quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Assombrados pelo Passado

Por mais que queiramos esquecer o passado, ele é parte de nós, parte do que somos e nos tornamos.
Por mais que a gente queira se ausentar, todos os nossos atos, inclusive a falta deles, afeta um sem número de pessoas à nossa volta.
Ficou famosa a frase da teoria do caos sobre o bater de asa de borboleta, não podemos, portanto, imaginar que nossos atos sejam impunes, nem pra nós, nem para os outros.
Vejamos, por exemplo, aqueles que tentam se livrar do passado, por mais que se esforce, sempre haverá um tanto de nós que resulta justamente do que fomos, sempre haverá olhares sobre nós que resultam do que representamos pro outro...
Por mais longe que possa ir, sempre haverá ao menos uma sombra a te perseguir, a sua ao menos...
Não somos bem resolvidos, é fato, tentamos driblar, fingir, esconder, mas... Somos o que somos, o que nos tornamos... Quando fechamos os olhos, uma vida passa diante de nós...
Da mesma maneira são nossos atos, como uma pedra jogada no lago, os círculos que se formam vão afetando desde os mais próximos até os mais distantes, mesmo aquele que nem sabe quem é vc, de alguma maneira será afetado.
Não tem como fugir, é um erro tentar fugir... É uma mentira.
Podemos não ter orgulho, mas é parte de nossa construção... Não seria o que é sem o que fez.
Por vezes parecemos querer cauterizar pedaços de nossas lembranças, queremos imunizar os efeitos de nossos atos, não adianta, sempre haverá uma marolinha indo distante, chegando onde menos se espera, onde queremos evitar.
Vc pode fingir que está tudo bem, vc pode até conseguir passar grande parte de seu tempo lidando com um novo eu, com um novo cenário, mas logo sentirá os tremores, os suores de uma lembrança, do que fez ou deixou de fazer, a lembrança do que deixou pra trás, as decisões que tomou, as escolhas que fez...
E se...?
Vc será atormentado pela perguntinha chata, buzinando no seu ouvido, tal qual o diabinho e o anjinho disputando suas escolhas.
Se mesmo lidando de maneira franca com o passado e nossos atos ainda restam sombras, imagina quando damos uma guinada com intenção de fuga? Quando chutamos o balde achando que bastará pra sermos felizes?
Muitas vezes somos, não se nega. Mas a custa de que?
Eu vejo uma obra, o qto de entulho e sujeira ela produz, o qto de destruição, o qto de descaracterização... Mas basta esperar pra ver o resultado.
Negar o passado é negar os motivos de seu sucesso, é negar os motivos do que vc é, todos nós passamos por obras e reformas.
Se ausentar é uma fuga inconsequente, pq ignora que mesmo o silêncio afeta a audição... A escuridão afeta a visão... Não imagine que seu esquecimento será compartilhado por quem vc quer esquecer.
O que fez está feito, provocou mudanças, afetou pessoas, situações, vc sempre estará presente, de alguma maneira que seja...
Pq somos uma coleção de experiências, de vivências, de contatos, de coisas que ouvimos, vimos... Não se extirpa partes, pq logo elas se recompõe... Talvez até de maneira mais dolorosa.
Vc sempre manterá com vc aquilo que foi, por mais que lute contra esta verdade.
Vc sempre afetará a vida de outros, pq mais que tente se ausentar.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

De vez em quando sinto orgulho...

