segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Antes um pássaro na mão do que dois voando...

Adoro frases, ditados, mais do que adorar, aprendi a respeitar, afinal, buscamos tanto ter referências em nossas vidas e elas muitas vezes estão diante de nossos olhos, num pára-choque de caminhão, pintadas num viaduto, pronunciadas por tios ou avôs, até ouvimos de nossa vizinha fofoqueira.
Tem uma que é mais antiga do que andar para frente: Antes um pássaro na mão do que dois voando.
Todo mundo já ouviu, provavelmente já usou em algum momento da vida, mas quantos realmente pararam para pensar em seu significado?
Bom, cada um vai fazer uma leitura pessoal, eu farei a minha.
Muitas vezes a gente conquista algo com solidez, e fica tão convicto de ter a “propriedade” que se esquece de manter.
Na faculdade era comum ouvirmos casos para exemplificar posturas, decisões, um desses casos era de um Rei cujo castelo se deteriorava por falta de cuidados, um dia uma fada surgiu para ajudá-lo e seu único pedido foi para que ela ajeitasse o castelo, ela então lhe deu uma varinha de condão e disse: essa varinha te ajudará nos problemas do castelo, basta você ir até o local do problema e usa-la. Convicto do poder da varinha o Rei passou a percorrer o castelo e solucionar todos os problemas, mal sabia que a varinha não era mágica, os problemas eram resolvidos a partir da simples presença dele.
Algumas vezes a certeza de ter conquistado algo nos faz relaxar, diminuir os cuidados, começamos a buscar novas conquistas esquecendo as anteriores. Outra frase boa sobre isso é a que diz que chegar no topo é fácil, se manter nele que é difícil.
Evidentemente não devemos nos estagnar, mas também não devemos usar as conquistas anteriores como meros degraus para as que se seguem.
Cada coisa tem um valor único em nossas vidas, uma história de conquistas, de beleza, uma história que não pode ser esquecida.
Mesmo quando você dirigir uma Ferrari você ainda vai se lembrar com ternura da primeira bicicleta de rodinhas, mesmo quando viajar o mundo se lembrará do encanto da primeira vez que viu o mar, mesmo quando se tornar o presidente da empresa se lembrará da alegria do primeiro salário.
Somos e devemos ser ambiciosos, isso é uma virtude, o defeito está em como agimos, que atitude temos diante da vida e das pessoas.
Quantas frases e textos dizem da carga que carregamos de cada contato que fizemos na vida, de cada colega, amigo? Você sabe quem te contou aquela piada que você adora repetir sempre que surge uma oportunidade? Você sabe quem te contou aquela história que você acha super interessante? Você se lembra quando foi que ouviu a primeira vez a frase base desse texto?
Inevitavelmente somos o somatório de nossas experiências e vivências, então por que insistimos em não olhar para trás?
Ah, sim, foi uma experiência ruim. Mas não te ajudou a jamais repeti-la? Pouco importa se foi bom ou ruim, faz parte de nós e não devemos negar. É natural olhar para trás e ainda se envergonhar com o que fizemos, mas também devemos pensar em como evoluímos a partir desta experiência. Eu me orgulho do que sou a partir do que vejo no passado, as perspectivas que tinha, os sonhos e até os projetos não realizados me motivam ainda mais, por que me sinto mais capaz ainda de realizá-los.
Fazemos tanta questão de olhar para frente que esquecemos do presente e do passado, esquecemos de viver, de fazer parte daquilo que nos faz bem.
Ficamos buscando a felicidade e às vezes ela está ao nosso lado, mas olhamos tão obsessivamente para frente que esquecemos de olhar para o lado ou mesmo para trás.
Olhar demais para frente nos trás a sensação de envelhecimento, é como dirigir do Rio à Brasília e na altura de Juiz de Fora ficar pensando o quanto falta, vamos achar que apesar de estar acima de cem ainda estamos lentos, mesmo com toda distância percorrida.
Vamos chegar a Brasília, pegamos a estrada certa, cuidamos bem dos meios para chegar lá, criamos condições, basta deixar acontecer, vamos contemplar a paisagem, bater papo com que viaja conosco, parar de vez em quando, descansar, ou seja, vamos aproveitar a viagem.
Viver é criar condições hoje para ter sucesso no amanhã, erraremos muitas vezes, mas antes errar agora do que no futuro.
Não sei por que nos cobramos tanto, queremos acertar sempre e isso é impossível.
Procure uma história de sucesso. Encontrou? Agora veja se essa história é feita só de acertos. Viu quantos erros foram necessários para o sucesso? Conclusão. Os vitoriosos são aqueles que souberam lidar com os erros.
Se fossemos perfeitos não teríamos escolas, conselhos, livros de auto ajuda, auto escola e etc. Simplesmente decidiríamos fazer algo e pronto. Sequer um erro, só sucesso.
Nossos corpos trazem as marcas, algumas quase invisíveis, do aprendizado, desde pequenos caímos, nos cortamos, ganhamos ovos na cabeça, pernas, braços, manchas roxas lindas para combinar com as roupas rasgadas na última travessura, foi assim que aprendemos.
Apesar de todas essas evidências, ainda achamos que podemos construir uma história de sucesso sem erros, ficamos obstinadamente olhando para frente que esquecemos de viver o agora e rejeitamos o passado.
Só que nesse processo você perde o amigo, a oportunidade, o aprendizado e, talvez, o grande amor de sua vida.
E tudo poderia ser evitado se tivéssemos prestado atenção numa única e velha frase: Antes um pássaro na mão do que dois voando.

