seja, vamos aproveitar a viagem.
Viver é criar condições hoje para ter sucesso no amanhã, erraremos muitas vezes, mas antes errar agora do que no futuro.
Não sei por que nos cobramos tanto, queremos acertar sempre e isso é impossível.
Procure uma história de sucesso. Encontrou? Agora veja se essa história é feita só de acertos. Viu quantos erros foram necessários para o sucesso? Conclusão. Os vitoriosos são aqueles que souberam lidar com os erros.
Se fossemos perfeitos não teríamos escolas, conselhos, livros de auto ajuda, auto escola e etc. Simplesmente decidiríamos fazer algo e pronto. Sequer um erro, só sucesso.
Nossos corpos trazem as marcas, algumas quase invisíveis, do aprendizado, desde pequenos caímos, nos cortamos, ganhamos ovos na cabeça, pernas, braços, manchas roxas lindas para combinar com as roupas rasgadas na última travessura, foi assim que aprendemos.
Apesar de todas essas evidências, ainda achamos que podemos construir uma história de sucesso sem erros, ficamos obstinadamente olhando para frente que esquecemos de viver o agora e rejeitamos o passado.
Só que nesse processo você perde o amigo, a oportunidade, o aprendizado e, talvez, o grande amor de sua vida.
E tudo poderia ser evitado se tivéssemos prestado atenção numa única e velha frase: Antes um pássaro na mão do que dois voando.

Um comentário:

Bárbara Lemos disse...

Olha só, não tinha lido ainda nada teu. Gostei e concordo contigo.

Bisous.