Seria esperado dizer que de vez em quando sinto vergonha... Mas, não, infelizmente não dá pra ser assim.
Se a gente sair da leitura convencional, do olhar acostumado em relação as barbaridades do dia a dia, a sensação será de vergonha, e só eventualmente de orgulho.
Aqui e ali algo nos alegra, nos motiva, nos renova, nos passa esperança mas...
A gente meio que se acostumou com a impunidade, com a grosseria, com a violência, com o desconforto, com a corrupção, com os abusos, com os aproveitadores, com a desonestidade, com as dificuldades, com a necessidade de matar um leão por dia.
Andamos em conduções lotadas, passamos horas dos nossos dias em engarrafamentos, sofremos nas filas dos hospitais, preventivamente carregamos o dinheiro do ladrão, aturamos de tudo um pouco pra seguir em frente.
E vira e mexe vem alguém e esfrega na nossa cara o abuso, a arrogância, o desrespeito.
Perdemos a esperança, esta é a realidade, pq só isto explica o "costume".
Nós tb temos culpa, claro. Votamos, não? Jogamos lixo na rua, não? Andamos pelo acostamento, não? Erguemos o tom de voz e proferimos grosserias, não?
Elogiamos tanto o exterior, mas logo contamos de peito estufado como usamos o jeitinho brasileiro lá fora, pra nos dar bem.
Alguns anos atrás um comercial de cigarro popularizou a Lei de Gerson, ou seja, sempre nos darmos bem. Ela continua em vigência.
Reclamamos das enchentes, com razão, mas temos nossa cota na maneira de tratar o lixo. Reclamamos da violência mas apoiamos o uso dela como só quiséssemos ver o circo pegar fogo.
O que se vê de político sendo aplaudido quando evidentemente está jogando pra platéia diz muito sobre o que está por vir.
Descaradamente ludibriamos as regras pra ganhar um bolsa "esmola" qualquer, ou vai me dizer que vc não conhece ninguém que receba algum beneficio indevidamente?
E as tetas do governo só nutrem políticos? E o "exército" de pessoas que são sustentadas (por nós), apesar de maiores de idade, com casa própria, saúde boa e qualidade de vida acima da média? Vai me dizer tb que nunca observou qts em seu bairro sobrevivem sem trabalho conhecido e, ainda assim, mantendo um nível de vida bem acima do esperado?
Não é preciso de jornal pra saber dos problemas, basta olhar a sua volta, algumas vezes, basta olhar pra dentro de si.
E não tem idade, os jovens que são o futuro prometem tanto, não?
Observe, toda vez que vc está numa fila, haverá alguém reclamando de alguma coisa. Na maioria das vezes com razão, mas não dá pra elogiar as belezas naturais de nossa rica nação, que não temos desastres naturais, que somos um povo cordial, simpático, que todos amam, que temos cinco copas se esquecemos das mazelas do dia a dia.
Tb não dá pra só reclamar se na hora de mudar algo vc, resignado, repete o erro com o argumento que nada muda.
De vez em quando eu tenho orgulho, um respiro de esperança, pena que uma avalanche de realidade acaba me roubando a esperança. 

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Desconhecer...

Não sei se como defesa, mas costumamos "esvaziar" o outro de nossas vidas em algumas circunstâncias.
Uma boa maneira de nos proteger, de manter distância, de não assumir responsabilidade, de não lidar com consequências é transformar o outro num "desconhecido"...
É uma sensação estranha esta de parecer não ter passado, de ter uma memória que te parece exclusiva, como se tudo que viveu fosse um sonho.
De repente, o carinho é trocado por tratamento distante, os olhares se desviam, as palavras ficam burocráticas, isto quando ainda existem...
Nos transformamos em desconhecidos, aposto que vc já passou por isto.
É conveniente, claro. Resolve muitos problemas, ao menos pra quem pratica.
Se vc resolver tb adotar a mesma prática, todo mundo fica feliz e segue em frente, talvez até evoluam para amigos cordiais e, sem memória.
Já nos acostumamos a não tocar em certos assuntos, de evitar certos temas, esconder atitudes, etc... Somos artistas bem urdidos nisto de enganar, de evitar...
Mas é o supra sumo apagar uma vastidão de memória em nome do conforto de viver.
Pra começo de conversa, não entendo do que as pessoas tem tanto medo, parece que não restam caminhos pra felicidade que não sejam dolorosos.
Fazemos tantas escolhas confortáveis, vivemos tão bem com elas, nos enganamos e seguimos em frente mas, e o outro?
Somos tão cruéis assim que nosso egoísmo pode "apagar" sem levar em conta os estragos causados?
Vida que segue...
Tem hora que fico com a sensação que minha memória que é boa demais, pq não consigo esquecer... Vejo tanta gente esquecida, até me assusto. Será que o maior mal da humanidade seja a falta de memória afetiva?
Não sei, só sei que vamos sendo excluídos, colocados em nossos cantos, em pequenas prateleiras cerebrais... Até que os neurônios e encarreguem de fazer o caminho ficar esquecido...
Talvez sirva de desculpa que já fizeram isto com a gente, então, pq não?
Talvez eu que seja saudosista, goste de me prender aos belos momentos do passado... Não sei. Ou talvez deva aprender simplesmente a esquecer mas, sinceramente, não consigo.
É certo que as pessoas tem seus valores modificados pelo tempo, mas deveria ser um processo natural, não? Hoje, não há desgaste da peça pq ela simplesmente nem chega a ser usada, bem antes de qualquer risco, já foi, virou passado... Tão defensivos que nos tornamos...
Haja intuição, parece a piada antiga: Ao ver a casca de banana, exclamou: Ih, lá vou eu escorregar de novo...