sábado, 25 de agosto de 2007

Ser respeitado ou querido?

Quando eu era mais jovem, tempo de faculdade, primeiro emprego e todas aquelas descobertas que tanto torturam a gente eu queria ser amado e querido por todos e era sempre muito doloroso descobrir que alguém não gostava de mim ou, pior, me detestava, odiava.
Eu nunca entendia o porquê de despertar sentimentos negativos nas pessoas, por mais correto e gentil que eu tentasse ser não tinha jeito, sempre tinha alguém que eu não conseguia agradar.
Com o tempo e o amadurecimento pessoal e profissional descobri que mais importante que ser amado é ser respeitado.
Respeito se dá pelo que você é e faz de maneira autêntica, gostar é hoje quase uma mercadoria que se compra, basta você atender algumas exigências de pessoas, grupos e pronto, você é aceito e ganha o “carinho” que tanto procura.
Só que é algo sem profundidade, que ao invés de preencher te esvazia, te trás sentimentos difíceis de serem engolidos.
Já respeito independe do que sentem por você, mesmo que te odeiem podem te respeitar e até admirar.
Houve então uma reviravolta, passei a aceitar até o ódio alheio, desde que ele viesse do lado certo, afinal de contas, se você é correto e justo fatalmente vai desagradar alguém, e se esse alguém joga sujo ou tem atitudes incorretas não é dele que vou esperar amor, até por que depõe contra ser o queridinho da quadrilha.
:-)

Mesmo odiado, desde que respeitado, você tem uma proteção, um salva guarda que se mostra valioso sempre que você precisa.
No entanto, se você superestimar sua capacidade de ser justo, correto você pode se dar mal, são as lições da vida, em nossa vaidade sempre achamos que estamos corretos, que temos a razão, e aprendi a duras penas o quanto pode ser doloroso o tombo quando cometemos esse erro.
Pois é, complexa essa nossa vida, se achamos a sintonia fina perfeita de nossos atos estamos bem, mesmo odiados, seremos respeitados e, quiçá, admirados, mas basta errar a dose e tudo vai por água abaixo.
Hoje olho para trás, para alguns anos atrás e acho engraçada a transformação, de minha agonia com a opinião alheia para a relativa segurança de lidar com a raiva de outrem desde que respeitosa.
Mas existe algo mais doloroso do que tudo citado acima, é ser mal compreendido por quem se gosta, é despertar em alguém muito querido sentimentos dissonantes, é se esforçar em ser justo e correto com quem se quer o bem mas ser incompreendido despertando sentimentos tortos.
Quanta dor contida na incompreensão, talvez seja a dor maior com a qual lidamos em nossas vidas, tudo bem que às vezes o tempo se encarrega de aparar as arestas, mas como é doloroso passar por essas fases.
Ainda assim nada justifica vender a alma, deixar de fazer o que se acredita, desde que tenhamos a convicção do acerto, sem teimosia ou vaidade. Devemos fazer o que é certo até para o bem da pessoa, mesmo que ela esteja refrataria a idéia, mesmo que seja difícil para a gente agir.
Sempre respeito será um bem mais valioso do que gostar, ser uma pessoa respeitada sempre será melhor do que ser querida, mas melhor do que tudo é ser respeitada e querida pelas pessoas que importam.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Confiar desconfiando

