quinta-feira, 20 de setembro de 2007

O Xadrez da vida.

Viver é um jogo de xadrez.
Quantas vezes ouvimos isso? Muitas.
Mas não é que faz sentido?
O estilo que adotamos define os resultados que obtemos.
Se abrirmos o jogo sem pensar, deixamos as portas abertas para ataques furtivos ou até mesmo mortais.
Se pensarmos demais em defesa, estaremos sempre sob ataque.
Se pensarmos de maneira imediata deixamos sempre algo desprotegido para eventuais ataques.
Se soubermos todas as estratégias de início do jogo mas não soubermos finalizar logo estaremos perdidos.
Se nos especializamos em finalizar, poucas vezes teremos chance de aplicar esse conhecimento já que podemos perder o jogo no início.
Se capricharmos demais no meio do jogo, corremos o risco de ficarmos sem saídas.
Xadrez não se assemelha a dama já cada peça cumpre uma missão, cada peça tem valor fundamental pra condução do jogo.
Não tem como menosprezar o valor e a eficácia das peças e seu potencial, sejam as nossas, sejam as do adversário.
Xadrez exige paciência, observação.
Exige percepção de oportunidade.
Exige capacidade de enxergar mais à frente.
Buscar fragilidades no adversários sem deixar ele perceber as nossas.
Muitas vezes é necessário sacrifícios importantes para alcançar nossos objetivos.
É preciso atenção contra o blefe, armadilhas, ofertas generosas.
Existe um único objetivo no xadrez: o Rei.
Não tem como mudar esse objetivo, não tem como eleger objetivos em detrimento do objetivo principal.
Pois é, quanta semelhança com a vida.
Observando mas atentamente o xadrez, aprendemos algo mais, não existe inimigo, do outro lado existe alguém que respeitamos, que procuramos conhecer, observar, aprender.
Existe até admiração.
Muitas vezes vivemos a vida como quem joga dama, damos valor igual a tudo, não temos um objetivo real, cumprimos meros rituais que se repetem sem inovação a cada “jogo”.
No entanto, viver é contar com o inesperado, com situações complexas, não existe simplificação que caiba numa única definição ou condução.
A cada ação, uma série infinita de opções novas se abre, tentar prever as mais viáveis é o que está ao nosso alcance.
Vivemos emoções diversas, de tensão à euforia.
Viver tem alguns dos encantos do xadrez, desejar que a vida seja um jogo de dama, como toda sua simplicidade ou, pior, tentar fazer da vida um jogo de dama pode te tirar o melhor da festa.
Apreciar o resultado de cada ação e os possíveis desdobramentos é algo único, encantador.
Não existe derrota quando se joga bem, existe aprendizado.
Você se levanta, cumprimenta seu “adversário”, sorri gentilmente e repassa todos os belos momentos da partida anterior.
Solta um sorriso ao perceber o erro que te levou a “derrota”, absorve e aprende, se torna um “jogador” melhor.
Seu adversário te observa e pensa: “Na próxima terei mais trabalho”.
O que faz um melhor que o outro é o aprendizado, a dedicação, o exercício da paciência, de saber medir os passos, saber alternar o ritmo, saber respeitar a complexidade do “jogo” e amar estar ali vivenciando tudo, percebendo todas as nuances do que tem em volta.
Evidentemente viver é muito mais do que um xadrez, não passamos horas sentados avaliando os próximos 20 movimentos, viver é jogar xadrez na montanha russa e não há nada comparável.
Não estou tentando resumir a vida a um jogo, até por que esse é o pior modo de encará-la. Mas se em tudo na vida podemos tirar lição, é com gosto e admiração que busco num jogo milenar referências tão interessantes. E sim, eu amo xadrez.
Viver com sabedoria aproveitando tudo que a vida oferece é algo sublime.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Deus não dá asas à cobra...

