segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Consumindo cultura?

Quem gosta de um pouquinho mais de cultura vem sendo punido nos últimos tempos. Cada vez mais o conteúdo "cultural" vem sendo mastigado previamente, isto quando ainda existe algum, para depois despejar na grande massa.
Eu não sei o que resulta do que, se é esta padronização que originou a falta de cultura ou é a falta de cultura que vem exigindo novos "padrões".
É complicado consumir conteúdo de jornais, de tv e etc que não provocam reflexões e análises, está tudo pronto e enlatado, basta vc engolir.
Cultura em geral tem forma tão simplória que assusta, vc que espera um pouco mais de conteúdo acaba penalizado.
Vejam, não estou falando de quem tem uma cultura já refinada, estou falando da busca pela cultura, como desenvolver seres pensantes, que apreciem variedades se tudo já vem embalado, rotulado e direcionado? Como refinar cultura existente se não existe mais material disponível?
Mesmo nas poucas "ilhas" disponíveis já se vê um processo de simplificação, pra tornar mais atraente o produto, ou seja, tornar de fácil acesso.
Não aguento mais a malícia das explicações, escondendo a verdade.
Tudo vai empobrecendo, se tornando árido e punindo quem quer algo mais.
Nada contra o produto de consumo rápido, fácil, sem dor de cabeça, é até bom pra relaxar, distrair a mente, mas quando o entendimento geral começa a classificar como cultura, como algo de conteúdo devemos nos preocupar.
Não sei onde vamos parar, estamos regredindo, daqui a pouco nosso vocabulário vai ser tão rico quanto o do principio da comunicação verbal, com sorte ainda restará a escrita, não sei.
Nossas habilidades cada vez se tornam mais supérfluas, desnecessárias, e vamos nos habituando ao mínimo.
Se reduzimos nosso repertório, consequentemente, precisaremos menos da habilidade de compreensão, e vamos nos reduzindo, reduzindo até que... O que vai sobrar?
É meio desesperador ver as reduzidas possibilidades de sobrevivência da cultura, do pensar, cada vez mais distantes, inacessíveis.
A cultura é o que nos diferencia, nos permite pensar, tomar decisões, promover mudanças, nos desenvolvermos.
Outro dia estava vendo uma entrevista com Lêdo Ivo, poeta alagoano e membro da ABL, constato o quanto estamos desacostumados a ouvir pessoas com opinião, opinião mesmo. Logo desconfiei da entrevista especial e descubro na internet que ele havia acabado de morrer numa viagem à Europa. Lamentei duas vezes.
Alguns anos atrás alguém disse que os críticos e pensadores brasileiros só querem aplausos, morrem as pessoas e com elas nossa habilidade de pensar, questionar, ter opinião sem que isto pareça uma guerra de egos. É possível haver delicadeza na divergência.
Pensando no mundo como mercado, cada vez mais os que querem "desafios", os que querem qualidade, os que querem consumir algo mais elaborado fica relegado a segundo plano, cada vez mais se definem as diferenças, deixamos de ser para pertencer.
É uma pena que não tenhamos legado para as próximas gerações, que não tenhamos personagens e suas criações para registrar uma época, para lembrar o que fomos e fizemos.
Creio que eu não precise falar o que não quero ver como ícones de nosso tempo.

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