sexta-feira, 27 de julho de 2012

Para meus Amigos

Loucos e Santos

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim. Para isso, só sendo louco. Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
 
Oscar Wilde

Matrix

Os relacionamentos do passado se inspiravam nos romance. Os atuais se inspiram em redes sociais.
Antigamente vc se relacionava por afetividade, afinidade, sonhos em comum. Hoje vc estabelece contratos conforme convenções de sociais. O que define a relação é o grau de compatibilidade dos recursos e hábitos a serem exibidos.
Antes as lembranças, hoje o instagram. Antes a troca de olhar, hoje a troca de tuitada. Antes o abraço, hoje o bluetooth. Antes o amor, hoje o curtir.
Hoje vc leva aos encontros toda uma comunidade de contatos, partilha com eles cada momento, cada ganho, cada momento "glamuroso".
Estes contratos sociais, estas fachadas bem arrumadas não sei se se sustentam. É tudo tão tecnológico, uma mídia sem validade conhecida.
O que há de mais natural se perde, as sensações, as descobertas dão lugar aos atalhos.
Tanto se fala de BBB, mal se dando conta que estão lá dentro, gerenciando seus perfis, maquiando a realidade, passando photoshop nos detalhes.
Tudo ao alcance de um toque, até pouco tempo atrás era um clique, logo teremos comando de voz, "realidade" aumentada, etc...
Enxergaremos o mundo como uma tela de retina, selecionaremos os aplicativos e excluiremos outros com apenas um toque. Seremos descartáveis...
Será que sou antiquado? Ou devo me modernizar (ceder)?
:-)

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Homenagem...


A quem luta pelo que acredita.

Liberdade.

Ângulo... by Eros - O Dom
Ângulo..., a photo by Eros - O Dom on Flickr.
Desde criança sonhamos com liberdade, muito mais do que ser livre, queremos ter decisão em nossas vidas, ter as rédeas.
Com o tempo descobrimos que não é tão fácil assim, que ter vida nas próprias mãos desafia, cansa, nos leva, muitas vezes, ao limite.
A reviravolta é quando começamos a desejar abdicar desta liberdade, esquecer os problemas, as responsabilidades, viver sem o fardo de ter que pensar em tudo.
Viramos reféns de nós mesmos, pq a escolha é nossa.
Concedemos o direito a outro(s) e não podemos reclamar das consequências, das perdas.
Mas nada substitui a liberdade, o direito de criar suas coisas, de conduzir de seu jeito, de colher os frutos.
A vida é seu canteiro, nela vc planta e colhe aquilo que deseja, só suas mãos habilidosas (ou não) serão capazes de cuidar bem, de zelar, de manter o viço.
Erras faz parte do processo, é assim que aprendemos, ganhamos o jeito certo.
Não, ninguém prende vc, vc sim que abdica do direito de ser livre, que abandona seu canteiro.
Para sermos bons cuidadores, precisamos começar por nós mesmos, como diz o ditado: casa de ferreiro, espeto de pau?
O tempo te ensina a cuidar de seu canteiro, te dará a habilidade necessária e, orgulhos(a), poderá compartilhar isto com as pessoas que vc gosta.
Isto é liberdade, vale a pena lutar por ela, vale a pena lutar por vc.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Momento Chico Buarque.




Para inspirar os de bom gosto.

Vc está no controle?