Algumas vezes fazemos tudo certo, perfeito mas não alcançamos o que era esperado.
Apesar do capricho e dos cuidados no passo a passo para alcançar determinado objetivo, nada conseguimos.
Ai vem aquela sensação de injustiça, raiva, até ódio da vida e de todos.
De fato poucas coisas são tão ruins quanto a sensação de derrota quando sabidamente fizemos tudo certo.
Mas...
Nem sempre é possível ganhar, por vezes é bom enxergar além de nós mesmos para compreender os fatos, às vezes o que é justo é algo bem maior do que imaginávamos, às vezes na busca de uma oportunidade para nós conseguimos uma oportunidade para alguém que precisava mais, até estava mais ameaçado.
Tudo bem, nem sempre é assim, muitas vezes injustiça é injustiça e pronto. Surge de alguém que se incomoda com nosso crescimento, nosso sucesso ou por simplesmente ter motivos para “privilegiar” outras pessoas.
Além de todas essas questões óbvias que não enxergamos na cegueira da ira, tem uma mais divina: “Deus não dá asas à cobra...”
Muitas vezes uma perda aqui ensina muito sobre como agir diante de situações parecidas, muitas vezes um recuo hoje significa ter condições de aproveitar uma oportunidade maior lá na frente e, certamente, algumas derrotas impedem que nos tornemos arrogantes, convencidos, cheios de mais da própria capacidade.
Às vezes é bom levar uma chinelada hoje para moderar nosso apetite, nossa conduta, muitas vezes seguimos um caminho de vaidade sem perceber, nossos gestos estão carregados de soberba e isso afeta, sem dúvida, nosso sucesso.
Evitar isso é sempre importante, não que façamos de maneira consciente, muitas vezes é até involuntária, mas fazemos.
Vitórias são deliciosas, mas também são transformadoras, e para quem não sabe lidar elas só trazem problemas.
Acredito piamente na justiça, nem sempre ela vem no nosso tempo, nem sempre ela acontece diante de nossos olhos, nem sempre ela parece proporcional por nosso ângulo pessoal, mas não resta dúvida de que a justiça sempre se fará.
É bom pensarmos nisso tudo antes de nos sentirmos derrotados, os ganhos de uma derrota podem ser bem maiores do que a vitória intencionada, devemos esperar a recompensa, a justiça por que ela certamente vem no tempo certo, nem sempre no nosso tempo, mas já que a vida é um aprendizado, ergamos a cabeça e sigamos em frente com mais esse ensinamento por que, desde que mantenhamos a conduta correta, chegaremos até nossos objetivos.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Pequenos pecados.

Você já foi vítima dos pequenos pecados? Aquele comentário distraído de um amigo que te magoou, aquela fechada no trânsito sem querer, aquele desprezo inocente da pessoa amada?
É engraçado como viver envolve o risco de errar, erros que nem percebemos, que por algum motivo fere alguém mas nem nos damos conta.
Por vezes provocam reações extremas, radicais, mas a ação que deu origem nem ao menos é perceptível para quem as comete.
Dirigindo nas estradas você vê algumas barbeiragens, típica de distração ou mesmo falta de habilidade, mas que muitas vezes causam acidentes graves.
Fico imaginando quantos acidentes graves são provocados por manobras distraídas de pessoas que chegam em casa satisfeitas com a viagem tranqüila que acabaram de fazer, desconhecendo o estrago que deixaram pelo caminho.
Alguns fatos da vida podem ser assim resumidos, personagens de pequenas manobras distraídas que causam grandes estragos mas que nossa inocência permite manter a paz em nossa cabeça e a consciência tranquila.
De vez em quando um amigo, um colega, uma pessoa da família nos trata diferente e a gente nem desconfia sobre o motivo. No emprego, quantas situações criadas que afetam nosso destino, pelo menos o imediato, por ações inocentes.
Quantas impressões causadas, quantas certezas criadas, quantas convicções desfeitas ou afirmadas por uma frase dita, um gesto rápido, um movimento brusco?
É muito difícil se policiar a esse nível, talvez o melhor a fazer seja compreender quando somos as “vítimas” dos pequenos pecados.
É inevitável que no decorrer da vida se cometa uma série infindável de pequenos pecados, mas eles só se tornam grandes pecados conforme a leitura que se faz.
Talvez seja oportuno perdoar aquela frase dita num momento de estresse, aquele atitude brusca num momento de doença, a percepção de sermos ignorados quando a outra pessoa esta atribulada ou mesmo perdoar aquela distração de quem está cansado.
Isso não justifica, obviamente, gestos e atitudes intencionais, premeditadas, estamos falando de pequenos pecados, os cometidos inocentemente.
Como é usual na justiça, o dolo e a culpa, são coisas distintas, nem sempre temos a intenção de magoar, ferir, desagradar, fazemos isso em pequenos deslizes, imperceptíveis deslizes.
Também não se inclui nesse grupo o deslize freqüente, a brincadeira desagradável e persistente, o gesto grosseiro e repetitivo.
Julgamos o que é habitual e perdoamos o que foge a ele, se assim não agirmos, corremos o risco da injustiça, de cometermos um erro maior do que aquele que condenamos.
Escrever, por exemplo, é sempre assustador, por que você se coloca ao julgo do leitor, nem sempre o leitor é respeitoso ou mesmo bondoso com seus erros, equívocos, deslizes. Muitas vezes ele faz questão de encontrar algum motivo para criticar (dizem que os críticos ficam na posição confortável de criticar justamente por não serem autores de nada que possa confrontá-los).
Conheço tanta gente que deixa de expor o que pensa por medo dos julgamentos, por que sabem que pequenos pecados podem ganhar dimensões elevadas nas mãos dos críticos oportunos.
É, mundo complicado onde temos que nos policiar tanto, onde não podemos contar com a compreensão alheia.
Bom, tentarei fazer minha parte, tentarei me policiar não nos meus gestos, mas na forma que avalio os gestos dos outros. Claro que correrei riscos de, por distração, me exceder em algum julgamento, mas espero que também me perdoem, já anda tão difícil viver, é tão bom se permitir ao menos os erros leves.
Quem sabe seja um começo e os que leram meu texto acabem por perdoar os pequenos deslizes de alguém que tenta passar para as palavras o que pensa?

