terça-feira, 10 de julho de 2007

Personagens e roteiros.

Quando eu era criança via a minha mãe fascinada por atores, cantores e qualquer personalidade de momento.
Via ela grudada na tv vendo as novelas, naqueles tempos bem melhores do que as de hoje, e angustiada pelo capítulo seguinte.
Minha mãe tão jovem transportava pro seu dia a dia as expectativas grandiosas dos personagens de novela.
Assim como um adolescente se vê como o último grande herói (na minha geração a gente queria ser o último grande gênio das palavras), minha mãe queria ter a vida das mocinhas de novela.
Grandes amores, superação, demonstrações enlouquecidas de paixão, beijos intermináveis, sofrimento, lágrimas até o capítulo final onde todas as nuvens sumiam, onde todos os problemas se resolviam, os vilões perdiam e as mocinhas eram felizes para sempre.
Fui crescendo e percebendo que todos nós precisamos um pouco disso, queremos algo de grandioso pra nossas vidas, queremos um roteiro perfeito.
Como nem sempre é possível, tornamos possível, só que nem sempre da maneira certa.
Logo estamos escolhendo a dedo os personagens, aqueles que se permitirão manipular, escolhendo os cenários, os mais seguros possíveis, e criando os roteiros, os mais emocionantes possíveis.
Muitas vezes fazemos isso sem perceber, eis a grande maravilha da engenharia mental.
De repente estamos vivendo a vida que "sonhamos", fazendo coisas que acreditamos perfeitas e que dão sentido a vida. Pelo menos é no que acreditamos.
Só que de repente os personagens que pensamos poder manipular ganham vida própria, percebemos que se deixaram manipular para eles sim alcançarem seus objetivos.
Os cenários antes tão seguros estão cheios de aberturas nos expondo a riscos impensáveis.
E os roteiros não previam o desastre.
Nem sempre estamos no comando como pensamos e, surpreendentemente, nem sempre estamos ao sabor da maré como acreditamos.
Nos roteiros da vida, todos somos roteiristas, ninguém se presta a nenhum papel se não acreditar que pode mudar o roteiro ou se não acreditar que o roteiro é dele.
Ontem, conversando com uma amiga, isso ficou tão claro, tão assustadoramente claro.
Havia um roteiro, nele havia uma entrega, um personagem forte, heróico, uma mocinha romântica, frágil, precisando ser conduzida, um dia alguns fatores conspiram pra tornar real o roteiro e a autora se entrega, para funcionar bem era preciso se acreditar no papel da conduzida, ela sabia de antemão cada passo do heróico personagem, afinal, ao ator escolhido cabia como uma luva.
A história se desenrola perfeita, linda, cada ação vai dando a nossa mocinha a percepção de que a vida vale a pena, finalmente faz sentido viver.
A entrega é tanta que já não existem mais riscos, perigos, os passos são dados sem medo, é tanta excitação que não se percebe que o roteiro lhe foge as mãos, que o heróico personagem ganha vida própria.
Até que um dia a mocinha conclui que o roteiro dela não era compatível com o roteiro dele.
Tudo no roteiro se deu por obra e graça da mocinha, essa sim conduziu, insinuou, induziu. Mas não sabia que era interessante para o heróico personagem os caminhos que o roteiro seguia, que ele deu vida convincente ao personagem a ele destinado, e percebendo que podia mais, vou tomando para si o roteiro, se aproveitando do êxtase da mocinha.
E agora mocinha, o que fazer? Não sei o que é pior, errar ou tentar consertar.
Por que é sempre assim? Erramos de maneira devastadora, ao invés de aceitar o erro e aprender com ele, vamos em busca de tentar conserta-lo, e ai o que já era ruim piora.
De todos os erros que você cometeu, já pensou que os piores estavam na tentativa de consertá-los?
É assustador a espiral do erro. Um caminho que entramos, uma escolha que fazemos, e logo estamos descendo sem controle por uma sequência infindável de erros.
Como eu já disse aqui:
A felicidade está na realidade.

3 comentários:

Menina Mulher disse...

Vou copiar seu texto, vou por no meu blog. Obrigada por descrever tão bem a minha hitória que eu reluto pra entender. Um beijo

Anônimo disse...

Adoro o q diz e da forma com q diz...Sabes q ando num momento especial q fico tentando me encaixar nos seus textos.
Mas, falando de erros... errar é inevitável, claro q aprendemos com eles. Muitas vezes a intenção ñ é de errar,mas de contornar uma situação, um momento ou, de viver do jeito q é possível. Eita vida complicada!!!
Beijos.

Anônimo disse...

É tão dificíl não aderir a mentira. Ela nos ampara, protege, anima, é o que há de mais irresistível e acessível.
Não quero dizer que a verdade é doloroza porque não acredito nisso, a verdade pede decisões, é direta, objetiva e precisa.
As mentiras são elaboradas, complicadas, cheias de caminhos, de interpretações...então porque diabos precisamos desses esconderijos??? Só para viver mascaradamente o que não temos coragem de assumir na vida real.
Gastamos tanta energia tentando mentir para o mundo e para nós mesmos que nos esquecemos que a verdade é o único terreno real para constrir algo, a mentira nada mais é como um sonho bom, por mais que seja deliciosa...uma hora você acorda e vê o vazio de tudo que criou. E a gente insiste, insiste, insiste . Começo a desconfiar que mentir é um instito humano.