Vc acredita ter o controle, imagina que tudo está em suas mãos até que escorregam por entre os dedos.
Vc leva sua vida sob a ótica de que tem total controle, que pode mudar os rumos quando quiser, que pode fazer escolhas por sua livre e espontânea vontade, mas...
Quando vai testar, se dá conta que não, que quem tem o controle não é vc, mas outra pessoa.
A grande arte do ser humano é fazer o outro acreditar que está no controle, simular aceitação, parceria, companheirismo, no entanto, olhando de perto, só está se beneficiando, te deixando confiante no papel que vc supõe ter para, no momento que for preciso, revelar sua verdade.
Observe que nem sempre é preciso, tudo pode funcionar bem, sem que haja necessidade de se revelar.
Outras vezes a brincadeira de parecer ao invés de ser é de ambos os lados, é conveniente aceitar e fingir seus papéis para que tudo fique bem.
Outras vezes é um jogo arriscado onde vc coloca o outro sob pressão de agir e/ou reagir, sabe-se lá quais serão as consequências, o tesão está justamente no jogo, no não saber o resultado.
Tb é comum se enganar, mesmo sabendo que não está no controle, se insiste em imaginar que está, ameniza algumas sensações difíceis de lidar.
O excesso de confiança tb é um inimigo, impede de perceber o cenário a sua volta, os movimentos do tabuleiro e quando se dá conta, caiu na armadilha.
Em alguns momentos é só preguiça, basta acreditar que estamos no controle, algumas vezes até estivemos, mas por preguiça deixamos o jogo virar.
O que importa é que, na maioria das vezes, a situação ilusória de estar no controle é ruim, tem efeitos ruins em nossas vidas. Ao menos quando nos damos conta de que não temos ou quando perdemos, de repente os papéis se invertem e pronto, como lidar?
Talvez devamos pensar se temos condições efetivas de ter o controle, nem todo mundo está habilitado pra estar no comando da própria vida e atos.
Algumas vezes é até vantajoso ceder o controle, se bem que relações de parceria são bem mais ricas, onde existe o compartilhar ao invés do se submeter.
Mas para ceder, transferir o controle, existe o mérito, quem tem o controle deve merecer, ter condições de estar ali, senão...
A troca de posições deve ser respeitosa, elegante até, a força pode até ser aceitável por algum tempo, mas não perdura sem conteúdo, sem o mérito.
Não dá pra se conquistar o controle dando rasteira, jogando sujo, apelando pra força, etc... Muito menos aceitar esta troca quando se dá sob essas condições.
Consciente de seu papel, de suas expectativas, faça prevalecer, jamais ceda, não se deixe enganar, não acredite em contos da carochinha...
Nem o passado nem a expectativa do futuro são bons argumentos. O que passou, passou, talvez nunca volte. O que virá é só uma visão embaçada, uma torcida para que aconteça. Contra fatos, não há argumentos.
Não tem como ser feliz vivendo num papel que não é seu, sem ter o mínimo controle sobre sua vida e decisões. Não tem como conceder espaço, em alguns casos isto tem outro nome: invasão.
Se teu papel é ter o controle, se teu papel é pleno quando se compartilha, lute, faça prevalecer quem vc é, não ceda, não se entregue, nãos e submeta, não se negue a ser quem vc de fato é.
Acima de tudo, acredite em vc, a realidade depõe a seu favor.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Homenagens e lembranças...


A Menina.

Lá vai a menina subindo e descendo a montanha em sua pequena carruagem de fruta. Desviando aqui e ali, corre para cuidar dos seus. A menina cuidadora, que zela pelo bem dos outros.
Menina cheia de sonhos, cheia de conquistas, que dribla os obstáculos, que chora, que ri, que pede colo, que se inspira no passado em busca de seu futuro.
Menina que se refugia na natureza, entre cachoeiras e sonhos. Menina grande, poderosa.
Menina, mulher, fêmea.
Mas sabe disto? Sabe quem é?
Esta menina não cabe presa na torre de um castelo, cabe liberta e cheia de vida. Esta menina cheia de luz precisa brilhar sem grilhões.
O servir, o fazer o bem não exige anulação.
Em sua grandeza a menina vai conquistando, abrindo portas, mas não se dá conta.
A vida pede um salto, exige, clama. Mas e a menina? Ouve?
Querem roubar a felicidade da menina, tirar seu sorriso do rosto.
Não deixe menina, pq a verdadeira força é sua, as escolhas são suas, os outros só roubam de vc sua luz.
Não se esconda, nada tema, acredite.
Não se deixe perseguir, não tenha mais medos dos cantos e recantos, de quem se esconde, de quem se tornou sua sombra, quem invade seu espaço, que te ameaça.
Não tenha medo do novo, do mundo que se revelará, ele é todo seu, sua vida te preparou pra isto.
Sim menina, foi vc que abriu a porta, mas não foi vc que fechou.
Em seus sonhos vc voa, está na hora de voar, ter novos sonhos e tornar real os antigos...
Está na hora de se libertar de sua própria armadilha.
Não faça isto por ninguém, faça por vc.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Nossa fazenda