Outro dia, no meio de uma reunião, percebi como somos capazes de sermos amistosos, gentis numa relação apesar do alto grau de desconfiança.
Afinal, somos falsos?
Fiquei pensando nisso e cheguei à conclusão que na maioria das nossas relações, talvez em todas, confiamos desconfiando, e é tão natural isso que não afeta o bem estar da relação, é inerente a relação humana.
Falamos tanto de entrega, confiança, mas no íntimo sempre existirá algum grau de desconfiança, algumas vezes insignificante, outras intensas, mas com a maturidade e a vivência aprendemos a lidar bem com isso, sem deixar que nossos atos denunciem.
O mais engraçado é que muitas vezes até se desenvolve uma relação pra lá de amistosa, ambos se reconhecem como “adversários”, ambos se desconfiam, mas o respeito e admiração são tão grandes que torna a relação até agradável.
Respondendo a pergunta: não, não somos falsos.
É sabedoria ter uma margem em qualquer relação, quantas vezes “amigos” nos decepcionaram? Em quantas relações nos demos mal por acreditarmos “cegamente” no outro? Quantas vezes fomos induzidos ao erro por dar alta credibilidade a alguém?
Já quando falamos de amor e similares a coisa piora gravemente. O amor, todos sabemos, é cego, qualquer coisa parecida com amor, mesmo que não seja cego tem alguma deficiência visual que afeta o discernimento.
As histórias mais cavernosas surgem envoltas por algum sentimento real ou pressuposto. Bom, não vou colocar nessa conta a história do chinês que namorou virtualmente um homem pensando ser mulher, só descobriu quando percorreu centenas de quilômetros para descobrir.
Mas quando somos possuídos por algum sentimento ou ao menos pela idéia da existência dele, ficamos sujeitos as análises mais distorcidas, a abaixar a guarda, a corrermos riscos que se reduziriam com o simples confiar desconfiando.
O ser humano não é flor que se cheire, somos carentes, vaidosos, necessitados, ciumentos, vingativos, ambiciosos e mesmo sem querer, a partir desses sentimentos, fazemos o mal. Ora somos os algozes, ora somos as vítimas.
Não estou condenando aqui a espécie humana, erramos e muito até aprender, errar pela vida toda sim se condena, mas errar e sofrer é o preço que pagamos pelo aprendizado, pela maturidade, pela felicidade a ser conquistada.
Seja no trabalho, na rua, na condução, na escola, nos relacionamentos quantas vezes agimos movidos por algum dos sentimentos citados acima? E quantas vezes fomos as vítimas até de pessoas que mais gostamos e até admiramos?
Claro que não agimos assim sempre de maneira premeditada, na maioria das vezes nem nos damos conta. Mas quando existe intenção, motivações ocultas, mesmo que haja algo positivo encobrindo, devemos ficar atentos.
Existem relações onde o bem e o mal se misturam, evidentemente o mal fica escondido, encoberto pelo bem, muitas vezes o bem é muito maior do que o mal, mas é o mal que vence. São os tais inimigos, rivais que se admiram, respeitam, até se gostam, mas existe uma missão, um objetivo a ser cumprido, nem que seja algo calhorda, maléfico.
É ai e em todas as outras situações que entra o confiar desconfiando, velha receita da culinária mineira, nada mais sadio e reconfortante do que isso.
Falsidade? Não. Sabedoria das mais finas.
Não que achemos que a índole do ser humano é ruim, mas por reconhecermos nossas fragilidades, nossa humanidade, aceitarmos que todos nós estamos sujeitos a falhas de julgamento, que todos nós estamos sujeitos a errar, que a vida é dura o suficiente para provocar equívocos.
Com isso também nos precavemos dos mal intencionados, dos que realmente tem índole ruim, dos que naquele momento, intencionalmente, são lobos na pele de cordeiro.
Pois é, lá estava eu numa reunião com um lobo na pele de cordeiro, conversa amistosa, educada, envolvente, mas não deixava de ser um lobo, bendita seja a culinária mineira.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Em busca do Pote de Ouro