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Os mineiros são os melhores...

NUDEZ MINEIRA

Dois cumpadi de Uberaba tava bem sossegadim fumando seus respectivo cigarrim de paia e proseano.
Conversa vai, conversa vem, eis qui a certa altura um deles pergunta pro otro:
- Cumpadi, u quê quiocê acha desse negóço de nudez?
- Nu qui u otro respondeu:
- Acho bão, sô!
U otro fico assim, pensativo, meditativo... e pergunto di novo:
- Ocê acha bão purcaus diquê, cumpadi?
I u otro:
- Uai! É mió nudês do que nunosso, né messsm?


MINEIRIM COMPRANDO PASSAGEM

U mineirim vai à estação ferroviária pra compra um bilheti.
- Quero uma passage pra o Esbui - solicita ao atendente.
- Num intendi; u senhô podi repeti?
- Quero uma passage pra o Esbui!
- Sinto muito, senhor, num temo passage pra u Esbui.
Aborrecido, u caipira si afasta du guichê, si aproxima du amigo que o estava aguardando e lamenta:
- Olha, Esbui, u home falo qui pra ocê num tem passage não!


DIPROMA

O velho fazendeiro do interior de Minas está em sua sala, proseando com um amigo, quando um menino passa correndo por ali.
Ele chama:
- Diproma, vai falar para sua avó trazer um cafèzinho aqui pra visita!
E o amigo estranha:
- Mas que nome engraçado tem esse menino!! É seu parente?
- É meu neto! Eu chamo ele assim porque mandei a minha filha estudar em Belzone e ela voltou com ele!


MINEIRO não mente: Só que é MUITO criativo...

Um mineiro, lá de Curvelo, tinha 11 filhos, precisava sair da casa onde morava e alugar outra, mas não conseguia por causa do monte de crianças.
Quando ele dizia que tinha 11 filhos, ninguém queria alugar porque sabiam que a criançada irá destruir a casa e ele não podia dizer que não tinha filhos, não podia mentir, afinal, os mineiros não podem mentir.
Ele estava ficando desesperado, o prazo para se mudar estava se esgotando.
Daí teve uma ideia: mandou a mulher ir passear no cemitério com 10 dos filhos.
Pegou o filho que sobrou e foi ver casas junto com o agente da imobiliária. Gostou de uma e o agente perguntou quantos filhos ele tinha.
Ele respondeu que tinha 11.
Daí, o agente perguntou:
- Mas onde estão os outros?
E ele respondeu, com um ar muito triste:
- Estão no cemitério, junto com a mamãe deles.
E foi assim que ele conseguiu alugar uma casa sem mentir...


O MINEIRO E A MULA

"Seu Zé mineirinho, pensou bem e decidiu que os ferimentos que sofreu num acidente de transito eram sérios o suficiente para levar o dono do outro carro ao tribunal.No tribunal o advogado do réu começou a inquirir seu Zé:
-O Senhor não disse na hora do acidente 'Estou ótimo'?
E seu Zé responde:
-Bão, vou te contá o que aconteceu.Eu tinha acabado de colocá minha mula favorita na caminhonete... 
-Eu não pedi detalhes! -Interrompeu o advogado.- Só responda a pergunta: O Sr. não disse na cena do acidente 'Estou ótimo'?
-Bão,eu coloquei a mula na caminhonete e tava descendo a rodovia...
O advogado interrompe novamente e diz:
-Meritíssimo, estou tentando estabelecer os fatos aqui. Na cena do acidente este homem disse ao partulheiro rodoviário que estava bem.
Agora, várias semanas após o acidente ele está tentando processar meu cliente, isto é uma fraude.Por favor, poderia dizer a ele que simplesmente responda a pergunta.
Mas a esta altura, o juiz estava muito interessado na resposta do seu Zé e disse ao advogado:
-Eu gostaria de ouvir o que ele tem pra dizer.
Seu zé agradeceu ao juiz e prosseguiu:
-Como eu tava dizendo, coloquei a mula na caminhonete e tava descendo a rodovia quando uma picape atravessou o sinal vermeio e bateu na minha caminhonete bem du lado. Eu fui lançado fora do carro prum lado da rodovia e a mula foi lançada pro outro lado. Eu tava muito ferido e não podia me movê. Mais eu podia ouvir a mula zurrando e gruinhno e, pelo baruio, percebi que o estado dela era muito feio. Em seguida o patrulheiro rodoviário chegou. Ele ouviu a mula gritano e zurrano e foi até onde ela tava. Depois de dá um óiada nela, ele pegou o revorve e atirou 3 vezes bem no meio dos óio dela. Depois ele atravessou a estrada com a arma na mão,oiô pra mim e disse:
-Sua mula tava muito mal e eu tive de atirar nela...E como o sr está se sentindo?
-Aí eu pensei bem e falei ...Tou ótimo.! "


