quinta-feira, 24 de junho de 2010

Atualidades...

Quando os blogs se popularizaram, achei que finalmente as pessoas teriam espaço pra se manisfestar, colocar assuntos em discussão, transportar para a net as boas discussões do cotidiano, visto que a tendência era, e ainda é, que tudo tenha uma versão virtual.
A net reflete um pouco o comportamento de seus usuários, navegando por ai vc consegue construir um retrato (por vezes tosco) do que somos ou das máscaras que usamos.
Era uma fase que o Orkut bombava, mas me assustava o nível das discussões, era uma carnificina pra ver quem impunha seu ponto de vista, usando de meios muito pouco cordiais e elegantes.
Pior é quando se juntava um grupo pra simplesmente massacrar alguém que pensava diferente.
E eu, na minha inocência (proposital) imaginava que aquilo ali era coisa de gente com muito tempo disponível e que não refletia o comportamento médio do brasileiro.
Não só os blogs não se popularizaram como eu esperava, como surgiram os mini blog, onde vc tinha disponível excessivos 140 caracteres.
Em meio a isto, foi possível acompanhar a invasão dos brasileiros aos diversos sites de fotografia, e eram fotos de pés, beicinhos, caras e bocas tomando a net, tanto que foi preciso criar filtros e limites visto que a idéia original, desvirtuada, eram fotos de qualidade, para serem apreciadas.
Como dizem, parece que brasileiro prefere parecer do que ser. Todos os espaços virtuais que se cria são pra vc exibir uma máscara fajuta que se desfaz em contato com a realidade.
Outro fenômeno curioso foram os surgimentos de textos com assinatura falsas, tivemo a fase Luiz Fernando Veríssimo, Martha Medeiro, Clarice Lispector e agora estamos na fase do Caio Fernando Abreu.
De tal dimensão que existem sites especializados em preparar textos pra redes sociais, assim como outros tentando devolver os textos aos seus autores verdadeiros.
Ou seja, estamos perdendo a capacidade de pensar, de refletir e de ter uma boa discussão, passamos a repetir frases prontas, idéias prontas.
Mas voltando aos mini blogs, na realidade, ao twitter. Existem alguns muito bons, que oferecem boas leituras, afinal, há muito tempo atrás já existiam sabedoria em gotas, minuto de reflexão, folhinhas com pensamento, que usavam textos curtos, frases, idéias, todas plenamente compatíveis com o twitter, boas idéias cabem sim em pequenos frascos.
Mas a maioria esmagadora é de uma banalidade assustadora, se fala das coisas mais sem sentido, se torna publico os atos ou pensamentos mais inúteis, e quando então vc resolve explorar mais o universo twitter, mais assombrado vc sai.
O twitter não é culpado, evidente, até cria ferramentas para vc poder ver os assuntos predominantes no site.
E é ai que mora o perigo. Que assuntos?
Ultimamente o Brasil conseguiu liderar o ranking mundial duas vezes: "Cala a boca Galvão" e "Cala a boca Tadeu Schimidt".
Mas não foi uma discussão sobre o comportamento do Galvão Bueno, os seus tão populares excessos ou sobre algo dito pelo Tadeu.
Foi simplesmente um onda, tal qual as que acontecem em estádios, que começa pequena, se sucedem movimentos repetidos à exaustão até formar um conjunto maior que possa ser visto por todos. A graça está em vc fazer parte da onda, mesmo que vc nem saiba o pq.
E de repente o Dunga, que era o vilão da nação até poucas horas atrás, virou vítima de um sistema, teve seus erros perdoados e o posto de vilão foi ocupado por outro, até a próxima onda.
Que comportamento é este que muda tão radicalmente de lado, sem base concreta, só pra acompanhar o movimento mais popular do momento?
Passáros voam em formação e seguem um lider que nem sabe como se tornou lider, mas funciona e faz sentido pq seguem regras naturais.
Baleias tb, em seu ritmo natural, seguem um líder, inclusive pro suicídio.
Hoje formamos um bando que nem sabe o pq de seus próprios atos.
O que me chama a atenção não é o "Eu odeio o Dunga" ou "Cala a boca Galvão", o que me chama a atenção é a opção extremada, ou 8 ou 80, ou isto ou aquilo, não existe posição pesada, maturada, equilibrada.