Desde crianças ouvimos que no fim do arco-íris existe um pote de ouro, achamos fantástico, e nos deslumbramos sempre quando temos a oportunidade de ver um e ficamos imaginando como é possível percorrer o arco-íris.
Crescemos, mudamos nossos pontos de vista e o pote de ouro passa a ser nossa felicidade através de nossas realizações, passa a ser os nossos sonhos a serem alcançados.
Mas assim como fizemos quando crianças olhamos pro arco-íris e pensamos como é possível percorrê-lo e assim como as crianças ficamos só olhando sem nos arriscar, e resignados aceitamos a vida como ela é, sem ao menos tentar.
Mas quem disse que não existe o pote de ouro? Será que vale a pena desistirmos mesmo? Será tão impossível assim percorrer o arco-íris?
Eu diria que não, diria que é muito difícil, mas não tenho dúvidas de que ele está lá nos esperando.
Nunca vi nada de valor ser conquistado sem esforço, sem sacrifícios, mas já vi muita dor e tristeza duradoura por escolhas do caminho supostamente mais fácil.
Ai surge a velha pergunta: Entre o processo rápido e doloroso necessário para as grandes conquistas e a tristeza prolongada da acomodação, qual você prefere?
É meio parecido com a Fantástica Fábrica de Chocolate, se cair em tentação, se não confiar você perde tudo, mas se formos obstinados chegaremos ao Inimaginável, ao fim do arco-íris.
Deus, em sua sabedoria, nos fez humanos, cheio de ferramentas para o sucesso e alguns defeitos e nos deixou decidir como usar cada um. As escolhas que fazemos define o que conseguiremos, se preferir acentuar os defeitos, não terá muito que comemorar, mas se souber utilizar as ferramentas, logo estará do outro lado do arco-íris com faixa de bem-vindo e bandinha de música.
E o mais interessante, muitas vezes o que iremos descobrir sai melhor que encomenda, então vale a pena persistir, resistir aos períodos ruins, ser forte diante da tentação, ser batalhador quando tiver seus obstáculos.
Não são muitos os que conseguem, infelizmente, mas se você é do tipo ambicioso e gosta de ser diferente, que tal tentar ser um dos poucos que conseguiu atravessar o arco-íris?
:)

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso - para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... - não tem nenhum valor.
Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro - seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada - para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.
Para viver um grande amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fieldade - para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.
Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô - para viver um grande amor.
Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito - peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.
É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista - muito mais, muito mais que na modista! - para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...
Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs - comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica, e gostosa, farofinha, para o seu grande amor?
Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto - pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente - e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia - para viver um grande amor.
É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que - que não quer nada com o amor.
Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva escura e desvairada não se souber achar a bem-amada - para viver um grande amor.


Para viver um grande amor (crônicas e poemas)

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Dois Filmes.

Numa manhã, tomando café, procurando algo na tv (só tomo café vendo tv), encontro um filme francês (adoro cinema francês) que acaba me prendendo, apesar de já estar pelo meio não consegui deixar de ver.
Nesse fim de semana tive a chance de vê-lo desde o início, coisa rara já que dificilmente tenho paciência pra rever filmes recentes, prefiro intervalo de décadas, imagina então um filme que eu vi poucas semanas atrás.

Confidências muito Íntimas.
Anna (Sandrine Bonnaire) acredita que seu casamento está em crise e decide consultar um psicanalista. Por distração ela entra na sala errada e acaba confessando seus problemas matrimoniais ao consultor de finanças William Faber (Fabrice Luchini). Fascinado pela mulher e seus segredos, Faber persiste na farsa, muitas vezes sem ter certeza se Anna está sendo de fato enganada. Ao longo das supostas consultas, a dupla desenvolve um estranho pacto de dependência, passando a questionar suas vidas e suas relações amorosas.