Fazenda dos Coqueiros by S.Teylor
Fazenda dos Coqueiros, a photo by S.Teylor on Flickr.
Uma imagem sobre nossas vidas que cai bem é a de fazenda, nela cabem todos nossos sonhos, nossas realizações, nossos amigos, nossos amores.
Construímos e mantemos nela tudo que é parte importante do que somos.
Da mesma maneira, se descuidarmos, ela será invadida, o mato tomará conta, as construções vão se fragilizar até virar ruínas e saudade.
Poucos compartilham contigo essa fazenda, poucos vc permite entrar, conhecer os lagos e cachoeiras, conhecer seus recantos mais secretos...
Essas pessoas são as importantes em sua vida, é por elas que tudo vale a pena, mas sem elas...
Nem sempre elas podem ficar, muitas vezes elas tem as próprias fazendas pra cuidar, mas manter a sua sempre cuidadosa e a porteira aberta é sabedoria.
A felicidade está em colocar dentro de sua fazendo tudo aquilo que importa, cuidar pra jamais deixar que ocorra invasões ou abusos de qualquer espécie, zelar por cada canto e recanto, nada é menos importante, o todo que nos mantém.
Minha fazenda pode até ser restrita, mas continuarei cuidando dela, pq sei que pessoas que importam sempre poderão vir me visitar, e quero compartilhar com elas tudo aquilo que contruo, tudo aquilo que construímos.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Escolhas convenientes.

Sermos bem sucedidos, por vezes, camuflam uma realidade, a das escolhas convenientes, aquelas que servem para viabilizar a vida.
São escolhas, ou decisões, use conforme preferir, que determinam as oportunidades, as prioridades, as zonas de conforto. Em geral abdicamos de alguma(s) coisa(s) e aceitamos outra(s) para que tudo corra bem, dentro do plano estabelecido.
Sim, é um processo racional, pouco intuitivo e emocional.
Chega a tal ponto que podemos chamar de mentiras convenientes.
Mas isto é uma constante em nossas vidas, vez ou outra fazemos isto, não somos imunes, muito menos superiores.
Seja para nos darmos bem, seja por fuga de algo, medo ou insegurança, ambição, etc...
Normalmente fazemos isto com o foco fechado, pensando num objetivo mais imediato, outras tem um olhar mais amplo, mas muitas vezes confuso, distorcido da realidade.
Por exemplo, vc sofreu muito em uma relação, isto basta para concluir que todas serão iguais e com base nisto escolher uma vida de superficialidade? Vc sofreu com uma criação rígida, isto basta para que tenha uma relação totalmente liberal com os filhos? Vc sofria bulling na escola, isto basta para que sua ambição seja desmedida?
O problema das escolhas convenientes é que desaprendemos a tomar decisões sérias, maduras, com relevância. Como se diz, vamos empurrando com a barriga.
Este é o tipo de situação que não dá pra ver somente nos outros, afinal, todos fazemos isto, ao menos uma vez na vida. Até time de futebol pode ser escolhido por conveniência. E o que é a moda? E o linguajar? A aparência? As eleições?
O que sei é que devemos romper as correntes, assumirmos quem nós somos, nossas escolhas, nossos sentimentos.
Não adianta ter um aspecto de sua vida bombando, se desenvolvendo com sucesso, pq chegando ao fim, sobra a realidade.
Não adianta atalhos, distrações, nos envolvermos com algo que nos toma de todo, pq sempre haverá uma "área" precisando de cuidados, de atenção, de zelo, ou seja, de nossas decisões.
Isto cabe a nós, não tem como terceirizar, encarar os fatos, agir.
Tem um ditado simples e que fala muito sobre isto:
"Havia três sapos na beira da lagoa, um decidiu pular, quantos ficaram?"
Pular exige de nós, pede algo a mais, mas não será melhor do que não se sustentar com a realidade?
Muitas vezes tem coisas em nossas vidas funcionando, dando certo, são escolhas bem feitas, mas elas iludem, podem dar a impressão que está tudo certo, que somos exemplos de sucesso. Mas só nós sabemos o que sacrificamos pra isto.
Quando falo que todos nós fazemos isto, ao menos uma vez, significa que tivemos a chance de aprender algo ali, a maturidade significa olhar pra estes eventos de nossa vida e aprender com eles.
Do que vc tem medo? Pq tanta insegurança para pular? O que te fragiliza de tal modo que te faz fazer escolhas convenientes? O que te faz continuar mentindo pra si mesmo(a)?
A resposta sobre os sapos é que ficaram três, afinal, um só decidiu pular... Mas não pulou...
Uma curta história para complementar:
"Um Rei morava em um castelo se deteriorava por falta de cuidados, ele passava o dia ouvindo reclamações e delegando responsabilidades para que tudo se resolvesse, mas os problemas continuavam.
Um dia uma fada surgiu para ajudá-lo e seu único pedido foi para que ela resolvesse todos os problemas do castelo, ela então lhe deu uma varinha de condão e disse: essa varinha te ajudará, basta você ir até o local do problema e usa-la. Convicto do poder da varinha o Rei passou a percorrer o castelo e os problemas foram se resolvendo uma a um, mal sabia que a varinha não era mágica, a "mágica" era a simples presença dele"