MINEIRO ESPERTO

Dois amigos, um paulista e outro mineiro estão sentados conversando, quando um diz para o outro:
- Amigo você sabe guardar segredo?
O mineiro responde:
- Claro que sei, pó contar.
E o paulista fala:
- É que eu estou precisando de R$500, 00 emprestado.
E o mineiro diz:
- Não se preocupe, vou fingir que nem ouvi.



O VELÓRIO

A filha entra no velório do sócio do pai mineiro, com o marido a tiracolo, e indaga:
- Papai, por que você não coloca meu marido no lugar do seu sócio, que acaba de falecer?
O pai olha para o genro, e então responde:
- Por mim tudo bem, converse com o pessoal da funerária. . .


Miorô?

Mineirim, miudinho, todo tímido embarca no ônibus de Bh para Resplendor. Seu colega de poltrona é um fortão de 1, 90 m de altura, com cara de poucos amigos.
O cara no maior ronco e mineirim todo enjoado com as curvas da estrada.
A certa altura Mineirim não agüentando mais, e ao tentar abrir a janela do ônibus acabou vomitando tudo bem no peito do fortão.
Mineirim no maior desespero e o homem ainda roncando.
Chegando em Valadares o fortão acorda e passa a mão no peito todo melecado e gosmento. Olha indignado e confuso para o mineirim, que imediatamente bate a mão no seu ombro e pergunta:
-Cê Miorô?


Sapassado, era sessetembro, taveu na cuzinha tomano uma pincumel e cuzinhando um kidicarnecom mastumate pra fazê uma macarronada com frangassado.
Quascaí de susto quando ouvi um barui vindo de dendufornu, pareceno um tidiguerra.
A receita mandopô midipipoca denda galinha prassá; u fornu isquentô, i o mistorô! Nossinhora! Fiquei branco quinein um lidileite.Foi um trem doidimais!
Quascaí dendapia! Fiquei sensabê doncovim, proncovô, oncotô. Ói procevê quilucura.


Paulistas querendo contar vantagem pro mineirim :

1º.. paulista: - Eu tenho muito dinheiro... Vou comprar o Citibank!
2º. paulista: - Eu sou muito rico... Comprarei a Fiat Automóveis!
3º. paulista: - Eu sou um magnata... Vou comprar a Usiminas!
E os três ficam esperando o quê o mineiro vai falar.
O minerim da uma pitada nu cigarro de paia, ingole a saliva...
Faz uma "parza"... e diz:
- Num vendo...

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Somos pessoas boas...