Parece tudo tão irreal lido assim, mas basta você começar a ver o filme para perceber onde ele te toca, quanto ele diz um pouco de você.
Tem filmes que tem o poder de nos inquietar, mexer com algo que mantemos quietos, protegidos, algo que nos envergonha ou constrange.
Não dá pra falar muito do filme sem estragar o efeito, mas a questão da dependência citada na sinopse é o ponto central do filme, como nos tornamos dependentes de algo e como nem sempre estamos nos papéis que imaginamos, como precisamos de tão pouco para sermos felizes, apesar de sempre acharmos que falta algo.

No meu fim de semana cinéfilo também vi Capote, filme interessante, atuação merecedora de Oscar, personagem polêmico, um filme cheio de boas referências.
O que se colhe do filme é a reflexão de como, apesar dos sentimentos bons, muitas vezes não fazemos nada mais do que usar as pessoas.
É estranho esse processo porque acreditamos que o bem e o mal são água e óleo, não se misturam, ou é essencialmente bom ou essencialmente ruim, jamais enxergamos os dois agindo em conjunto, ora um, ora outro prevalecendo.
É mais um daqueles filmes que nos inquieta porque toca em algo de nossa natureza, o eterno conflito entre amar e usar, se é que se pode reduzir algo tão complexo a duas palavras.
É possível trair amando? Gostar de uma pessoa mas se beneficiar dela sem que ela saiba?
Vejo um tempo onde usamos demais as pessoas, gostamos sim, até amamos, mas nossos relacionamentos se baseiam mais em nossas necessidades e carências do que nos sentimentos.
Nos acomodamos, nos resignamos, dá trabalho buscar o grande amor então construímos o grande amor, pegamos alguém que já tem a estrutura básica, ou seja, alguém que gostamos, nos relacionamos bem, oferece algumas garantias e segurança, e começamos a moldar, transformar.
Bom, não vou fugir do assunto Capote, mas é interessante observar que até alguém que tem QI 215, que foi um dos escritores mais respeitados de seu tempo, que é uma referência intelectual do século 20 possa agir de maneira tão humana quanto nós meros mortais.
Isso nos permite errar desavergonhadamente? Creio que não, ainda tenho esperança que vale a pena lutar pelos nossos objetivos, sempre acredito que lá na frente está o que queremos, se fizermos escolhas erradas hoje, perderemos inconsolavelmente nossa felicidade.
Você ficou curioso sobre qual dos dois eu indico? Indico o primeiro, não que o segundo seja ruim, mas pelo brilhantismo com que o primeiro é conduzido e por instigar várias reflexões.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Despir um corpo a primeira vez é um conhecimento entre dois deuses.
Não se pode profanar o instante. E os amantes devem manter o ritmo dos altares.
Porque, embora nesses rituais haja sempre panos e trajes para agradar o Olimpo, é pra nudez total que o céu nos quer quebrar.
As mãos têm que ter um compasso certo. Um andante ou claro de Bach nos gestos, compondo a alegria dos homens e mulheres.
As mãos, sobretudo, não podem se apressar. Com os olhos, têm que aprender e, com a ponta dos dedos, contemplar os acordes que irão surgindo quando, peça por peça, o corpo for se desvestindo ao pé do altar.
Antes de se tocar com as mãos e lábios, na verdade, já se tocou o corpo alheio com um distraído olhar sempre envolvente.
E ninguém toca um corpo impunemente. Despir um corpo a primeira vez não pode ser coisa de poeta desatento, colhendo futilmente a flor oferta num abundante canteiro de poesia.
Nem pode ser coisa de um puro microscopista, que olha as coisas sabiamente.
Se tem que ser de sábio olhar, que seja do botânico, porque esse saber aflorar em cada espécie tem de mais secreto ou distante, o que cada espécie sabe dar.
Despir um corpo a primeira vez é conhecer, pela primeira vez uma cidade. E os corpos das cidades têm portas para abrir, jardins de pousar, torres e altitudes que excitam a visitação.
Quando os corpos se tocam por acaso, como se estivessem indo em direções diferentes, o que ocorre é desperdício.
Não se pode tocar um corpo impunemente. Para se tocar um corpo completa e profundamente, num dado instante, os corpos têm que se convergir.
E convergir com uma luz diferente. A descoberta do outro é isso, é convergência.
Despir um corpo a primeira vez é como despir um presente, por isso não se pode desembrulhá-lo assim, às pressas, embora a gula nos precipite afoitos sobre a pele ofertada.
Não se pode com as mãos infantis, descompassadas, ir rasgando invólucros, arrebentando cordões com gula que as crianças só têm nas confeitarias, antes da indigestão.
Um corpo é surpresa, sempre. É o que se vê nas praias, nessa pública ostentação, nesse exercício coletivo de nudez negaceada, em nada tira a eufórica contentação do ato, quando os dedos vão desatando botões e beijos, e rompendo as presilhas das carícias.
Despir um corpo a primeira vez não é coisa de amador.
Só se o amador for amador da arte de amar, porque o corpo do outro não pode ter a sensação de perda, mas a certeza de que algo nele se somou, que ele é um objeto luminoso que a outros deve iluminar.
Um corpo a primeira vez, no entanto, é frágil e pode trincar em alguma parte. E os menos resistentes se partem, quando aquele que os tocam os toca apenas com cobiça e nunca a generosa mansidão de quem veio pela primeira vez, e sempre, para amar .