segunda-feira, 16 de julho de 2012

A música e seus significados...


Eu desço dessa solidão, espalho coisas sobre um chão de giz
Há meros devaneios tolos a me torturar
Fotografias recortadas em jornais de folhas amiúde
Eu vou te jogar num pano de guardar confetes
Eu vou te jogar num pano de guardar confetes

Disparo balas de canhão, é inútil pois existe um grão vizir
Há tantas violetas velhas sem um colibri
Queria usar quem sabe uma camisa de força ou de vênus
Mas não vão gozar de nós apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar gastando assim o meu batom

Introdução

Agora pego um caminhão, na lona vou a nocaute outra vez
Pra sempre fui acorrentado no seu calcanhar
Meus vinte anos de "boy, that's over, baby" , Freud explica
Não vou me sujar fumando apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar gastando assim o meu batom
Quanto ao pano dos confetes já passou meu carnaval
E isso explica porque o sexo é assunto popular

no mais estou indo embora 3x

No mais…

Mensagens a Fernando Sabino - Hélio Pellegrino

Na juventude, já grande amigo do escritor Fernando Sabino, Hélio Pellegrino lhe escreveu a seguinte mensagem:

"O homem, quando jovem, é só, apesar de suas múltiplas experiências. Ele pretende, nessa época, conformar a realidade com suas mãos, servindo-se dela, pois acredita que, ganhando o mundo, conseguirá ganhar a si próprio. Acontece, entretanto, que nascemos para o encontro com o outro, e não o seu domínio. Encontrá-lo é perdê-lo, é contemplá-lo em sua liberrérima existência, é respeitá-lo e amá-lo na sua total e gratuita inutilidade. O começo da sabedoria consiste em perceber que temos e teremos as mãos vazias, na medida em que tenhamos ganho ou pretendamos ganhar o mundo. Neste momento, a solidão nos atravessa como um dardo. É meio-dia em nossa vida, e a face do outro nos contempla como um enigma. Feliz daquele que, ao meio-dia, se percebe em plena treva, pobre e nu. Este é o preço do encontro, do possível encontro com o outro. A construção de tal possibilidade passa a ser, desde então, o trabalho do homem que merece seu nome."

Muitos anos depois, quando completava 60 anos, Hélio reformulou o que havia escrito para Sabino, com muito humor:

"Quando você faz 20 anos está de manhã olhando o sol do meio dia. Aos 60 são seis e meia da tarde e você olha a boca da noite. Mas a noite também tem seus direitos. Esses 60 anos valeram a pena. Investi na amizade, no capital erótico, e não me arrependo. A salvação está em você se dar, se aplicar aos outros. A única coisa não perdoável é não fazer. É preciso vencer esse encaramujamento narcísico, essa tendência à uteração, ao suicídio. Ser curioso. Você só se conhece conhecendo o mundo. Somos um fio nesse imenso tapete cósmico. Mas haja saco!"

Os textos acima foram extraídos do livro "Hélio Pellegrino - A paixão indignada", da coleção "Perfis do Rio", Relume-Dumará / Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 1998, pág. 11 e seguintes.

sábado, 14 de julho de 2012

Parceiro ou refém?

