quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Zona de Conforto.

É ao mesmo tempo interessante e preocupante observar como as pessoas escolhem viver em suas zonas de conforto.
Uma música do Ultraje a Rigor da década de 80, "Terceiro", já falava um pouco disto sobre a preocupação de não se chegar na frente, mas tb não chegar em último, vc fica numa posição que não atraia os holofotes, mas que tb não te considerem um derrotado. Simplesmente seu esforço é empregado pra ficar numa zona de conforto onde vc fique bem com todo mundo.
Mas zona de conforto não significa que tudo ficará bem, vc perderá muita coisa, lidará com outras, terá que aceitar algumas situações.
Vc não constrói sua "fortaleza", vc constrói algo que te dê as mínimas condições de satisfação.
Vc se torna adaptável às diversas situações, de tal maneira de que fica difícil identificar sua real natureza, suas opiniões são convenientes, vc segue conforme o bando.
Cito outra música da década de 80, desta vez do Kid Abelha, "Uniformes", que fala da nossa tendência de sermos aquilo que se espera, de andar em bandos, de perdermos nossa individualidade pra sermos aceitos.
Esta zona de conforto de que falo não existe conflito, em compensação ela tem seus atritos que são intermináveis, se vc não demarca seu território, deve aceitar lidar com os que frequentam livremente.
Se vc faz tudo que se espera de vc, tb fará coisas que não te agradam, tendo como compensação únicamente a aceitação e uma suposta diminuição dos atritos.
Vc passa a pagar "pedágio" pra ser "feliz".
No decorrer dos anos fica difícil saber qual é sua real identidade, quem são as pessoas valiosas em sua vida, que tipo de contribuição podem dar, vc se vê envolvidos em relacionamentos (casamentos) que não sabe como entrou e muito menos como sair, não tem o menor preparo pra lidar com os filhos que se tornam soberanos intragáveis, vc se torna especialista em conversas de fila de banco, sua discussão mais acalorada é sobre a novela do horário nobre.
Creio que todo mundo se pega pensando, ao menos uma vez, neste processo que nos leva a zona de conforto, não sei se em busca de saídas mas, quando se torna obsessiva esta busca, normalmente metemos os pés pelas mãos.
Vc olha a sua volta (tb pode olhar no espelho), e vc vê pessoas em seus empregos "seguros", cumprindo o básico, morando em suas casas que são retrato vivo da acomodação (Tv nova não significa ânimo por grandes feitos), querendo poder, mas fugindo da responsabilidade necessária, se relacionando com pessoas que "contribuem" sempre da mesma maneira com sua vida, com as quais não tem afinidades (costumeiramente vc fala mal delas pelas costas), participando de festas onde a bebida é o "remédio" capaz de proporcionar alguma animação (e, pra variar, vc vai falar mal quando chegar em casa e substanciará o rol de fofocas nos dias seguintes), vendo seus filhos crescendo sem que vc se veja neles, eles livres, leves, soltos e irresponsáveis, e vc achando que a culpa é da natureza que os fez assim, tão sem afeto por vc.
O reflexo disto vc vê por toda sociedade, cada vez mais representando um bando único, ouvindo as mesmas músicas, vendo os mesmos filmes, dando as mesmas opiniões. Em que mundo sem graça vivemos.
Com diz um conhecido, nos tornamos homens cachorro, basta dar ração e um teto e ficamos felizes balançando o rabinho.
Tudo pq tememos tomar decisões, fugimos delas. Não sabemos lidar com o confronto, mesmo que ele dure o tempo necessário pra se construir nossa fortaleza. Temos necessidade quase vital de sermos querido, mesmo que não haja o respeito como consequência.
Não temos mais a direção, somos passageiros e, pior, nem sabemos quem está no comando. Perdemos o olhar crítico, o apreço pelas pequenas coisas, o valor de uma boa e verdadeira amizade, o significado da família, o orgulho de realmente participar da vida dos filhos, mesmo sendo nas broncas que damos pra que não percam os rumos.

2 comentários:

Anônimo disse...

E o que você fez ou faz para sair da sua zona de conforto,ou mesmo atribuindo a postagem acima,a deixar de olhar pela lanterninha?
Teus textos obviamente são sentidos na pele isso está claro;é facto.
Se conseguiu melhorar isso conte-nos o segredo.
Com tantos conselhos assim você só pode ser um bom entendedor.Te acho triste e insatisfeito com a vida caro Eros,deixe de olhar as coisas pelo buraco da fechadura e não espere provas maiores da vida para que ela se mostre como é para você.Isto pode ser perigoso.
Lembre-se a vida gosta de você o tanto que você gosta dela.
Fique bem.

Um observador disse...

Meu caro anônimo (ou anônima),

Agradeço o comentários, todos serão bem vindos, mas sou um observador, deixo claro isto na apresentação do blog, como observador, nem tudo se vive na pele, muito se aprende só se observando.
Não sou triste e insatisfeito com a vida, ao contrário, acho-a estimulante, mas em muitas conversas ouço lamentos, reclamações, e são as observações e conversas que servem de fonta pra minhas postagens.
Gosto de imaginar o blog como um encontro de amigos, onde muito se conversa, se expõe idéias e reflexões, mas nem todas as reflexões são leves, fáceis de se digerir, ainda assim são necessárias.
Apareça sempre, puxe uma cadeira e contribua com suas boas idéias.