terça-feira, 10 de julho de 2007

Belo coração.

Um dia um jovem homem posicionou-se no centro duma aldeia e proclamou bem alto que possuía o coração mais belo de toda a região.
Aproximou-se uma grande multidão que o rodeou e todos viram e confirmaram que o seu coração era perfeito, pois não se viam nele quaisquer manchas ou riscos. Sim, todos foram unânimes em considerar
aquele coração como o mais belo coração jamais visto.
Ao ver-se admirado o jovem sentiu-se ainda mais orgulhoso, e ainda com mais convicção assegurou ter o mais belo coração daquela vasta região.
Foi então que se aproximou um ancião e lhe perguntou:
— Porque afirmas isso, se o teu coração nem se aproxima da beleza do meu?
Surpreendidos, a multidão e o jovem, olharam para o coração do velho e viram que batia fortemente, mas estava cheio de cicatrizes e nalguns
lugares faltavam pedaços que haviam sido substituídos por outros que não encaixavam bem.
Viam-se rebordos e arestas irregulares e isso era prova evidente de encaixes frustrados. E também se podiam ver algumas ausências onde falhavam pedaços consideráveis.
Os olhares das pessoas baixaram para o chão, enquanto iam perguntando-se:
— Como pode o velho afirmar que o seu coração é o mais belo?
Por sua vez, também o jovem analisou o coração do velho, mas ao vê-lo naquele estado mal-arremendado partiu-se a rir. Por fim disse:
— Deves estar a brincar conosco. Compara o teu coração com o meu... O meu é perfeito! E o teu é um conjunto de cicatrizes e de dor.
— É verdade, respondeu o velho, o teu coração tem um brilho perfeito; porém, eu jamais me relacionaria contigo.
Olha para o meu: cada cicatriz representa uma pessoa a quem ofereci o meu amor. Arranquei pedaços do meu coração para os oferecer a quem amei. Muitos outros, por sua vez, obsequiaram-me com um pedaço do seu e os coloquei no buraco que fora aberto. Como os pedaços não eram iguais ficaram uns restos e umas pontas que me dão muita alegria, pois me recordam o amor partilhado.
Nalgumas alturas ofereci pedaços do meu coração a algumas pessoas, que não me retribuíram o seu: foi por isso que ficaram algumas falhas. Oferecer amor é um risco, mas apesar da dor que essas feridas me provocam por terem ficado abertas, recordam-me que os continuo a amar e assim alimento a esperança de um dia conseguir preencher o vazio que deixaram no meu coração.
Compreendes agora o que é verdadeiramente belo?
O jovem continuava em silêncio enquanto as lágrimas escorria pela face. Depois aproximou-se do ancião, arrancou um pedaço do seu belo coração e ofereceu-lho. O ancião aceitou-o e colocou-o no seu coração, depois, por sua vez, arrancou um pedaço do seu velho e maltratado coração e com ele tapou a ferida aberta do jovem.
O pedaço colou-se ao novo coração, mas não na perfeição. Ficaram a ver-se uns rebordos nada estéticos. O jovem olhou o seu coração que já não era perfeito. Porém, era mais bonito que antes pois nele fluia agora sangue daquele velho.

3 comentários:

Menina Mulher disse...

Eu dizia sobre essa mesma história.

E sobre, "A felicidade esta na realidade" eu vou viver a realidade pra saber se algum dia fui feliz nas minhas fantasias.
Histórias cabulosas ou não contarei, mas agora sem olhos vendados, e precavida de um mestre que se rende a essa pequena e frágil mocinha.
Boa noite!

Psique disse...

Que conto lindo!
Pelo menos agora sei pq meu coração parece uma colcha de retalhos...
;)

Um observador disse...

Psique,

Adoro vc mocinha, é sempre um desafio conversar contigo, um prazer extraordinário.
Seu comentário agora tem tantas entrelinhas...

:)