Em nossos relacionamentos somos aquilo que aceitamos e estabelemos para nós. O que permitimos ao outro, o que nos mantém ligado ao outro determina nosso papel.
O relacionamento mais maduro, mais bem resolvido envolve parceria, claro que tem muito mais aqui, que faz com que esta parceria funcione, mas o que cabe é observar como deixamos isto escapar entre os dedos e nos tornarmos dependentes do outro, como abdicamos ou nos perdemos de tal maneira que nossa individualidade e felicidade se deteriora, como nos tornamos reféns do outro.
O papel do outro nem sempre é forçado, voluntário, ninguém se auto estabelece no controle de uma relação sem que haja um permissão, ou melhor, uma ausência que defina os contornos da relação.
O amor é um bom motivo pra que as coisas caminhem assim? Não se for compartilhado, maduro, o amor entre duas pessoas é base da parceria, da troca, não de uma relação onde um se submete, se resigna com seu papel.
É preciso estar confortável na relação, nada temer, não estar condicionado, não ter condições para que a relação se mantenha.
Mas pq tanta gente aceita isto?
Boa pergunta, mas de resposta nem tanto difícil. Se bem que são muitas alternativas: carência, insegurança, medo, aparências, dependência...
Mas, se olharmos bem de perto, a maioria das respostas não cabem, as pessoas enxergam o mundo de forma muito própria, e nele elas são peças frágeis da engrenagem quando, muitas vezes, elas são as engrenagens principais.
Nessas fantasias, muitas vezes pensamos que somos nós que estamos no controle, até que...
Quando intencional, o grande truque do "seqüestrador" é inverter os papéis, induzindo o outro a se perceber de outra maneira, mais fragilidade, em outra palavras, alguém que não terá chances melhores sem " ele".
Grande mentira.
Como sempre o tempo é protagonista, ou vc se dará conta ou deixará passar e nunca mais terá volta.
Claro que algumas vezes a pessoa dá sorte e encontra alguém muito acima da expectativa, ou seja, da qual vale a pena abdicar de algumas coisas pra ser feliz, mas até que ponto a balança é justa? Até que ponto vc faz as escolhas certas? E até que ponto vc é retribuído por seu "sacrifício"?
Mesmo na sorte e, convenhamos, a sorte é encontrar alguém que realmente nos complemente, é possível a infelicidade, a manipulação, o uso, o abuso.
E quando somos grandes pensando pequeno? É nossa falta de fé que nos leva à armadilha? A falta de fé na gente, na vida? Não acreditar no que somos, nos que podemos ser e ter?
Muitos dirão que é falta de fé no amor, na felicidade, na grandeza do ser humano. Muitos dirão que a vida não é um romance. Mas...
Olhe a sua volta. Temos sim exemplos de fracasso, de como as relações se esvaziaram, perderam o sentido. Mas veja, "perderam o sentido" aponta para o passado, onde as relações eram autênticas, de cumplicidade, eram de verdade. Não importava como começava, mesmo as arranjadas se estabeleciam com parceria.
O passado pode até ser nosso exemplo, mas se olharmos bem, o presente tb nos brinda com ótimas fotografias da vida a dois.
Se vc sonha com seu futuro numa bela casa no campo, recebendo visita de seus netos e contando histórias, muito mais do que um sobrenome em comum, é preciso duas figuras pra compor seus sonhos, dois personagens parceiros, que construíram juntos a realidade.
Se não for assim, será só alguém sentado na varanda lamentando suas escolhas.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

O Banquete - Platão (Discurso de Aristófanes)