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Saúde...

Na virada de ano costumamos desejar de maneira sincera a todos os entes queridos que tenham saúde, considerando que mais do que dinheiro ou qualquer outra coisa, só com saúde tudo se torna possível.
Em suma, é a saúde o que nos permite alcançar nossos objetivos.
Mas fica a pergunta: Porque na virada de ano ela é tão importante e nos esquecemos dela nos outros 364 dias?
Muitas vezes as coisas vão mal no trabalho, dentro de casa e não percebemos que é nossa saúde que pede cuidados. Reclamamos de tudo, encontramos culpados, nada parece render e ainda assim nem um olhar mais atento pra dentro de nós.

Voltando a virada de ano, se observarmos bem saúde é um conceito que funciona relacionado aos outros, enquanto externamos desejos de saúde, na nossa cabeça temos mil planos pessoais e em nenhum está um maior cuidado com nosso corpo e mente.
É a velha visão adolescente, somos infalíveis, imortais, acima do bem e do mal? Nada nos afeta, somos predestinados ao sucesso, uma máquina azeitada para atingi-lo e se acaso não acontecer, são fatores externos e não falha na máquina?
Uma palavrinha que se tornou habitual em nosso vocabulário: manutenção, algumas vezes combinada com a palavra preventiva.
Carro, equipamentos eletrônicos, casa e etc. Quando não é necessária a manutenção, fazemos a troca. Agora, nosso corpo, em que categoria se enquadra? O que necessita de manutenção ou a que permite troca?
Alguns dirão que não tem tempo, eu diria que uma máquina bem azeitada é tão produtiva que sobra tempo e disposição para tudo.
Outros dirão que detestam médicos e o ambiente que os cercam, pois é, eu também, confesso que não sou exemplo de “paciente”, mas tenho que humildemente aceitar que é necessário ceder.
Outros dirão que nada sentem, que tudo está bem, que é só um período negativo e que logo as nuvens negras irão embora e tudo ficará bem.
Isso sem falar nas justificativas sobrenaturais, nos ensinamentos de Buda, Confúcio ou outro sábio que vem tão bem a calhar, nos livros de auto-ajuda que surgem nas cabeceiras ou na famosa intuição que diz que algo bom logo virá.
Homeopatia, aculpuntura, curanderismo, alopatia. A milênios alguma forma de medicina, conforme a época e/ou cultura, diz que o fundamento de nosso sucesso está nos cuidados com o corpo.
Só para citar um exemplo, alguns especialistas dizem que o sucesso da seleção brasileira que chegou ao tricampeonato mundial se deve aos cuidados com os dentes. Pois é, eram os dentes mal cuidados que comprometiam o desempenho de nossos atletas, a partir do momento que passaram a cuidar, a seleção atingiu seus objetivos como tão bem conhecemos. Será?
É inquestionável o talento acima da média das três seleções que nos deram o tricampeonato, mas de fato devemos considerar que talento sozinho nem sempre resolve e estar gozando saúde plena permite que nosso talento seja usado ao limite.
Duas das medicinas citadas acima são conhecidas por valorizar o todo, não buscam tratar o problema em si mas as possíveis origens e ganham pacientes fiéis em virtude de seu zelo e sucesso no tratamento. Mas uma vez voltamos a lógica de que cuidando aqui, ganharemos acolá.
Parece que tudo na vida está associado como numa corrente, elos fracos afetam a corrente.
O corpo humano é a máquina perfeita (vaidade típica da espécie), como máquina vez ou outra exige recall, manutenção, cuidados. Como máquina dá sinais exteriores de que algo vai mal, sinaliza que uma das engrenagens vem afetando o restante.
Mas por que não conseguimos enxergar assim? Por que rejeitamos essa verdade absoluta?
Acho que tem uma hora que precisamos mudar alguns conceitos e encarar de frente nossas reais necessidades, já dizia Paulo Cintura – “Saúde é o que interessa, o resto não tem pressa” – para aproveitar melhor o potencial de nossa “máquina”, vamos cuidar melhor dela?
Acho que é um bom momento para encontrar um espaço na agenda para nosso médico, quem sabe para aquele exame engavetado, quem sabe o nobre leitor ou leitora terá mais paciência na próxima vez para ler meus textos longos até o fim.
:-)