Já deve ter acontecido contigo... Vc numa fila, num corredor de supermercado, pronto pra tirar uma foto do filho na apresentação da escola... E chega alguém e age como se vc não existisse. No primeiro momento vc se incomoda com a grosseria, mas a pessoa, em algum momento, se toca do que fez e se desculpa, bem depois do estrago feito.
Cabe refletir, afinal, a boa cordialidade se dá bem antes, quando vc se policia, quando vc zela e respeita.
Cordialidade é ação, não reação.
Claro, antes se corrigir do que prosseguir no erro. Mas é tão comum o desculpar, pós dano causado, que penso como, na repetição, não se aprende.
Evidente que acontece, muitas vezes, por distração, mas a ausência de um freio prévio, de perceber como sua atitude invade direito alheio, é reveladora sobre quem somos.
Mais revelador ainda é a reação das pessoas com atitudes cordiais, banais que sejam, como ceder lugar, abrir espaço, aguardar, alertar, ajudar... As pessoas se assustam diante do "inesperado". Digo mais, algumas até desconfiam...
Fico pensando até que ponto devemos nos permitir à distração, por exemplo, dirigir com metade da velocidade recomendada para uma pista, sem perceber o frenesi que provoca logo atrás, conversar alto (muitas vezes revelando coisas que não devia) em ambientes mais reservados, se livrar de lixo na rua só para desocupar as mãos, fora os citados acima.
Quem é grosseiro, é e sabe disto, faz disto sua postura.
Mas aquele que tem noção e se descuida, se podemos chamar assim, que se repete no equívoco sem jamais aprender com isto, me causa especial interesse. Existe uma vantagem no distraído, mesmo com o ônus, eventual, do constrangimento. Então, pq não? Pra que se policiar? Pra que pensar antes se pode corrigir depois? Se vc é feliz, se consegue tirar aquela foto legal na festa da escola, se consegue pegar aquele último docinho antes que acabe, se foi atendido rapidamente... A vida deve parecer boa o suficiente pra não justificar mudanças, não?
A falsa cordialidade.
Como dizem, de boas intenções...
Tem um velho ditado que diz: "Quando apontares um dedo, lembre-se, outros quatro apontam pra si..."
É uma frase que me assombra, talvez por isto vejo com extremo cuidado quem age assim, os efeitos que causam... Não somos imunes, claro, mas podemos ficar atentos... Podemos ser o beija-flor contribuindo com algo maior.