"Com efeito, parece-me os homens absolutamente não terem percebido o poder do amor, que se o percebessem, os maiores templos e altares lhe preparariam, e os maiores sacrifícios lhe fariam, não como agora que nada disso há em sua honra, quando mais que tudo deve haver. É ele com efeito o deus mais amigo do homem, protetor e médico desses males, de cuja cura dependeria sem dúvida a maior felicidade para o gênero humano. Tentarei eu portanto iniciar-vos em seu poder, e vós o ensinareis aos outros. Mas é preciso primeiro aprenderdes a natureza humana e as suas vicissitudes. Com efeito, nossa natureza outrora não era a mesma que a de agora, mas diferente. Em primeiro lugar, três eram os gêneros da humanidade, não dois como agora, o masculino e o feminino, mas também havia a mais um terceiro, comum a estes dois, do qual resta agora um nome, desaparecida a coisa; andrógino era então um gênero distinto, tanto na forma como no nome comum aos dois, ao masculino e ao feminino, enquanto agora nada mais é que um nome posto em desonra. Depois, inteiriça era a forma de cada homem, com o dorso redondo, os flancos em círculo; quatro mãos ele tinha, e as pernas o mesmo tanto das mãos, dois rostos sobre um pescoço torneado, semelhantes em tudo; mas a cabeça sobre os dois rostos opostos um ao outro era uma só, e quatro orelhas, dois sexos, e tudo o mais como desses exemplos se poderia supor. E quanto ao seu andar, era também ereto como agora, em qualquer das duas direções que quisesse; mas quando se lançavam a uma rápida corrida, como os que cambalhotando e virando as pernas para cima fazem uma roda, do mesmo modo, apoiando-se nos seus oito membros de então, rapidamente eles se locomoviam em círculo. Eis por que eram três os gêneros, e tal a sua constituição, porque o masculino de início era descendente do sol, o feminino da terra, e o que tinha de ambos era da lua, pois também a lua tem de ambos; e eram assim circulares, tanto eles próprios como a sua locomoção, por terem semelhantes genitores. Eram por conseguinte de uma força e de um vigor terríveis, e uma grande presunção eles tinham; mas voltaram-se contra os deuses, e o que diz Homero de Efialtes e de Otes é a eles que se refere, a tentativa de fazer uma escalada ao céu, para investir contra os deuses. Zeus então e os demais deuses puseram-se a deliberar sobre o que se devia fazer com eles, e embaraçavam-se; não podiam nem matá-los e, após fulminá-los como aos gigantes, fazer desaparecer-lhes a raça - pois as honras e os templos que lhes vinham dos homens desapareceriam — nem permitir-lhes que continuassem na impiedade. Depois de laboriosa reflexão, diz Zeus: "Acho que tenho um meio de fazer com que os homens possam existir, mas parem com a intemperança, tornados mais fracos. Agora com efeito, continuou, eu os cortarei a cada um em dois, e ao mesmo tempo eles serão mais fracos e também mais úteis para nós, pelo fato de se terem tomado mais numerosos; e andarão eretos, sobre duas pernas. Se ainda pensarem em arrogância e não quiserem acomodar-se, de novo, disse ele, eu os cortarei em dois, e assim sobre uma só perna eles andarão, saltitando." Logo que o disse pôs-se a contar os homens em dois, como os que cortam as sorvas para a conserva, ou como os que cortam ovos com cabelo; a cada um que cortava mandava Apolo voltar-lhe o rosto e a banda do pescoço para o lado do corte, a fim de que, contemplando a própria mutilação, fosse mais moderado o homem, e quanto ao mais ele também mandava curar. Apolo torcia-lhes o rosto, e repuxando a pele de todos os lados para o que agora se chama o ventre, como as bolsas que se entrouxam, ele fazia uma só abertura e ligava-a firmemente no meio do ventre, que é o que chamam umbigo. As outras pregas, numerosas, ele se pôs a polir, e a articular os peitos, com um instrumento semelhante ao dos sapateiros quando estão polindo na forma as pregas dos sapatos; umas poucas ele deixou, as que estão à volta do próprio ventre e do umbigo, para lembrança da antiga condição. Por conseguinte, desde que a nossa natureza se mutilou em duas, ansiava cada um por sua própria metade e a ela se unia, e envolvendo-se com as mãos e enlaçando-se um ao outro, no ardor de se confundirem, morriam de fome e de inércia em geral, por nada quererem fazer longe um do outro. E sempre que morria uma das metades e a outra ficava, a que ficava procurava outra e com ela se enlaçava, quer se encontrasse com a metade do todo que era mulher - o que agora chamamos mulher — quer com a de um homem; e assim iam-se destruindo. Tomado de compaixão, Zeus consegue outro expediente, e lhes muda o sexo para a frente - pois até então eles o tinham para fora, e geravam e reproduziam não um no outro, mas na terra, como as cigarras; pondo assim o sexo na frente deles fez com que através dele se processasse a geração um no outro, o macho na fêmea, pelo seguinte, para que no enlace, se fosse um homem a encontrar uma mulher, que ao mesmo tempo gerassem e se fosse constituindo a raça, mas se fosse um homem com um homem, que pelo menos houvesse saciedade em seu convívio e pudessem repousar, voltar ao trabalho e ocupar- se do resto da vida. E então de há tanto tempo que o amor de um pelo outro está implantado nos