É engraçado que vivem falando em sistema isto, sistema aquilo, como se houvesse mocinhos e bandidos, como se em tudo tivesse um grande vilão e muitas vítimas. Todos falam de manipulação como se esta prática fosse privilégio e estratégia de um só grupo ou empresa.
Se fala de inocência, manipulação e indução por se ler, ver, comprar algo de um grupo quando a regra de sobrevivência destes grupos prevê que vc deve usar todas as armas disponíveis, por vezes esquecemos que vivemos numa selva apesar de ser discurso constante, o mundo onde há um só vilão e vários mocinhos não existe.
Quantos e-mails vc leu ultimamente tentando te induzir a tomar posição em uma discussão, mas usando de informações falsas?
Já entrou em sites de análise de produtos e leu aqueles textos prontos, bem elaborados e técnicos tentando destruir a imagem de um produto? Vc realmente acredita que aquilo ali foi feito por um consumidor frustrado com sua aquisição?
Quantas vezes vc participou de algum movimento social autêntico sem que este tenha sido usado por pessoas ou grupos tentando pegar "emprestado" uma certa popularidade?
Vc já leu alguma jornal que não tenha sido parcial em suas matérias, mesmo as de artes ou esportes?
Vc já viu algum canal de televisão que tenha jogado limpo, tenha respeitado sua inteligência ou não tenha tentado manipular suas preferências?
Quantos debates ou discussões vc acompanhou recentemente na imprensa onde os participantes realmente falavam o que pensam sem esperar o aplauso público?
Fico vendo os tais movimentos populares, até os virtuais, se desenvolverem como se não houvessem outros interesses por trás, como se os "espertos" participantes não estivessem atendendo os interesses de pessoas ou grupos.
A questão é que estamos numa selva, com regras que não são nossas e estamos fazendo papel de bobo escolhendo este ou aquele lado, simplesmente por preguiça de pensar, simplesmente por preguiça de "confrontar", simplesmente pq querer o conforto nas relações sociais.
Estamos perdendo nossa identidade, como diz a música da década de 80, estamos usando uniformes.
Já dizia Nelson Rodrigues que toda unanimidade é burra, muito provavelmente nenhum pensamento ou conceito estará correto se não for equilibrado, se não considerar todas as forças atuantes, se não medir o peso de cada coisa.
Não dá pra pular de galho em galho, tomando atitudes contraditórias e achar tudo isto bonito. Sem observar como as coisas interagem, como cada coisa nos influencia, é muito pouco provavel que tenhamos uma posição correta.
Além do mais, devemos perder o medo de pensar, de errar, de nos posicionar.
Devemos retomar o ser ao invés do parecer.
Não dá pra aplaudir tal qual macaquinho os atuais movimentos "populares", não dá pra aderir à ondas perdendo a própria identidade, só pra ter aceitação.
Não que certos movimentos estejam de todo errado, mas perdem a utilidade quando são extremados, pouco refletidos e sequer discutidos.
Sou de um tempo, não tão longínquo assim, onde a gente tinha tesão em participar das rodinhas de discussão, onde as conversas atravessavam horas, boas horas, onde ninguém alterava o tom de voz pra se impor, onde bebidas ou drogas eram desnecessárias, onde idéias eram mais apreciadas do que poses.
Será que temos chance de voltarmos a estes tempos?

terça-feira, 8 de junho de 2010

O copo d‘água

O velho Mestre pediu a um jovem triste que colocasse uma mão cheia de sal em um copo d‘água e bebesse.

- "Qual é o gosto?" perguntou o Mestre.

- "Ruim " disse o aprendiz.

O Mestre sorriu e pediu ao jovem que pegasse outra mão cheia de sal e levasse a um lago.

Os dois caminharam em silêncio e o jovem jogou o sal no lago, então o velho disse:

- "Beba um pouco dessa água".

Enquanto a água escorria do queixo do jovem, o Mestre perguntou:

- "Qual é o gosto?"

- "Bom!" disse o rapaz

.- Você sente gosto do "sal" perguntou o Mestre?

- "Não" disse o jovem.



O Mestre então sentou ao lado do jovem, pegou sua mão e disse:

- A dor na vida de uma pessoa não muda. Mas o sabor da dor depende do lugar onde a colocamos. Então quando você sentir dor, a única coisa que você deve fazer é aumentar o sentido das coisas. Deixe de ser um copo.

Torne-se um lago...



Confúcio