sexta-feira, 18 de março de 2016

Ir até o fim...

Em 2013 os brasileiros, quase todos, se animaram com as manifestações democráticas, o gigante havia acordado. Alguns ainda olhavam desconfiados, calejados pelo passado, imaginando que logo voltaria a dormir. Eram manifestações contra tudo que está ai, ou seja, sem alvo fixo, afinal, verdade seja dita: tudo está corrompido.
Logo surgiram os aproveitadores de sempre, os que se infiltram, os que tentam usar a massa a seu favor. Logo surgiram as cópias dos modelos importados com o pressuposto que só se consegue algo a partir da violência. E logo, tb, surgiram os incomodados com supostos direcionamentos, ou seja, não uma manifestação válida se "ataca" aqueles que defendo.
Para variar, o gigante adormeceu de novo e, tb para variar, não se refletiu nas urnas no ano seguinte.
A questão aqui é algo que toda rodinha de amigos um dia colocou em discussão: brasileiro não protesta, brasileiro é passivo, brasileiro aceita toda e qualquer sacanagem sentado no sofá.
Ainda dentro do contexto das conversas de bares, de rodinhas de amigos, se usa o comparativo de vários países, no passado e presente, que mudaram através da "revolução" popular. Primavera disto, primavera daquilo, mas nada de primavera brasileira.
Os mais antigos tb comparam nosso período militar com os dos nossos vizinhos, nossa acomodação e aceitação do modelo. Até nas diretas já, quando o congresso solenemente nos ignorou.
O gigante adormecido tem vasto álbum de fotografia, longa história e eventos desconexos, de tempos em tempos saindo pra uma caminhada mas logo voltando pro seu sofá.
Parece que isto tb se reflete na dificuldade que muitos tem em aceitar pontos de vista contrários, o exercício pleno da democracia que é, na essência, a aceitação das diferenças. Não me venham falar que nos desacostumamos por conta do período militar, lá se vão quantos anos que eles se foram? Qtas novas gerações estão por ai que mal sabem como eram as coisas naqueles tempos?
Mas, como bom gigante adormecido, nossas mais virulentas discussões acontecem do sofá de casa, através das redes sociais.
É fundamental ter em mente que toda manifestação democrática sempre será bem vinda, contra ou à favor do que vc acredita, até pq é assim que evoluímos, inclusive, como seres humanos. Ficar destilando sabedoria acima dos outros é arrogância, ouvir e aceitar é sabedoria.
Estamos vendo diante de nós a história acontecer, nenhum período da história do Brasil foi tão rico em acontecimento e envolveu tantos personagens e em tão pouco tempo. Como se diz, a República balança.
Não podemos jamais perder essa noção, não só da gravidade, mas da grandiosidade do momento, diante disto não se pode simplesmente pensar em acomodar, devemos sim deixar a história acontecer, não se faz reforma sem desconforto.
Mas começo a ver gente tendendo a buscar saídas amenas, cômodas, confortáveis. Gente que parece se incomodar com o "barulho" e prefere voltar a dormir. 
Cansei, passamos anos reclamando disto e quando uma oportunidade aparece, a velha preguiça bate? Quero que isto vá até o fim, que faça uma limpeza geral, que se registre pra história e ensine que nada disto será mais aceitável. Dirão alguns que é utopia, palavrinha conveniente pra momentos assim.
Penso que mudanças devem ter a força de trens, que sejam desgovernados no começo, mas que arrastem tudo de ruim e velho com ele. Não posso pensar só no presente e no desgaste que isto tudo representa, tenho que olhar pra trás e pra frente, pq um ensina o que devemos evitar, outro é o novo que devemos construir.
Só não podemos, de novo, nos abrigar nos sofás, voltar pras zonas de conforto usando qualquer desculpa ao alcance. 
Começamos, vamos até o fim.