As pessoas boas perdoam, compreendem, conversam, compartilham.
As pessoas boas brigam, fazem as pazes, transformam em piadas o que antes foi tragédia.
As pessoas boas se amam, mesmo em silêncio.
As pessoas boas odeiam, por segundos, mas logo passa.
As pessoas boas tem pensamentos pra lá de libidinosos, mas logo se acalmam.
As pessoas boas falam de viagens, de lugares sonhados, do que fizeram e deixaram de fazer.
As pessoas boas choram quietinhas, orgulhosas demais pra pedir um ombro amigo.
As pessoas boas fingem estar bem, serem senhoras de si, mesmo quando o mundo está desabando.
As pessoas boas criticam, as mais pesadas criticas, mas só em pensamentos.
As pessoas boas tb são politicamente incorretas, mas só entre os seus.
As pessoas boas são ilhas cercadas de vazios, mesmo que o vazio sejam as pessoas, tão boas qto.
As pessoas boas odeiam ditaduras, mesmo quando são reféns dela, mesmo com roupas ou músicas da moda.
As pessoas boas gostam de filmes ruins, de cinema japonês e francês, são fãs de Stallone e Godard.
As pessoas boas cantam Anita no volante e se derretem ouvindo Vander Lee.
As pessoas boas resistem, teimam, jamais dão o braço a torcer, apesar de arrependidas.
As pessoas boas cuidam da saúde mas assaltam geladeiras quando ninguém vê.
As pessoas boas tem perfis fakes nas redes sociais pra xeretar o obscuro.
As pessoas boas tem monstros adormecidos dentro de si.
As pessoas boas são delicadas, mas por dentro...
As pessoas boas não falam palavrões, mas pensam.
As pessoas boas tem amores perdidos, mas em eternas buscas por reconquistar.
As pessoas boas são vaidosas, compram sapatos e bebem cerveja, sempre além da conta.
As pessoas boas erram, disfarçam e seguem em frente como se nada tivesse acontecido.
As pessoas boas escrevem, e como escrevem, mas odeiam seus próprios textos.
As pessoas boas plantam árvores, mesmo que sejam apenas flores.
As pessoas boas são bailarinas da vida.
As pessoas boas amam seus filhos, mesmo que nem tenham nascido.
As pessoas boas fazem projetos, sonham, e isto basta.
As pessoas boas crescem e regridem, num ritmo que nunca se acompanha.
As pessoas boas leem este texto e pensam em outras frases que podiam caber aqui.
As pessoas boas...
São isto, eternas pessoas boas.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A Perfeição

Não existe nada mais chato que a perfeição. 
Primeiro, pq é só um conceito definido sabe-se lá como. Envolve expectativas, rituais, padrões estabelecidos que só servem pra nos amarrar, nos tornar reféns.
Mas quem disse que aquilo que se estabelece como verdade é a verdade? Quem disse que aquele padrão agrada a todos?
Convenhamos, é uma chatice isto de ser todo mundo igual, dar as mesmas respostas, vestir as mesmas roupas, ouvir as mesmas músicas.
As pessoas falam e comentam sobre coisas como se vc tivesse a obrigação de gostar, chegam a se surpreender com seu desconhecimento. Mas tudo está amarrado a tal perfeição, perfeito é aquele que se veste assim, usa gíria tal, ouve aquela música chiclete, tem como ídolo a sub celebridade X.
A ditadura da perfeição vem nos tornando falsos, fazendo com que tenhamos um lado externo, que satisfaz todas as exigências, e um lado interno, cada vez mais secreto e desconhecido.
Creio que tenha postado aqui uma música dos anos 80, Uniformes, do Kid Abelha, que já falava um pouco disto, quem diria que se tornaria uma crônica tão atual dos tempos de hoje.
A perfeição é só um conceito, nem se sabe como é definido.
Quero a multiplicidade, a variação, a surpresa, o choque do novo, o inesperado. Quero ser desconcertado, lidar com o imprevisível.
Quero a riqueza do ser humano de volta, poder discutir, elevar o tom de voz, fazer as pazes...
Quero as coisas ao modo natural, não quero fingir que gosto, quero poder dizer que detesto, quero poder manisfestar minha opinião, ser dissonante.
Somos tão presos a certos rituais que desaprendemos a pensar. Respostas prontas...
Quero e tenho direito a receber respostas que me incomodem, que me irritem, mas que sejam autenticas, verdadeiras.
Quero conviver com gente que use a roupa que gosta, que use chinelo na fila do banco, que curta a boa e velha MPB, que cante alto aquele rock dos anos 70, que ame natureza, que não se preocupe com o que os outros vão pensar...
Tudo tem limites... Estamos perdendo a oportunidade de sermos maiores pq limitamos nosso aprendizado. A convivência com o diverso é que nos enriquece. Conversar, discutir, opinar tem poderes fantásticos, já tentou? Quero fazer programa de índio, passar perrengue, tomar banho de chuva, fugir do ar condicionado... Quero me divertir com meus erros, ter com quem compartilhar... Quero pensar sacanagem... Quero ouvir, quero falar... Quero viver.