homens, restaurador da nossa antiga natureza, em sua tentativa de fazer um só de dois e de curar a natureza humana. Cada um de nós portanto é uma téssera complementar de um homem, porque cortado como os linguados, de um só em dois; e procura então cada um o seu próprio complemento. Por conseguinte, todos os homens que são um corte do tipo comum, o que então se chamava andrógino, gostam de mulheres, e a maioria dos adultérios provém deste tipo, assim como também todas as mulheres que gostam de homens e são adúlteras, é deste tipo que provêm. Todas as mulheres que são o corte de uma mulher não dirige muito sua atenção aos homens, mas antes estão voltadas para as mulheres e as amiguinhas provêm deste tipo. E todos os que são corte de um macho perseguem o macho, e enquanto são crianças, como cortículos do macho, gostam dos homens e se comprazem em deitar-se com os homens e a eles se enlaçar, e são estes os melhores meninos e adolescentes, os de natural mais corajoso. Dizem alguns, é verdade, que eles são despudorados, mas estão mentindo; pois não é por despudor que fazem isso, mas por audácia, coragem e masculinidade, porque acolhem o que lhes é semelhante. Uma prova disso é que, uma vez amadurecidos, são os únicos que chegam a ser homens para a política, os que são desse tipo. E quando se tornam homens, são os jovens que eles amam, e a casamentos e procriação naturalmente eles não lhes dão atenção, embora por lei a isso sejam forçados, mas se contentam em passar a vida um com o outro, solteiros. Assim é que, em geral, tal tipo torna-se amante e amigo do amante, porque está sempre acolhendo o que lhe é aparentado. Quando então se encontra com aquele mesmo que é a sua própria metade, tanto o amante do jovem como qualquer outro, então extraordinárias são as emoções que sentem, de amizade, intimidade e amor, a ponto de não quererem por assim dizer separar-se um do outro nem por um pequeno momento. E os que continuam um com o outro pela vida afora são estes, os quais nem saberiam dizer o que querem que lhes venha da parte de um ao outro. A ninguém com efeito pareceria que se trata de união sexual, e que é porventura em vista disso que um gosta da companhia do outro assim com tanto interesse; ao contrário, que uma coisa quer a alma de cada um, é evidente, a qual coisa ela não pode dizer, mas adivinha o que quer e o indica por enigmas. Se diante deles, deitados no mesmo leito, surgisse Hefesto e com seus instrumentos lhes perguntasse: Que é que quereis, ó homens, ter um do outro?, E se, diante do seu embaraço, de novo lhes perguntasse: Porventura é isso que desejais, ficardes no mesmo lugar o mais possível um para o outro, de modo que nem de noite nem de dia vos separeis um do outro? Pois se é isso que desejais, quero fundir-vos e forjar-vos numa mesma pessoa, de modo que de dois vos tomeis um só e, enquanto viverdes, como uma só pessoa, possais viver ambos em comum, e depois que morrerdes, lá no Hades, em vez de dois ser um só, mortos os dois numa morte comum; mas vede se é isso o vosso amor, e se vos contentais se conseguirdes isso. Depois de ouvir essas palavras, sabemos que nem um só diria que não, ou demonstraria querer outra coisa, mas simplesmente pensaria ter ouvido o que há muito estava desejando, sim, unir-se e confundir-se com o amado e de dois ficarem um só. O motivo disso é que nossa antiga natureza era assim e nós éramos um todo; é portanto ao desejo e procura do todo que se dá o nome de amor. Anteriormente, como estou dizendo, nós éramos um só, e agora é que, por causa da nossa injustiça, fomos separados pelo deus, e como o foram os árcades pelos lacedemônios; é de temer então, se não formos moderados para com os deuses, que de novo sejamos fendidos em dois, e perambulemos tais quais os que nas estelas estão talhados de perfil, serrados na linha do nariz, como os ossos que se fendem. Pois bem, em vista dessas eventualidades todo homem deve a todos exortar à piedade para com os deuses, a fim de que evitemos uma e alcancemos a outra, na medida em que o Amor nos dirige e comanda. Que ninguém em sua ação se lhe oponha - e se opõe todo aquele que aos deuses se torna odioso - pois amigos do deus e com ele reconciliados descobriremos e conseguiremos o nosso próprio amado, o que agora poucos fazem. E que não me suspeite Erixímaco, fazendo comédia de meu discurso, que é a Pausânias e Agatão que me estou referindo talvez também estes se encontrem no número desses e são ambos de natureza máscula mas eu no entanto estou dizendo a respeito de todos, homens e mulheres, que é assim que nossa raça se tornaria feliz, se plenamente realizássemos o amor, e o seu próprio amado cada um encontrasse, tornado à sua primitiva natureza. E se isso é o melhor, é forçoso que dos casos atuais o que mais se lhe avizinha é o melhor, e é este o conseguir um bem amado de natureza conforme ao seu gosto; e se disso fôssemos glorificar o deus responsável, merecidamente glorificaríamos o Amor, que agora nos é de máxima utilidade, levando-nos ao que nos é familiar, e que para o futuro nos dá as maiores esperanças, se formos piedosos para com os deuses, de restabelecer-nos em nossa primitiva natureza e, depois de nos curar, fazer-nos bem aventurados e felizes".

