Aqueles de bom gosto...
Relatos de um observador e atento ouvinte. Conversas geram reflexão, reflexão gera aprendizado, aprendizado se dissemina.
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
terça-feira, 14 de agosto de 2012
Namorinho medieval.
Observando a evolução dos relacionamentos temos um vasto cardápio: casamentos arranjados, moedas de troca, formais, informais, misturados, coletivos, distante, próximos, humildes, ostentados, reais, virtuais, românticos, selvagens, tímidos, platônicos, etc...
A tendência evolutiva dos relacionamentos sempre foi de conquistas, de liberdade, de direitos iguais, caminhamos nesta direção, ao menos por tendência, com alguns recuos aqui e ali.
Quando observamos os relacionamentos atuais, e é uma atração fazê-lo, observamos dois grupos se destacando, um com larga predominância e outro ganhando força: os liberais e os formais.
Os liberais, nem preciso explicar, tem até trilha sonora sobre conquistas de baladas, sexo coletivo, misturado e tudo junto, encontros casuais, curtidas em redes sociais, etc...
O segundo grupo poderia até ter surgido em oposição mas...
O formalismo... Este formalismo desconcertante que remete a idade média, de ficar cheio de dedos, de escolher gestos e palavras, de parecer ao invés de ser, de cuidar de cada detalhe até o ponto que fica tudo tão artificial. Não os culpo, acho um esforço válido, mas parece que estamos desaprendendo a nos relacionar, estamos com medo de errar, da franqueza, de falharmos, etc...
Estamos seguindo uma cartilha intuitiva que tira nossa naturalidade, rígidos e pragmáticos, com o intuito de sermos "românticos", apaixonados...
Nada de rompantes de paixão, gestos eloquentes, estamos contidos, no fim, preocupados demais com as aparências, com o discurso, com a expectativa alheia.
Não é um grupo que se opõe ao outro, mas exercita uma variante mais cuidadosa, preocupados demais com o que querem parecer.
Curtir virou sinônimo de facebook, compartilhar idem... Dividimos mp3 com músicas de sucesso, encontramos afinidades em "currículos" sociais... É tão estranho...
Custamos tanto a podermos relaxar um com o outro, conversar, errar, brincar, discutir, amadurecer junto, experimentar a dois, vivenciar, rir de besteiras, ver nossos filmes, pensar, elaborar, cair, levantar... Custamos tanto a sermos naturais, se apaixonar, enrubescer (não emburrecer).
É chato isto...
Como conta uma querida amiga: ..te curti mais no facebook...
Depois se assustam com o nº de casamentos que não duram...
Brindemos com um bom coquetel de viagra a era das aparências...
Afinal, é tão broxante que seja assim...
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
Psiquê.
Psiquê, em grego, significa borboleta, e também alma, sopro de vida. A imortalidade da alma é assim ilustrada como a de uma borboleta, criando asas resplandecentes e libertando-se da prisão mortífera do casulo, depois de uma enfadonha e rastejante vida como lagarta, para voar no resplendor do dia e alimentar-se das mais perfumadas e delicadas produções da primavera.
Psiquê é, nessa visão, a alma humana, a qual é purificada pelos sofrimentos e desgraças, preparando-se, assim, para desfrutar de pura e verdadeira felicidade. |
quarta-feira, 8 de agosto de 2012
Isolamento social.
Sua cantora favorita é a Etta James e vc nunca ouviu falar de Lady Gaga? Vc ama de paixão "A viagem de Chihiro" e mal se lembra do primeiro Shrek? Vc conhece de cor e salteado as letras do Chico e tem convulsões quando ouve Restart? Vc vê NatGeo e imagina que Avenida Brasil seja só o nome de uma via importante? Vc acompanha a carreira acendente de um ator francês e não tem a menor noção de quem seja Hannah Montana? Vc comenta que está ouvindo Bethoveen e alguém pergunta se é aquele imenso São Bernardo? Bem vindo, vc faz parte dos isolados sociais.
Aqueles que ficam sem assunto em rodinhas, aqueles que não cotnribuem com as discussões acaloradas sobre o BBB, os que não ouvem proibidão ou sertanejo universitário no carro, os que se deprimem quando vão a festinhas regadas a Tche lê lê lês...
Mundinho difícil este... .
Claro que não precisamos de alguns extremos, não precisamos ir tão longe para nos sentirmos isolados. Os olhares andam muito curtos, o descartável predomina.
Eu coloquei algumas músicas aqui no blog, se vc reconheceu a maioria, a chance é imensa de vc ser mais um entre os isolados sociais.
Eis a questão, até o que já foi popular vai se tornando restrito.
