sábado, 29 de outubro de 2011

Desejo - Adil Tiscatti

Sempre trago uma música para compartilhar, muitas nem tão conhecidas, mas que valem a pena.
Espero que gostem.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Um Novo Personagem Mitológico

A mitologia é cheia de personagens que sofrem, vivem as mais profundas angústias, convivem com as mais diversas dores.
Vou criar um hoje, alguém que é capaz de ver as pessoas além das máscaras, alguém que é capaz de encontrar o que há de melhor em cada um de nós, mas que está aprisionado, reprimido.
Seu dom é conhecer as pessoas além do que elas próprias sabem, ver, enxergar, mergulhar no seu mais profundo íntimo, fazer viagens de descobertas fascinantes.
Algumas viagens serão nebulosas, assustadoras, enfrentando camadas e mais camadas de proteção até conseguir achar o que de bom se esconde ali.
Outras serão viagens tristes, por camadas que consomem o ousado viajante.
Outras serão surpreendentes, pelo simples motivo de não encontrar razão pra manter preso tudo de bom que a pessoa tem.
Este nosso personagem conhece nosso melhor, se encanta pelo que descobre e nos trata de acordo com o que sua viagem proporcionou.
Óbvio que em algumas viagens não descobrirá nada de bom, destes, ele mantém distância.
Mas pense na felicidade que esta viagem proporciona, encontrar beleza e encantamento nos terrenos mais áridos, de onde menos se espera.
A princípio, nosso personagem é um felizardo, um abençoado. Encontra beleza onde ninguém mais encontra, enxerga cores onde todos enxergam cinza, vê luz onde todos tateiam na escuridão.
Mas...
Nosso personagem não tem a chave, não tem o poder de libertar toda esta beleza que encontra. Ele sabe que está lá, ele conhece todas as camadas que encobrem e mantém preso tudo de bom que temos mas fora sua capacidade de viajar, entrar e sair, não consegue trazer para fora tudo que vê.
Pior, muitos mal acreditam naquilo que ele descreve, desqualificando o nobre personagem viajante.
Infeliz com seu próprio destino, ainda sofre por testemunhar que tudo aquilo de bom que se guarda ali dentro vai ficando cada vez mais escondido nas profundezas, afastando cada vez mais as pessoas de tudo de bom que poderiam conquistar.
Com o tempo, ele silencia, se acomoda e lamenta o destino das pessoas que tinham grandes promessas de felicidade e realização.
Nosso infeliz personagem tb não tem como fugir de seu próprio dom, pq suas viagens não tem controle, ele é simplesmente sugado pra dentro, enfrentando todos os percalços do caminho até achar o tesouro escondido. Ele não tem escolha.
 
Carregamos um pouco destes personagens mitológicos dentro de nós, lembrando que este é mera criação. Quantas vezes vc sentiu na pele o que nossa personagem sente? Quantas vezes passou por isto? Quantas vezes conseguiu ver além mas nada pôde fazer?
 
As pessoas que passam em nossas vidas sempre levam um pedaço de nós, queiram ou não queiram.
 

domingo, 2 de outubro de 2011

Ingratidão.

Existem várias situações que minam, destróem uma relação. Existem várias ocorrências que colocam as relações em xeque, que criam dúvidas e inseguranças, que desestabilizam ou, por vezes, fazem ruir tudo.
Escolhas, posturas, coisas ditas, ações, reações, fatos...
A história dos relacionamentos é rica, uma bibliografia vasta e interminável e ainda sendo escrita.
Muito se fala das mais óbvias, das que machucam mais, das que causam mais clamor e é interessante ver como reagimos a elas.
Num resumo, o ser humano e nossos relacionamentos estão empobrecendo e naufragando em nossos proprios erros e egoísmo, cada vez mais focados no próprio umbigo, esquecemos o que nossos atos causam nos outros, esquecemos o que os outros causam em nós, esquecemos o quão importante são os relacionamentos na construção de nossa identidade.
Não que a história não nos permita aprender, o "surpreendente" é que não faltam ensinamentos, mas...
Às vezes acho que perdemos a sensibilidade de perceber as coisas a nossa volta, talvez tenhamos embrutecido e perdido esta capacidade ou, simplesmente, fazemos vista grossa.
No nosso esgoísmo não estamos nem ai pra quem fica, o importante é seguir em frente, viver novas "aventuras", novas histórias, sem perceber que quanto mais nos aventuramos, mais perdemos a nossa essência.
De onde vem esta ingratidão? Pq nos tornamos tão ingratos com aqueles que estiveram ao nosso lado, nos apoiaram, nos fizeram ser o que somos e conquistar os espaços que temos?
Como se dá este processo de olhar pra alguém e não enxergar mais toda a história rica de convivência e entrega mútua? Como isto se perde?
Afinal, memória não é um pen drive, um dispositivo descartável.
Como então isto acontece a ponto de não reconhecer mais o outro, olhar e ver ali outra pessoa?
O interessante é que anda tão habitual, que nós mesmos nos transformamos, embrutecemos, etc.
Os vínculos se dão como se fossem modismos, hoje vc me serve, amanhã já será ultrapassado.
Desculpas temos aos montes: é a vida, é o ritmo natural da vida, a vida deu uma guinada, aconteceu uma coisa, etc, etc, etc.
A falta de tempo, desculpa quase padrão, é a mesma que usamos com os pregadores de portão ou com aquele entrevistador que nos abordam nas ruas.
Mas o que justifica a ingratidão? Supondo que eventualmente vc se toque, como vc lida com isto? Quanto tempo demora esta sensação ruim de se sentir ingrato? Lavo o rosto e pronto, passou?
Sou do tempo, ao menos do final deste tempo, quando ainda existia o cumprimento educado nas ruas, quando vc se predispunha a ajudar ao próximo, quando vc se preocupava e buscava estar próximo, quando vc abria a porta de sua casa pra quem precisava desde uma boa conversa até um abraço, um carinho. Quando isto era o esperado das pessoas.
Nos tornamos descartáveis? 
Começo a entender por esta virtude vem se perdendo nas pessoas...