quinta-feira, 14 de novembro de 2013

De vez em quando sinto orgulho...

Seria esperado dizer que de vez em quando sinto vergonha... Mas, não, infelizmente não dá pra ser assim.
Se a gente sair da leitura convencional, do olhar acostumado em relação as barbaridades do dia a dia, a sensação será de vergonha, e só eventualmente de orgulho.
Aqui e ali algo nos alegra, nos motiva, nos renova, nos passa esperança mas...
A gente meio que se acostumou com a impunidade, com a grosseria, com a violência, com o desconforto, com a corrupção, com os abusos, com os aproveitadores, com a desonestidade, com as dificuldades, com a necessidade de matar um leão por dia.
Andamos em conduções lotadas, passamos horas dos nossos dias em engarrafamentos, sofremos nas filas dos hospitais, preventivamente carregamos o dinheiro do ladrão, aturamos de tudo um pouco pra seguir em frente.
E vira e mexe vem alguém e esfrega na nossa cara o abuso, a arrogância, o desrespeito.
Perdemos a esperança, esta é a realidade, pq só isto explica o "costume".
Nós tb temos culpa, claro. Votamos, não? Jogamos lixo na rua, não? Andamos pelo acostamento, não? Erguemos o tom de voz e proferimos grosserias, não?
Elogiamos tanto o exterior, mas logo contamos de peito estufado como usamos o jeitinho brasileiro lá fora, pra nos dar bem.
Alguns anos atrás um comercial de cigarro popularizou a Lei de Gerson, ou seja, sempre nos darmos bem. Ela continua em vigência.
Reclamamos das enchentes, com razão, mas temos nossa cota na maneira de tratar o lixo. Reclamamos da violência mas apoiamos o uso dela como só quiséssemos ver o circo pegar fogo.
O que se vê de político sendo aplaudido quando evidentemente está jogando pra platéia diz muito sobre o que está por vir.
Descaradamente ludibriamos as regras pra ganhar um bolsa "esmola" qualquer, ou vai me dizer que vc não conhece ninguém que receba algum beneficio indevidamente?
E as tetas do governo só nutrem políticos? E o "exército" de pessoas que são sustentadas (por nós), apesar de maiores de idade, com casa própria, saúde boa e qualidade de vida acima da média? Vai me dizer tb que nunca observou qts em seu bairro sobrevivem sem trabalho conhecido e, ainda assim, mantendo um nível de vida bem acima do esperado?
Não é preciso de jornal pra saber dos problemas, basta olhar a sua volta, algumas vezes, basta olhar pra dentro de si.
E não tem idade, os jovens que são o futuro prometem tanto, não?
Observe, toda vez que vc está numa fila, haverá alguém reclamando de alguma coisa. Na maioria das vezes com razão, mas não dá pra elogiar as belezas naturais de nossa rica nação, que não temos desastres naturais, que somos um povo cordial, simpático, que todos amam, que temos cinco copas se esquecemos das mazelas do dia a dia.
Tb não dá pra só reclamar se na hora de mudar algo vc, resignado, repete o erro com o argumento que nada muda.
De vez em quando eu tenho orgulho, um respiro de esperança, pena que uma avalanche de realidade acaba me roubando a esperança. 

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Desconhecer...

Não sei se como defesa, mas costumamos "esvaziar" o outro de nossas vidas em algumas circunstâncias.
Uma boa maneira de nos proteger, de manter distância, de não assumir responsabilidade, de não lidar com consequências é transformar o outro num "desconhecido"...
É uma sensação estranha esta de parecer não ter passado, de ter uma memória que te parece exclusiva, como se tudo que viveu fosse um sonho.
De repente, o carinho é trocado por tratamento distante, os olhares se desviam, as palavras ficam burocráticas, isto quando ainda existem...
Nos transformamos em desconhecidos, aposto que vc já passou por isto.
É conveniente, claro. Resolve muitos problemas, ao menos pra quem pratica.
Se vc resolver tb adotar a mesma prática, todo mundo fica feliz e segue em frente, talvez até evoluam para amigos cordiais e, sem memória.
Já nos acostumamos a não tocar em certos assuntos, de evitar certos temas, esconder atitudes, etc... Somos artistas bem urdidos nisto de enganar, de evitar...
Mas é o supra sumo apagar uma vastidão de memória em nome do conforto de viver.
Pra começo de conversa, não entendo do que as pessoas tem tanto medo, parece que não restam caminhos pra felicidade que não sejam dolorosos.
Fazemos tantas escolhas confortáveis, vivemos tão bem com elas, nos enganamos e seguimos em frente mas, e o outro?
Somos tão cruéis assim que nosso egoísmo pode "apagar" sem levar em conta os estragos causados?
Vida que segue...
Tem hora que fico com a sensação que minha memória que é boa demais, pq não consigo esquecer... Vejo tanta gente esquecida, até me assusto. Será que o maior mal da humanidade seja a falta de memória afetiva?
Não sei, só sei que vamos sendo excluídos, colocados em nossos cantos, em pequenas prateleiras cerebrais... Até que os neurônios e encarreguem de fazer o caminho ficar esquecido...
Talvez sirva de desculpa que já fizeram isto com a gente, então, pq não?
Talvez eu que seja saudosista, goste de me prender aos belos momentos do passado... Não sei. Ou talvez deva aprender simplesmente a esquecer mas, sinceramente, não consigo.
É certo que as pessoas tem seus valores modificados pelo tempo, mas deveria ser um processo natural, não? Hoje, não há desgaste da peça pq ela simplesmente nem chega a ser usada, bem antes de qualquer risco, já foi, virou passado... Tão defensivos que nos tornamos...
Haja intuição, parece a piada antiga: Ao ver a casca de banana, exclamou: Ih, lá vou eu escorregar de novo...