A mitologia é cheia de personagens que sofrem, vivem as mais profundas angústias, convivem com as mais diversas dores.
Vou criar um hoje, alguém que é capaz de ver as pessoas além das máscaras, alguém que é capaz de encontrar o que há de melhor em cada um de nós, mas que está aprisionado, reprimido.
Seu dom é conhecer as pessoas além do que elas próprias sabem, ver, enxergar, mergulhar no seu mais profundo íntimo, fazer viagens de descobertas fascinantes.
Algumas viagens serão nebulosas, assustadoras, enfrentando camadas e mais camadas de proteção até conseguir achar o que de bom se esconde ali.
Outras serão viagens tristes, por camadas que consomem o ousado viajante.
Outras serão surpreendentes, pelo simples motivo de não encontrar razão pra manter preso tudo de bom que a pessoa tem.
Este nosso personagem conhece nosso melhor, se encanta pelo que descobre e nos trata de acordo com o que sua viagem proporcionou.
Óbvio que em algumas viagens não descobrirá nada de bom, destes, ele mantém distância.
Mas pense na felicidade que esta viagem proporciona, encontrar beleza e encantamento nos terrenos mais áridos, de onde menos se espera.
A princípio, nosso personagem é um felizardo, um abençoado. Encontra beleza onde ninguém mais encontra, enxerga cores onde todos enxergam cinza, vê luz onde todos tateiam na escuridão.
Mas...
Nosso personagem não tem a chave, não tem o poder de libertar toda esta beleza que encontra. Ele sabe que está lá, ele conhece todas as camadas que encobrem e mantém preso tudo de bom que temos mas fora sua capacidade de viajar, entrar e sair, não consegue trazer para fora tudo que vê.
Pior, muitos mal acreditam naquilo que ele descreve, desqualificando o nobre personagem viajante.
Infeliz com seu próprio destino, ainda sofre por testemunhar que tudo aquilo de bom que se guarda ali dentro vai ficando cada vez mais escondido nas profundezas, afastando cada vez mais as pessoas de tudo de bom que poderiam conquistar.
Com o tempo, ele silencia, se acomoda e lamenta o destino das pessoas que tinham grandes promessas de felicidade e realização.
Nosso infeliz personagem tb não tem como fugir de seu próprio dom, pq suas viagens não tem controle, ele é simplesmente sugado pra dentro, enfrentando todos os percalços do caminho até achar o tesouro escondido. Ele não tem escolha.
Carregamos um pouco destes personagens mitológicos dentro de nós, lembrando que este é mera criação. Quantas vezes vc sentiu na pele o que nossa personagem sente? Quantas vezes passou por isto? Quantas vezes conseguiu ver além mas nada pôde fazer?
As pessoas que passam em nossas vidas sempre levam um pedaço de nós, queiram ou não queiram.
2 comentários:
Bonito texto, demonstra sensibilidade, e disponibilidade em ajudar...
Talvez mtas pessoas não queiram ser descobertas, se acostumaram com suas vidas ou se acomodaram... ou podem ter problemas mais graves, enraizados, dificultando assim se libertarem...
Sendo assim, nos cabe então a contemplação de longe, imaginar o quão belo teria sido, se a oportunidade houvesse se concretizado...
Parabéns, sempre é bom passar por aqui, e encontrar textos elegantes, educados, mas principalmente que nos remetem à reflexão...
Seu bom gosto, é coisa rara na net...
Sds...
Tem um velho ditado que diz: "A beleza esta nos olhos de quem vê."
Talvez o mais ingrato dos dons, seja o de enxergar possibilidades.
Lindo texto.
Triste também.
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