Affonso Romano de Sant'Anna
É engraçado ler uma história da idade média, um conto de mil e uma noites, um texto da antiga Grécia ou qualquer texto com mais de 20 anos e nos vermos lá.
Seria sinal que apesar de toda modernidade, de todos os avanços continuamos sendo constituídos da mesma matéria? Ainda temos os mesmos sentimentos e sensação? As mesmas ambições e medos? Até os mesmos fetiches?
Músicas, cinema, livros e até desenhos pré-históricos acabam mostrando um pouco de nossa realidade atual.
Quem nunca se enquadrou naquelas frases típicas de avós: “Me diga com quem andas...”, “Antes um pássaro na mão...”, “Entre a cruz e a espada”, “Água mole...”, “Casa de ferreiro...”, “Santo de casa...”, “por fora bela viola...”.
Outra frase que adoro é a de um comercial de pneu: “De que adianta potência sem controle?”.
Se até frase de comercial está nos servindo, imagina.
Mas se temos uma longa história de auto-conhecimento, de sabedoria sobre a natureza humana, até em frases de pára-choque de caminhão, por que insistimos num caminho próprio? Por que tendemos a achar que temos a fórmula da pólvora? Por que achamos que conosco será diferente?
Dizem que os jovens sofrem mais acidentes por que se consideram imortais, mais do que isso, por que acham que sabem mais do que os outros.
O que se dirá de nós que achamos que temos a receita de sucesso de algo exaustivamente tentado por milênios e que sempre trouxe os mesmos resultados?
Eu sempre digo que não existem situações erradas, existem modos errados de se fazer, mas usar essa frase em benefício próprio é ser irresponsável, afinal, ela não se aplica a toda e qualquer situação, é um conceito bem mais refinado do que se pode pressupor a partir da frase.
Tancredo Neves, aquele que foi sem nunca ter sido Presidente do Brasil, usou uma frase pouco antes de morrer, com pequena adaptação mas infelizmente não fiel a frase era: “Sou moderado no planejamento para poder ser ousado na execução”.
Pronto, agora estamos tirando uma frase do contexto político e usando para nossa realidade, mas será que faremos bom uso?
Conclusão: se existem milênios de sabedoria a nos orientar, de todo lugar se tira sabedoria, acabamos adaptando às nossas conveniências, por que somos os Senhores da razão.
Adoramos citar Confúcio, Chaplin, Khalil Gibran, Luiz Fernando Veríssimo, Paulo Coelho e tantos outros mas somos incapazes de seguir, quer dizer, até seguimos, ao nosso modo.
Política, religião, artes nada mais são do que leituras feitas de um modo particular, citamos que nos guia, que nos referenciamos pelo autor tal, pelo pensamento tal, mas na prática estamos dando um entendimento todo pessoal. O que dizer do Comunismo e Karl Marx? O que dizer dos diversos entendimentos que se têm da Bíblia? E quantas variações de rock você conhece?
Acho que nosso maior desejo secreto é provar que está todo mundo errado ou que somos seres especiais, que somos feitos de matéria divina que nos torna capaz de tudo, inclusive de fugir da lógica batida de séculos de sabedoria e observação.
No íntimo no íntimo é o que desejamos, aceitamos de bom grado uma frase, um texto, uma idéia, um conceito, mas queremos mesmo é superá-lo, vencê-lo.
Mas será que dá certo ou como todos os outros que tentaram vamos acabar tendo que aceitar a verdade contida no que costumamos chamar de sabedoria?
Estou falando de sabedoria, de informação que se repete com pequenas alterações, você encontra a mesma sabedoria em William Shakespeare ou num pára-choque de caminhão, em Freud ou na folhinha do sagrado coração, em Platão ou no livrinho minuto de sabedoria, em Einstein ou naquela música brega que não sai de nossa cabeça.
Não estou falando da sabedoria de ocasião que a vizinha fofoqueira adora usar ou dos ensinamentos distorcidos que costumamos receber daquele tio safado ou da tia solteirona.
É bom distinguir que tipo de sabedoria vamos carregar pras nossas vidas, que tipo de experiências vão nos servir de referências, já que é recomendável aprender um pouco com as experiências alheias, que recorramos às fontes mais seguras.
Ainda assim somos incapazes de “ouvir”, escutamos, aplaudimos, replicamos mas não praticamos.
Fico pensando quando é que nos damos conta de que tudo aquilo que tentamos contrariar era verdade, vejo gente batendo cabeça a vida toda, será que vale a pena?
Só para lembrar, a verdadeira sabedoria não diz como fazer, ela ensina a decidir, a observar o momento, a enxergar a circunstância, não é um manual de instruções, não tem a rigidez de uma lei, talvez por isso seja tão tentador distorcer seu conteúdo.
Repetindo uma frase de outra postagem: “Os problemas são sempre os mesmos, as soluções que diferem”.
Orientar quando estamos diante de um problema é uma coisa, dizer como agir é outra, isso cabe a cada um, à sensibilidade de cada um, mas de antemão já sabemos as opções que temos, o que é certo e o que é errado, cair no erro de fazer o errado se “transformar” em certo é o grande perigo.
Para finalizar, um texto que gosto muito, simples e objetivo, quem sabe sirva para alguma coisa.
:)