Esperando...


As coisas boas são eternas, a espera é só o reconhecimento...

quarta-feira, 4 de julho de 2012

As questões da paixão.

Dizem que o amor é cego, dizem que devemos mergulhar numa paixão, falam de amor sem limites, mas será mesmo que somos capazes de ir tão longe?
Uma amostra que as coisas podem ter limite é a paixão platônica, vc fica na sua só curtindo o outro e nada de ser arriscar a se machucar, sofrer.
Outros evitam a todo custo se meter com isto, nada de se apaixonar, amores eternos ou qualquer coisa que lembre histórias de romance.
O óbvio da história é que tudo depende do outro, seja o espaço concedido, seja a recíproca, a confiança, ou seja, mergulhar em algo intenso sempre dependerá do outro, do quanto vc pode confiar no outro no sentido de lidar com toda intensidade envolvida.
Vc pode ter muita energia, mas o quanto poderá explora-la dependerá do quanto o outro te deixar confiante pra isto.
A sabedoria diz que vc deve conhecer bem o terreno onde vai erguer suas construções, sem bases sólidas, nada se sustenta. Grandes construções exigem bases bem seguras, não?
Como se trata de algo feito a dois, o confiar vai além, vai na percepção do quanto o outro saberá lidar com o todo, no quanto vc pode compartilhar e na capacidade do outro de lidar com isto, ou seja, não só com a própria carga, mas com a que vc levará consigo.
Não é discutir que gavetas cada um vai usar, é ter a sensibilidade de, mesmo sem palavras, saber até onde podem ir, como chegar lá, sem perder os caminhos de volta.
Cumplicidade, que tanto se fala, é ter comprometimento com um "projeto", é pensar no par, é dançar, fluir como se fossem um. É segurar um a mão do outro e seguir, sabendo que pode contar, que se um tiver dificuldade, o outro se sustenta, lida, mantém.
Esta confiança no outro é o verdadeiro limite da paixão, ou vc se declara às cegas sem esperar recíproca? Mesmo apaixonado, sempre tem o medo de "forçar" demais, de ficar aquém, de não saber expressar o sentimento, de impor um peso que o outro não suporte, de ser leve demais, etc...
No fim, sempre haverá boas doses de razão agindo, em algum momento, mesmo para o mal, a razão age. Sim, pq a "razão" pode ser o motivo para sua covardia ou para seus excessos.
Mas como falar em pensar como se fosse um num mundo tão egoísta, possessivo? Num mundo onde a aparência conta mais do que o que de fato se é? De novo, um limite se impondo.
Temos a experiência deste amar ilimitado e sem medo com pais, avós, filhos... Aos menos deveríamos, mas se existe um ambiente propício para experimentar é justamente com eles.
Mas é tão difícil experimentar este mergulho no abismo com outro quando não se sabe se existe uma rede lá embaixo, ou quando não se sabe se o outro conseguirá manter o vôo contigo ou, pior, quando não sabemos se nós mesmos somos capazes...
Eu diria que tudo depende da leitura, da boa leitura, se vc faz a leitura certa, vc curte e aproveita bem o que sente, pq vc dimensiona bem e, de maneira madura, vc vivencia esta experiência única. Afinal, não é de todo ruim sentir, se apaixonar, mesmo que vc não consiga ter tudo que desperta dali. Com a leitura certa, vc pode sim se entregar e vivenciar em toda intensidade, de maneira real, sem fantasia ou ilusão, sem histórias de romance.
Só não faça por carência, modismo, necessidade. Não seja refém das expectativas, suas e alheias, viva o que for verdadeiro, se permita. Experimente dentro do tamanho certo, nem mais, nem menos, é um momento único quando é real.