Nossa composição cultural é ampla, é natural que veja um blockbuster, que conheça o ator do momento, que já tenha cantarolado um desses sucessos pegajosos, mas seu universo dá uma reviravolta quando vc sobe uma escala, quando vc entra no campo do "desconhecido" popular. Como diz a gíria, é tenso.
Vc é um guerreiro, o último dos moicanos, não que vc represente toda uma cultura, vc representa e luta por sua cultura, pelas coisas que gosta e acredita, pq o mundo conspira para te tirar a individualidade, o gosto pessoal, o prazer de ter opinião.
Dramático? Até pode ser, mas é como ver o mar subindo, vc naquela ilhota sem coqueiro para subir, vc sabe o final da história... Existem poucas bóias disponíveis... O mundo está acabando, culturalmente.
E com trilha sonora:
Tchê tcherere tchê tchê,
Tcherere tchê tchê,
Tcherere tchê tchê,
Tchereretchê
Tchê, tchê, tchê,
Tcherere tchê tchê,
Tcherere tchê tchê,
Tchereretchê
Tchê, tchê, tchê,
Decorou?
Mas, se quiser um hino para te inspirar a continuar lutando, que tal:
Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores
Geraldo Vandré
Geraldo Vandré
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição:
De morrer pela pátria
E viver sem razão
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição:
De morrer pela pátria
E viver sem razão
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Cantarolou enquanto lia?
Parabéns... Vc não cantarolou sozinho... Sempre haverá chance de vc encontrar outros como vc.
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
Se perder...
Vivemos sob conceitos, coisas que entendemos e aceitamos. Enquanto tudo está da maneira esperada, ótimo, mas quando algo novo surge, quando lidamos com uma situação desconhecida e não sabemos bem o que fazer, nós nos perdemos?
A idéia é de que sejamos capazes de lidar com tudo, ao menos com a maioria das coisas, e nos preparamos pra isto.
Mas quando as coisas ficam confusas, quando aparentemente não damos conta ou, como costumo dizer, não conseguimos lidar, estamos perdidos?
Bom, cada caso é um caso... Simples assim.
Primeiro, devemos partir do pressuposto que nosso "mundo" conhecido é limitado, ou seja, nos preparamos para aquilo que sabemos ou imaginamos saber. Em tese, dentro destas condições, estamos no controle.
O novo nos tira momentâneamente o controle, mas não chega a significar que estamos perdido, ao menos ainda não.
O novo precisa ser absorvido, compreendido para finalmente lidarmos.
De certa maneira, somos sugados para dentro do novo, uma força nos puxa. Quando intencional consultamos nossos "guias" de viagem para nos prepararmos.
Apreender o novo costuma ser assustador em suas várias formas, lembra dos tempos que começou a andar de bicicleta sem rodinha? Alguém ia segurando a bicicleta por trás até que sem vc perceber, soltava... Ao se dar conta que estava livre, vinha o medo, o susto... Mas, lidamos e saimos pedalando.
Quem segura a bicicleta nos conduzindo sabe o que vai acontecer, confia na sua capacidade de lidar e estará ali, ao seu lado, para as eventualidades.
Dificilmente vc estará sozinho(a), haverá sempre alguém para te dar a mão, alguém que já passou por isto, alguém que quer compartilhar, um companheiro de viagem, alguém que já é parte do novo... Vc pode optar por fazer isto sozinho, observando aqui e ali, ouvindo o que se tem a dizer, metendo a cara, etc...
Mas ainda assim, não estará perdido.
O novo amplia nossos horizontes, nos revela novas habilidades, novas emoções... O novo enriquece a vida, normalmente não só a sua. Pode ser muito intenso, assustador, mas vale a pena.
Mas estará perdido(a)?
Ainda não... Pode levar tempo, vai usar os recursos que tem, mas logo vc se encontrará, terá o controle de sua viagem, estabelecerá sua nova verdade.
O novo pode contradizer tudo que antes vc sabia, pode confrontar suas convicções, pode botar abaixo seu castelinho construído no decorrer de anos, mas isto não é uma desconstrução e sim uma ampliação do que vc é. Ganhar uma fazenda pode te fazer parecer um estranho ali, mas logo ela terá sua cara, seu jeito. Não estará perdido(a).
Então, o que é se perder?
Talvez o se perder nada mais seja do que o não lidar. Ficar amuadinho no seu canto vendo as paredes de seu pequeno espaço indo abaixo e nada fazer. Olhando o quanto se oferece para vc que nem sequer estende os braços pra sentir. No final das contas, o se perder é um ato indívidual, uma opção, uma anulação, uma ausência.
A outra maneira de se perder é esquecer de vc, de seus valores, do que vc é. Neste caso, se reencontrar, descobrir suas verdades, as esquecidas, é assustador, representa uma outra versão do novo. Levante-se e descubra-se ali.