"Um velho índio descreveu certa vez seus conflitos internos:
- Dentro de mim existem dois cachorros. Um deles é mau, o outro é bom e dócil. Ambos estão sempre brigando...
Perguntaram-lhe, então, qual dos dois cachorros ganharia a briga, e o sábio índio refletiu e respondeu:
- Aquele que eu alimentar"

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Quando me amei de verdade

Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato.
E então, pude relaxar.
Hoje sei que isso tem nome... Auto-estima.
Quando me amei de verdade, pude perceber que minha angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra minhas verdades.
Hoje sei que isso é...Autenticidade.
Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento.
Hoje chamo isso de... Amadurecimento.
Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo.
Hoje sei que o nome disso é... Respeito.
Quando me amei de verdade comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável... Pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo. De início minha razão chamou essa atitude de egoísmo.
Hoje sei que se chama... Amor-próprio.
Quando me amei de verdade, deixei de temer o meu tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os projetos megalômanos de futuro.
Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo.
Hoje sei que isso é... Simplicidade.
Quando me amei de verdade, desisti de querer sempre ter razão e, com isso, errei muitas menos vezes.
Hoje descobri a... Humildade.
Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de preocupar com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece.
Hoje vivo um dia de cada vez. Isso é...Plenitude.
Quando me amei de verdade, percebi que minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas quando a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada.
Tudo isso é... Saber viver!!!
Desconheço o autor.