Que tal completar com Chico Buarque?
Pode ser na voz da Adriana Calcanhoto, mas se vc discordar, que bom.


Ciranda da Bailarina


Procurando bem

Todo mundo tem pereba

Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri
Tem lombriga, tem ameba
Só a bailarina que não tem
E não tem coceira
Verruga nem frieira
Nem falta de maneira ela não tem
Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem
Um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida ela não tem
Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda as seis da matina
Teve escarlatina
Ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem
Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem quem não tem?
Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem
Um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem
Sujo atrás da orelha
Bigode de groselha
Calcinha um pouco velha ela não tem
O padre também
Pode até ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem
Todo mundo tem pentelho
Só a bailarina que não tem
Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família quem não tem?
Procurando bem
Todo mundo tem

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Mundo Grande - Drummond

Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.

Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que ele estale.

Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma, não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! Vai inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos – voltarão?

Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)

Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.


Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.

Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.

Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
– Ó vida futura! Nós te criaremos.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Revolução.

Muito se acusou a juventude de alienada mas bastou ela protestar para tentarem descaracterizar seus motivos.
Diante das argumentações, fica fácil entender o pq de nossa sociedade aceitar pacificamente tantos desmandos e abusos das autoridades, tamanho o esforço de alguns em desmoralizar os últimos protestos.
Acusações de fascismo, de movimento de direita, de tirar do meio do bolo a presidenta e seu partido, transferência de culpa, lançamento das mais diversas iscas de distração, defesas assustadoras de questões que afrontam a maioria tem feito parte da marola anti-protesto.
Lembrando que os protestos só ganharam a massa quando as autoridades mandaram a polícia descer o pau nos manifestantes e, confiante em sua inalcançável posição, continuou autorizando a barbárie contra bons e maus. E ainda tem os que defendem os excessos da polícia.
Se é errado apoiar o vandalismo, por coerência devemos abominar a violência policial, que use sua força contra bandidos, nada explica a violência descabida que testemunhamos, isso sim é ditadura, isso sim lembra os bons e velhos tempos, se alguém acha que devemos revisitar a história, está ai um bom motivo.
Outra questão que tem sido parte da anti-propaganda é um suposto fascismo encoberto nas atitudes contra os partidos, com todo respeito, não vi ninguém ser contra o sistema partidário, mas sim contra os partidos que ai estão, esses não nos representam, essa é a mensagem. Se um grupelho defende teorias nazistas, fascistas, é outra questão mas, da mesma maneira que um grupo de arruaceiros não representam a maioria, um grupo de extrema direita não representa o movimento como um todo. Fora que é de um cinismo sem tamanho tentar se aproveitar dos protestos pra levantar suas bandeiras, se são justamentes eles, os partidos, que levaram o Brasil ao estado atual que motivou os protestos. Cara de pau tem limite.
E no meio do turbilhão, as trocas de acusação que parecem as briguinhas de criança quando quebram um brinquedo: foi ele, não foi ele... e se exarcebam na discussão. Considerando que um teve a chance de mudar o que o outro fazia e ainda assim temos protestos, a lógica diz que de nada serviu, nenhum dos dois serviu aos propósitos do povo, isto basta. Quem quebrou ou causou danos ao brinquedo se torna irrelevante, só prova que o modelo está errado.
Outra bela argumentação é de que os protestos são da classe média, mas quem pega ônibus lotado, quem apanha dos seguranças dos trens, quem enfrenta filas nas barcas, que não é estimulado a estudas pq ganha bolsa esmola, quem frequenta escolas sem condição, quem morre nas filas dos hospitais não é o povo? É ofensivo se argumentar que o povo está satisfeito, que só a classe média se manifesta. Tirou da pobreza quantos milhões? A custa de que? Quais serão os efeitos em longo prazo? Tigre asiático ou gatinho de sofá?
Vejo uma ironia nisto tudo, pq é justamente a educação esfacelada e as famílias desestruturadas que criaram os vândalos. Quando não se sabe distinguir um prédio de seus ocupantes, quando a cegueira da violência ataca, inclusive, aquilo que nos dá orgulho histórico, é só vandalismo ou resulta da falta de educação patrocinada pelo governo? Tudo tem efeito colateral.
Lançar os jovens na escuridão da ignorância, como política de governo, tem seus efeitos, e são tão confiantes de que serão capazes de administrar que continuam vomitando mentiras, usando os mesmos meios (redes sociais) que levantaram o gigante.
Não se deixe enganar, os protestos são legítimos, ele estava sendo gestado nas filas de bancos, nos ônibus lotados, no abuso dos preços, na cara de pau dos políticos que recebem em suas casas gente condenada, na falta de caráter e de respeito de gente que quer tirar o poder do ministério público, intervir nas decisões da justiça, que não tem pudor em aumentar seus salários e reduzir dos funcionários, que constrói o segundo estádio mais caro da história (com suas pouco disfarçadas cadeiras vermelhas) e não tem dinheiro pra manter um hospital, dar condições dignas de um professor dar aula, de oferecer material pra um aluno aprender. Não foram as redes sociais que acordaram o gigante, foi o burburinho diário, de quem começou a se inquietar com o nariz de palhaço.
Simplificar a causa é coisa de gente ardilosa, acostumada com o poder, viciada nas tetas e que não quer perder a boquinha. Basta ao cinismo, viva a revolução de jovens que acordam, se movimentam (sob bombas e balas de borracha), que tenhamos respostas à altura de nossos anseios.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Consumindo cultura?