Somos feitos de acertos e erros, se reerguer e seguir em frente, de ir aprendendo conforme caminhamos, de saber ouvir, de saber observar, de saber segurar a mão estendida... Somos mais bem sucedidos conforme nossa capacidade de compartilhar, das diversas maneiras possíveis, o simples compartilhar.
Não existe fuga quando simplesmente damos dois passos para trás para compreender a grandeza do novo, é como se afastar da montanha para ter sua real dimensão e buscar seus melhores caminhos, o se perder envolve simplesmente virar de costas...
Mas uma coisa é certa, o novo só vale a pena quando é feito para vc e por vc. O novo é a extensão de sua "propriedade", mesmo que compartilhada, sempre será seu ganho, te pertencerá, será sua recompensa.
sexta-feira, 3 de agosto de 2012
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
O Medo.
Eita coisinha assustadora. Estudar e observar o medo deveria virar ciência com curso e diploma de nível superior.
Somos assombrados por coisas que podem ser insignificantes, mínusculas até. Por coisas com alguma lógica ou totalmente inexplicáveis. Temos medo de ter medo. O tamanho do problema até muda, mas os resultados costumam ser os mesmos. Ou seja, podemos ficar congelados diante de uma barata ou por uma violenta turbulência de avião.
Claro que o medo tem sua utilidade, nos torna prudentes, seria perfeito se fosse assim, mas estamos nos tornando uma espécie que nem chega ao ponto da prudência, desiste bem antes de ter elaborado qualquer plano de como lidar.
Óbviamente o medo não costuma ser racional, mas é impressionante como tem formas e tamanhos diversos, como surge em situações onde menos esperamos, alguns tem nomes de fobias, mas outros...
Temos medo até do que é bom.
O medo é perfeito para criar bons filmes, livros... O medo prende o espectador no sofá (mesmo considerando os pulos de susto), o medo é engrenagem fundamental em novelas de sucesso, medo te prende em relacionamentos, em casa, na rotina, no trabalho, na aparência que tem, na roupa que veste, na vida que leva.
Mas será que se justifica?
Algumas postagens abaixo postei um vídeo do Beto Guedes cantando o medo de amar... Como assim? Pois é... Até isto acontece.
O que existe de tão assombroso no amar que possa despertar medo?
A pergunta é basicamente esta, adaptada as várias faces do medo: "O que existe de tão..."
Eu até compreendo boa parte das razões do medo, como eu disse acima, faz parte do processo do existir, de lidar com o mundo, de se precaver. Eu, por exemplo, tenho medo dos excessivamente corajosos...
Mas e quando vc tem tudo pra te sustentar, todo apoio necessário, condições estáveis, o compartilhar que sempre sonhou e ainda assim, se abandona?
Existe uma expressão que cabe: "larga de mão..."
A felicidade, todos sabem, é conquistada, costumeiramente à duras penas, o medo, consequentemente, te impedirá de ser feliz. Faz sentido?
Voltando à um velho texto que postei aqui no blog, de sermos compostos de blocos, alguns bem encaixados, outros nem tantos, uns bem resolvidos, outros nem tanto... O medo está ali, entre os blocos, por vezes o medo tem seus próprios blocos na composição final.
Vc pode ser corajoso, ousado na maior parte das vezes, mas é onde o medo aparece que torna tudo extraordinário.
Revivendo o textos do passado, tb já disse aqui que todos enfrentamos problemas iguais, o que nos torna diferente é como lidamos com eles. Hummm... Nas entrelinhas, o medo de novo.
O medo cria a cerca, ergue o muro, fecha as portas... Logo somos nós atrás das grades, reféns de nosso medo.
Não significa que não devemos ter medo, ao contrário, mas a graça está em saber lidar, saber encontrar saídas, saber driblar... Este é o real desafio da vida.
Muitos dirão que devemos viver com responsabilidade. Sim, eu assino embaixo. Mas quem disse que devemos usar esta capa para justificar nossa covardia?
O medo está em todo lugar, está nas entrelinhas de um texto, está nos recantos da alma, está contido no gesto (contido), na máscara que se usa, no sonho não sonhado, na acomodação da escolha, no pasto seguro...
O que assusta no medo é como ele toma as almas mais fortes, mais vigorosas, mais capazes, mais resolutas. Ou seja, como ele rouba a luz destas almas.
Confesso que muito de minha desesperança vem dai, de ver luzes se apagando, se perdendo.
A luz precisa ter nem que seja uma razão egoísta pra viver, precisa do sonho, do desejo, da coragem, precisa se fortalecer tb nas pequenas coisas, assim como faz o medo. Até o momento que serão tantas as razões pra luz brilhar mais forte, que não sobre sombra pro medo se esconder.
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