Quem gosta de um pouquinho mais de cultura vem sendo punido nos últimos tempos. Cada vez mais o conteúdo "cultural" vem sendo mastigado previamente, isto quando ainda existe algum, para depois despejar na grande massa.
Eu não sei o que resulta do que, se é esta padronização que originou a falta de cultura ou é a falta de cultura que vem exigindo novos "padrões".
É complicado consumir conteúdo de jornais, de tv e etc que não provocam reflexões e análises, está tudo pronto e enlatado, basta vc engolir.
Cultura em geral tem forma tão simplória que assusta, vc que espera um pouco mais de conteúdo acaba penalizado.
Vejam, não estou falando de quem tem uma cultura já refinada, estou falando da busca pela cultura, como desenvolver seres pensantes, que apreciem variedades se tudo já vem embalado, rotulado e direcionado? Como refinar cultura existente se não existe mais material disponível?
Mesmo nas poucas "ilhas" disponíveis já se vê um processo de simplificação, pra tornar mais atraente o produto, ou seja, tornar de fácil acesso.
Não aguento mais a malícia das explicações, escondendo a verdade.
Tudo vai empobrecendo, se tornando árido e punindo quem quer algo mais.
Nada contra o produto de consumo rápido, fácil, sem dor de cabeça, é até bom pra relaxar, distrair a mente, mas quando o entendimento geral começa a classificar como cultura, como algo de conteúdo devemos nos preocupar.
Não sei onde vamos parar, estamos regredindo, daqui a pouco nosso vocabulário vai ser tão rico quanto o do principio da comunicação verbal, com sorte ainda restará a escrita, não sei.
Nossas habilidades cada vez se tornam mais supérfluas, desnecessárias, e vamos nos habituando ao mínimo.
Se reduzimos nosso repertório, consequentemente, precisaremos menos da habilidade de compreensão, e vamos nos reduzindo, reduzindo até que... O que vai sobrar?
É meio desesperador ver as reduzidas possibilidades de sobrevivência da cultura, do pensar, cada vez mais distantes, inacessíveis.
A cultura é o que nos diferencia, nos permite pensar, tomar decisões, promover mudanças, nos desenvolvermos.
Outro dia estava vendo uma entrevista com Lêdo Ivo, poeta alagoano e membro da ABL, constato o quanto estamos desacostumados a ouvir pessoas com opinião, opinião mesmo. Logo desconfiei da entrevista especial e descubro na internet que ele havia acabado de morrer numa viagem à Europa. Lamentei duas vezes.
Alguns anos atrás alguém disse que os críticos e pensadores brasileiros só querem aplausos, morrem as pessoas e com elas nossa habilidade de pensar, questionar, ter opinião sem que isto pareça uma guerra de egos. É possível haver delicadeza na divergência.
Pensando no mundo como mercado, cada vez mais os que querem "desafios", os que querem qualidade, os que querem consumir algo mais elaborado fica relegado a segundo plano, cada vez mais se definem as diferenças, deixamos de ser para pertencer.
É uma pena que não tenhamos legado para as próximas gerações, que não tenhamos personagens e suas criações para registrar uma época, para lembrar o que fomos e fizemos.
Creio que eu não precise falar o que não quero ver como ícones de nosso tempo.